Poster do filme "O Aprendiz"
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O Aprendiz

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

O Aprendiz é uma aposta inusitada. Afinal, se trata de uma cinebiografia nada bajuladora sobre o atual presidente dos Estados Unidos. A direção é do diretor iraniano Ali Abbasi, que se tornou conhecido por dois filmes bem diferentes deste (Border [2018] e Holy Spider [2022]). Mas, conta a favor dessa produção que Donald Trump ainda não tinha se reeleito quando o filme foi escrito e filmado (portanto, não pode ser acusado de oportunista), e que este é, de longe, o melhor longa do cineasta.

De qualquer forma, a reeleição despertou um interesse adicional a O Aprendiz. O título remete ao programa de reality show que Trump apresentava na televisão no qual executivos disputavam uma vaga em sua empresa. Mas, no enredo do filme, refere-se ao processo de aprendizado que o jovem e inexperiente Donald J. Trump recebeu de seu mentor Roy Cohn, um advogado impiedoso sem limites éticos. Para ganhar uma causa, valia tudo para Cohn, inclusive chantagem pessoal. No início dos anos 1970, quando começa a trama, Trump era apenas o sucessor dos negócios imobiliários do seu pai. Era um duro cobrador de aluguéis atrasados, mas isso era fichinha comparado ao que se tornou após absorver as lições de Cohn.

A criatura supera o criador

O filme já começa provocador. Em off, ouve-se um discurso de autodefesa que parece vir da boca de Trump. Mas, logo a imagem aparece e revela que é Richard Nixon falando, o único presidente americano a renunciar ao cargo, por estar envolvido no Caso Watergate. Esse tom de crítica não muito sutil continua por todo o restante do longa.

Segundo a trama, Roy Cohn moldou Donald Trump. São do mentor as suas crenças como “nunca admita uma derrota” (que Trump colocou em prática ao não ser reeleito ao fim de seu primeiro mandato presidencial), e outras regras que ele depois assume como sendo de sua autoria.  

Mas, a criatura superou o criador. Conforme o poder de Trump cresce (principalmente na era Regan), mais ele consome anfetaminas. Chega a um ponto que parece que ele deixa de ser humano. Trata mal a esposa Ivana (o estupro é chocante), tenta ludibriar a própria família, e ignora Cohn quando ele mais precisa de ajuda (a comemoração de aniversário é tão sombria que beira o macabro).

Sátira

Acima de tudo, predomina a comédia satírica, terreno pouco, ou talvez nunca, visitado por Ali Abbasi. Mas, que se adequa ao seu estilo desleixado, que retira o glamour desse biografado que enriqueceu construindo imóveis de luxo. Mesmo pisando em halls de mármore, Trump continua aparentando ser uma pessoa tosca, sem modos. A própria escolha de Maria Bakalova para interpretar Ivana Trump contribui para isso, aproximando O Aprendiz do humor escrachado de Borat: Fita de Cinema Seguinte (2020), de Jason Woliner. Em vários momentos, a câmera foca na reação do personagem que está no fundo do quadro, geralmente constrangido, efeito muito empregado na série Vida de Escritório (The Office), em sua versão americana.

Por outro lado, a interpretação de Sebastian Stan é cirúrgica. Mesmo imitando Donald Trump, principalmente nos trejeitos com a sua boca, o retrato fica longe de uma caricatura, o que desviaria a ideia da construção de um monstro perigoso, que é o que Roy Cohn fez sem se dar conta do erro até ser tarde demais. Tudo em nome da democracia e da América, como aponta o filme, cinicamente.

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Ficha técnica:

O Aprendiz | The Apprentice | 2024 | 122 min. | Canadá, Dinamarca, Irlanda | Direção: Ali Abbasi | Roteiro: Gabriel Sherman | Elenco: Sebastian Stan, Jeremy Strong, Maria Bakalova, Martin Donovan, Catherine McNally, Charlie Carrick, Ben Sullivan.

Distribuição: Diamond Films.

Trailer:

Onde assistir:
Cena do filme "O Aprendiz"
Cena do filme "O Aprendiz"
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