O Banquete traz um recorte da elite da sociedade brasileira na época do presidente Fernando Collor.
Um seleto grupo se reúne para um refinado jantar. O pretexto da anfitriã é comemorar o aniversário de casamento do editor de uma influente revista e sua esposa, que é uma famosa atriz.
Adicionalmente, o anfitrião é advogado do editor, além de um velho amigo. Completa o grupo uma ex-namorada do editor. Ela chega acompanhada de seu amigo, um colunista gay. Mais tarde, ao jantar se juntam a assistente da atriz e uma stripper. À parte, se encontra no local o jovem empregado do bufê, encarregado de servir os comes e bebes.
Conflito principal
O conflito principal que influencia o tom da noite é a iminente prisão do editor, por publicar acusações ao presidente Collor. Abatido, ele não compartilha a confiança de seu advogado embriagado, que apregoa que o mandado de prisão não será expedido.
Desde o início, há uma animosidade geral dos convidados. Quanto mais depravado o comentário, mais eles se divertem. Como um deles cita, as frases contêm teor gráfico, no sentido de serem explícitas. Mas, além das palavras, alguns convidados se olham e se tocam libidinosamente. Enquanto isso, o colunista tenta seduzir o jovem garçom.
Em paralelo, tal qual na belle époque parisiense, a essa depravação se junta o intelectualismo, aqui, pedante. Assim, trocam citações de escritores e expõem suas impressões afetadas sobre a situação do país e sobre arte, em especial ao teatro, métier de um dos presentes.
Nesse sentido, os visitantes tardios servem de contraponto. A stripper chega vestida de mulher-gato com seus comentários francos típicos de uma garota inexperiente em um terreno desconhecido. Já a assistente da atriz tenta se impor falando alto e agressivamente bordões chulos. Porém, ao invés de respeito, os demais a veem como uma figura exótica de uma classe inferior. Debaixo desse teto, somente o empregado do bufê demonstra um comportamento refinado.
“O Banquete” e “Domingo”
Aliás, sob certo aspecto, O Banquete dialoga com Domingo, filme de Clara Linhart e Fellipe Barbosa lançado no mesmo ano. São diferentes porque este último possui uma verve mais voltada para a crítica social. Mas, juntos, traçam uma visão específica de classes privilegiadas em dois períodos cruciais da recente história brasileira. Neste filme de Daniela Thomas, sentimos o clima do mandato do primeiro presidente eleito no Brasil após a ditadura. E, no de Clara e Fellipe, sentimos o ambiente esperançoso por conta da posse do primeiro presidente vindo das classes mais baixas. Em ambos, a classe privilegiada, seja a aristocracia ou a classe média alta, estão moralmente falidas.
Ficha técnica:
O Banquete (2018) 104 min. Brasil. Dir/Ro: Daniela Thomas. Elenco: Drica Moraes, Mariana Lima, Caco Ciocler, Rodrigo Bolzan, Fabiana Gugli, Gustavo Machado, Chay Suede, Bruna Linzmeyer, Georgette Fadel.
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