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O Brutalista

Avaliação:
7,5/10

7,5/10

Crítica | Ficha técnica

O Brutalista conta a história fictícia de um arquiteto húngaro chamado László Tóth. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foge do trem que o levava a um campo de concentração e emigra sozinho para os Estados Unidos, sem poder levar junto a sua esposa Erzsébet e a sua sobrinha Zsófia. Dirigido por Brad Corbet, o filme concorre a 10 Oscars, incluindo os de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original, melhor ator, e melhor ator e atriz coadjuvantes. 

O longa possui proporções épicas,  não só na produção grandiosa e na duração exaustiva (3 horas e 34 minutos, com direito a intervalo nas sessões nos cinemas), como também na narrativa que cobre vários anos da sofrida vida do protagonista. Lembrando O Poderoso Chefão (The Godfather), o épico em três filmes de Francis Ford Coppola, a obra traz a crítica ao capitalismo selvagem dos Estados Unidos como um dos seus temas fundamentais. É o sonho americano exposto em suas entranhas mais cruéis. 

O personagem László Tóth se inspira na carreira de dois arquitetos húngaros do século 20, Ernö Goldfinger e Marcel Breuer. Mas, a vida pessoal do protagonista do filme está repleta de eventos terríveis criados para construir o melodrama. Sem entrar em todos detalhes da trama, Tóth se aloca na Fildadélfia em 1947, onde seu primo Attila o acolhe e o emprega em sua loja de móveis. Após um descontentamento inicial com um projeto, o cliente Harrison Lee Van Buren resolve contratar Tóth para um ambicioso complexo comunitário em sua extensa propriedade. O complicado processo dessa construção toma parte do restante do filme, junto com a chegada de Erzsébet e Zsófia aos Estados Unidos. 

Sonho e pesadelo americano 

O sonho americano estimula esses imigrantes a almejarem pelo sucesso. O primo Attila simboliza o efeito ruim dessa ambição. Oriundo da Hungria, ele assume uma aparência americana. Adota um nome inglês, casa-se com uma mulher estadunidense e abraça o lema de subir na vida a qualquer custo. Assim, quando Harry Lee se recusa a pagar pela biblioteca que Tóth construiu para o seu pai, Attila o demite imediatamente. Na verdade, essa decisão foi movida também pela falsa acusação da esposa contra Tóth. 

Por sua vez, Tóth recomeça a sua vida nos Estados Unidos. Arquiteto respeitado na Hungria, ele vai ao fundo do poço após ser demitido pelo primo. Precisa mendigar, dormir em abrigos e aceitar trabalhos malpagos. Acaba viciado nas drogas, fantasma que o atormentará durante vários anos. Por esse motivo, apesar de ser talentoso, vira um fantoche de Van Buren, que usa e abusa dele de todas as piores formas possíveis (uma delas terrivelmente chocante). A força que tenta mantê-lo na linha vem da esposa Erzsébet, cuja fragilidade física devido a uma doença não a impede de ter uma determinação única. 

Harrison Lee Van Buren, por sua vez, personifica o capitalista vazio, cujo sucesso financeiro não é acompanhado pelo crescimento cultural ou humano. Personagem dúbio, sua fraqueza intrínseca o impede de ser uma pessoa boa nos momentos difíceis. No fundo, ele financia os projetos de Tóth porque quer aproveitar o talento dele para mascarar a sua ausência de cultura. Por exemplo, a biblioteca que ele odiou de início, se torna seu orgulho quando uma revista publica um artigo valorizando-o como exemplo de modernismo. É com essa motivação superficial que ele inicia o megaprojeto da instalação comunitária em suas terras. 

De fato, na família Van Buren, só se salva mesmo a filha Maggie Lee, sempre bondosa com os outros, mesmo quando Erzsébet acusa o pai na frente de todos. O seu irmão, porém, é ainda pior do que o pai, tendo nascido em berço de ouro e portando-se como tivesse conquistado algo por si só alguma vez em sua vida. E, dentro do círculo dos Van Buren, os judeus são os únicos que ajudam de fato a Tóth, ao usar seus contatos para trazer a esposa e a sobrinha aos Estados Unidos. 

Direção e elenco 

O ex-ator Brad Corbet mostra sua evolução como diretor a cada filme que realiza. Há uma nítida evolução de A Infância de um Líder (The Childhood of a Leader, 2015) para Vox Lux (2018), e deste para O Brutalista. Como se trata de um filme sobre um arquiteto, Corbet se preocupa em valorizar essa disciplina, planejando sempre o espaço dentro dos enquadramentos. Utiliza-se, para isso, de paisagens urbanas, na maior parte, mas também das locações na natureza. Como exemplo, o belo trecho no qual Van Buren sobe com seus convidados o monte onde pretende construir seu grande projeto, filmado de longe, com as pessoas em silhuetas apequenadas. A fotografia de Lol Crawley (que também recebeu indicação ao Oscar) é deslumbrante em todo o filme, constrastando os altos (claros) e baixos (escuros) da vida de Tóth – o mais sombrio deles acontece num túnel pouco iluminado.  

O elenco também se destaca. Como Tóth, Adrien Brody novamente dá show encarnando personagens perturbados e sofridos (como no papel que lhe rendeu o Oscar por O Pianista [The Pianist, 2002]). Já Felicity Jones está estupenda na interpretação mais desafiadora de sua carreira, como Erzsébet. E Guy Pearce consegue a proeza de expressar a dubiedade de Harrison Lee Van Buren. Todos esses três concorrem ao Oscar e têm boas chances de ganhar. Além deles, Brad Corbet enriquece seu elenco com sua atriz-fetiche Stacy Martin (como Maggie Lee), que esteve em todos os seus três longas, e com Raffey Cassidy (como a sobrinha Szófia), atriz presente em Vox Luz

Por fim, a duração extenuante de três horas e meia se adequa à sensação que o filme pretende transmitir. O espectador parece se aproximar dessa vida sofrida do protagonista, uma existência longa e com sucessos, mas aqui concentrada nos seus mais difíceis anos. O tempo, assim alongado por conta de cenas de extensos diálogos e trechos contemplativos, permite a reflexão, durante o filme, da metáfora possível em relação ao capitalismo selvagem americano.  Mas, sem dúvida, é uma experiência exaustiva.

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Ficha técnica:

O Brutalista | The Brutalist | 2024 | 3h34 min. | EUA, Reino Unido, Canadá | Direção: Brady Corbet | Roteiro: Brady Corbet, Mona Fastvold | Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Isaach De Bankolé, Alessandro Nivola, Ariane Labed, Michael Epp, Emma Laird.

Distribuição: Universal Pictures.

Trailer:

Onde assistir:
Adrien Brody em "O Brutalista"
Adrien Brody em "O Brutalista"
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