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O Céu de Suely (filme)
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O Céu de Suely

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

Crítica | Ficha técnica

Após elogiada estreia com Madame Satã (2002), o diretor Karim Aïnouz confirma seu talento em O Céu de Suely (2006). O cenário é completamente diferente; aliás, o Rio de Janeiro do primeiro filme representa o destino que não deu certo para a protagonista do segundo. Hermila retorna da capital fluminense para sua cidade natal Iguatu, no Ceará, com um filho no colo, mas sem o marido que diz que a encontrará em trinta dias. Como o sonho da cidade grande não vingou, o jeito é o casal retornar de onde vieram para vender CDs piratas na praça.

Mas, nem isso Hermila consegue, pois o marido nunca retorna. Então, após dançar num boteco e atrair um pretendente, ela tem a ideia de vender uma rifa mais cobiçada do que a garrafa de whisky que coloca como prêmio. A moça rifará seu corpo para uma “noite no paraíso”, eufemismo que ela usa para vender o seu sexo. Com esse dinheiro da rifa, ela poderá comprar a passagem de ônibus para um novo sonho, desta vez seguindo para Curitiba.

A comunidade cai em cima dela, chama-a de puta, mas ela quer exercer o direito de ter autonomia sobre seu corpo; sem que o filme caia na armadilha de levantar bandeiras do empoderamento feminino. Aliás, o diretor Aïnouz habilmente comunica as mensagens de sua narrativa sem exposição apelativa. Assim, o espectador deduz por si próprio o momento em que a protagonista decide rifar seu sexo, e a sua luta por fazer isso acontecer.

Coerência

Da mesma forma, entendemos que o amor que ela sentiu pelo marido não passou de ilusão. Mais precisamente, não era real, como depreendemos das imagens com granulação extrema que retratam o flashback daquela época de falsas expectativas. É assim, também, através de uma montagem com pillow shots que Aïnouz nos conta, tacitamente, que certo tempo decorreu e assentou a discussão entre Hermila e sua avó.  

Há coerência entre o estilo de filmar de Aïnouz e a construção da personagem principal. O diretor filma quase sempre com planos fixos, clássicos, sem inventar moda. Movimenta, porém, a câmera quando necessário; por exemplo, acompanhando Hermila e seu ficante que caminham durante uma discussão tensa.

E a protagonista, igualmente, se veste de forma simples, como todas as demais mulheres da região; se fosse diferente, ela perderia a universalidade regional que é crucial para essa história. Ou seja, é uma mulher comum que resolve vender seu sexo apenas uma vez; se fosse uma beldade deslumbrante, a narrativa perderia sua essência.

Além disso, não se faz necessário que a protagonista expresse seus sentimentos e pensamentos através de solilóquios. No máximo, em conversa com a tia ou com seu paquera, mas a compreendemos principalmente através de seus atos. Por exemplo, na noite em que se entrega para o vencedor da rifa, o filme não mostra uma cena de sexo onde há emoção envolvida (esta vimos antes com o tal paquera); pelo contrário, Hermila está lá apenas para entregar o produto prometido.

Planejamento

Todos os detalhes parecem previamente pensados. Não há planos de improviso, nem falas improvisadas. Ou, se há, estão no filme porque não traem a narrativa original. E essa objetividade se encaixa com a personagem principal, que planeja e executa sua estratégia para vender “uma noite no paraíso”, ou o “céu de Suely” (pseudônimo seu para essa empreitada), para que ela própria, Hermila, possa novamente buscar um novo sonho.

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Ficha técnica:

O Céu de Suely | 2006 | Brasil | 90 min | Direção: Karim Aïnouz | Roteiro: Karim Aïnouz, Felipe Bragança, Mauricio Zacharias | Elenco: Hermila Guedes, Maria Menezes, Zezita Matos, João Miguel, Georgina Castro, Claudio Jaborandy, Marcella Cartaxo.

Onde assistir:
O Céu de Suely (filme)
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