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O Enfermeiro da Noite (filme)
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O Enfermeiro da Noite

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

Era previsível que o cineasta dinamarquês Tobias Lindholm logo assumisse uma produção norte-americana. Seu nome entrou em evidência em 2012, como coautor do roteiro de A Caça (Jagten, 2012), escrito com o diretor Thomas Vinterberg. O filme concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, indicação que se repetiu com Guerra (Krigen, 2015), que ele escreveu e dirigiu. Não tardou e Druk – Mais Uma Rodada (Druk, 2020), que tem roteiro de Lindholm e Vinterberg (o diretor do filme), levou o Oscar para a Dinamarca. Assim, Lindholm chamou os holofotes para si e ele agora estreia na indústria estadunidense com O Enfermeiro da Noite (The Good Nurse), um filme da Netflix.

Baseado em livro de Charles Graeber, O Enfermeiro da Noite traz à tona mais um terrível caso real de serial killer. Pois é, embora a quantidade de vítimas seja absurda (supostas centenas!), Charlie Cullen é real. Interpretado magistralmente por Eddie Redmayne, ele é um enfermeiro que matava seus pacientes em sua passagem por uns dez hospitais. O filme narra a história a partir da perspectiva de Amy Loughren (Jessica Chastain), enfermeira do Parkfield Memorial Hospital, em New Jersey, que recebe seu novo colega Charlie, em 2003.

Um relato frio

Não há mistério sobre a culpabilidade de Charlie. Na verdade, o roteiro de Krysty Wilson-Cairns prefere um relato frio, com poucas emoções, talvez para retratar a frieza do psicopata do filme. Assim, a trama acompanha como Amy se torna amiga de Charlie, mas depois desconfia dele quando pacientes começam a morrer de maneira estranha. Então, começa a colaborar com os detetives policiais que investigam o caso. O foco, por isso, está na busca de provas, e o pico dramático é a tentativa de arrancar a confissão do serial killer. Aliás, essa cena só ganha emoção mesmo pela interpretação dos dois atores principais, já que a situação não é muito promissora em termos de potencial emocional. A estratégia policial não envolve violência nem uma pista ou evidência, mas induzir à confissão apostando na intimidade de Amy com Charlie. Enfim, mais interessante na realidade do que nas telas.

O roteiro

Krysty Wilson-Cairns é uma roteirista de prestígio. Coescreveu com os respectivos diretores os roteiros de 1917 (2019), de Sam Mendes, e Noite Passada em Soho (Last Night in Soho, 2021), de Edgar Wright. Em O Enfermeiro da Noite, acerta ao colocar o problema cardíaco da protagonista na trama. É um recurso muito utilizado no cinema, um grande exemplo é a acrofobia do personagem de James Stewart em Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958), de Alfred Hitchcock. Esse problema aproxima Amy de Charlie, que a ajuda numa crise de dor. E, em certo momento, quando Amy sobe as escadas correndo, pensamos que esse aspecto servirá para dificultar suas investigações, ou talvez colocá-la em perigo, como acontece no filme de Hitchcock. Porém, como no restante do filme, Krysty Wilson-Cairns prefere manter o tom de frieza. Com isso, desperdiça o potencial dramático do material base. O roteiro poderia conter várias situações de suspense e mistério, mas não é o que acontece.

Da mesma forma, o enredo deixa de lado a crítica ao corporativismo dos hospitais. Vemos a diretora do Parkfield Memorial Hospital se empenhar para ocultar as evidências dos crimes, que poderiam acabar com a reputação da instituição. Além disso, os policiais descobrem que os hospitais por onde Charlie passou também são igualmente evasivos. Mas, apesar de isso dificultar as investigações, o filme não explora na parte final essa má conduta, que retorna apenas nos créditos finais em forma de cartela.

A direção

A direção de Tobias Lindholm, no entanto, merece elogios. Já no prólogo, o diretor apresenta o personagem Charlie de maneira inteligente. Durante uma emergência, num plano longo sem cortes, a câmera se aproxima desse enfermeiro, que observa com certa distância. Custa para descobrimos que se trata de Eddie Redmayne, pois seu visual e sua expressão estão bem diferentes de outros papéis de sua carreira. Mas sua reação contida e afetada é suficiente para lançar um tom de estranheza sobre ele.

Lindholm trabalha bem o tom do filme, que fica sombrio mesmo após a cena em que Amy passal mal por causa de seus problemas cardíacos e Charlie aparece para dar apoio. Essa conexão parece abrir as portas para o perigo que chegou ao hospital. As cenas seguintes são mais escuras, e logo os incidentes começam.  

O obrigatório recurso dos espelhos que revelam o duplo dos personagens surge em duas cenas de O Enfermeiro da Noite. Primeiro, obviamente com Charlie, que parece tão bondoso na relação com Amy, mas que às escondidas mata indiscriminadamente. A outra cena é menos previsível, e acentua o conflito na consciência de Amy, pois ela precisa trair o novo amigo para evitar que mais pacientes morram.

Ficamos com a impressão de que a dupla Tobias Lindholm e Krysty Wilson-Cairns não deu liga, apesar do comprovado talento de ambos. Provavelmente, a melhor opção seria designar a Lindholm o roteiro e a direção, já que ele é ótimo roteirista. O resultado acabou ficando muito frio, mais próximo daqueles documentários que reconstituem grandes crimes do que de uma narrativa ficcional.  

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Ficha técnica:

O Enfermeiro da Noite | The Good Nurse | 2022 | 121 min | EUA | Direção: Tobias Lindholm | Roteiro: Krysty Wilson-Cairns | Elenco: Jessica Chastain, Eddie Redmayne, Nnamdi Asomugha, Kim Dickens, Malik Yoba, Alix West Lefler, Noah Emmerich.

Distribuição: Netflix.

Onde assistir:
O Enfermeiro da Noite (filme)
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