Esta nova adaptação do livro O Homem Invisível, de H.G. Wells, envolve o público num suspense permanente com surpresas inesperadas.
De cara, a parte inicial do filme já causa ótima impressão. Cecilia (Elizabeth Moss) acorda no meio da noite, enquanto seu namorado dorme ao lado, dopado por ela com Diazepam. Mesmo sem entrar ainda no núcleo da trama, que é o poder da invisibilidade, essa sequência inicial utiliza o som como elemento de suspense. Cecilia toma cuidado para não fazer nenhum barulho, porque ela quer fugir do namorado com quem vive numa luxuosa casa moderna que possui um laboratório tecnológico. Em poucos minutos, o espectador logo se posiciona ao lado da protagonista, e torce para que ela consiga escapar, mesmo sem que o motivo da sua aflição seja apresentado.
Assim, esse começo demonstra que o diretor Leigh Whannell sabe como manipular o espectador. Na verdade, Whannell é ator – ele fez o personagem principal de Jogos Mortais (2004). Porém, também trabalha como diretor, tendo já realizado Sobrenatural: A Origem (2015) e Upgrade: Atualização (Upgrade, 2018). Agora, com O Homem Invisível, Whannell se consolida como um ótimo diretor do gênero terror e suspense.
História atualizada
Aqui, a famosa estória criada por H.G. Wells ganha uma atualização. Adrian, o namorado de Cecilia é um dos melhores cientistas óticos do mundo e, secretamente, desenvolveu uma roupa que dá a ilusão de invisibilidade. Porém, esse gênio milionário é possessivo e abusador, por isso Cecilia quer desesperadamente se afastar dele. Ele continuará a persegui-la, usando essa roupa especial. Enfim, Cecilia descobre, mas ninguém acredita nela. Afinal, Adrian manipula as pessoas com provas contra ela.
Análise
Aquele elemento que gera o suspense na primeira parte do filme, o som, continua nesse papel durante todo o filme. Como Um Lugar Silencioso (2018) evidenciou, quando o filme demanda uma atenção especial do espectador aos mais sensíveis ruídos na mise-en-scène, ele fica mais vulnerável ao suspense. E o diretor Leigh Whannell é eficiente na criação da tensão, ao equilibrar o ritmo lento de alguns trechos, como o som dos passos do homem invisível, com ações rápidas que surpreendem o espectador, como a cena no restaurante.
Essencialmente, H.G. Wells apontava como o poder corrompia as pessoas. No caso, o poder da invisibilidade trazia à tona a maldade das pessoas. Então, esta adaptação de 2020 aproveita essa temática para focar no abuso cometido pelos homens contra mulheres. Antes, Adam estava munido do poder do dinheiro e por isso abusava de Cecilia. Depois, após a sua fuga, ele explora a capacidade de se tornar invisível para continuar a manipulá-la.
Por fim, a conclusão do filme conduz para a ideia do empoderamento feminino, quando Cecilia olha triunfante para a câmera, satisfeita pelo êxito em revidar os abusos sofridos. O tema é universal e, nesse sentido, o título do filme é apropriado. Afinal, “O homem invisível” não tem rosto, pode ser qualquer homem que pratica esses abusos e que merece ser devidamente condenado.
Ficha técnica:
O Homem Invisível (The Invisible Man, 2020) Austrália/EUA. 124 min. Dir/Rot: Leigh Whannell. Elenco: Elisabeth Moss, Aldis Hodge, Storm Reid, Harriet Dyer, Oliver Jackson-Cohen, Michael Dorman. Benedict Hardie, Renee Lim, Bryan Meegan, Amali Golden.
Universal Pictures Brasil
Trailer:
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