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O Mecanismo (série)
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O Mecanismo

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

A premissa deste texto é não entrar no aspecto político da série em análise. O que, no entanto, não se pode ignorar é o oportunismo de “O Mecanismo”, que gera muitos dos problemas dessa produção da Netflix disponibilizada via streaming.

É, no entanto, completamente justificável o viés maniqueísta da trama, já que os crimes investigados pelo Lava Jato ferem o princípio universal da honestidade. Tendo isso em consideração, nota-se uma inconsistência na humanização de alguns personagens, como a esposa do presidente da empresa de petróleo. Cúmplice dos desvios dos maridos, ainda assim ela é filmada de maneira a sensibilizar o espectador a se apiedar dela. A estória da série se baseia no livro de Vladimir Netto, e ganha dramatização para torna-la mais interessante. Porém, nesse sentido erra a mão ao permitir que se crie qualquer empatia com os malfeitores da trama.

Quem é quem

Essa romantização causa outro inconveniente. Ao mascarar os fatos reais, evitando uma cinebiografia que utilizaria os nomes e fatos verdadeiros, surgem dois riscos. O primeiro, de assistir a série como se fosse uma brincadeira de descobrir quem os personagens retratam na vida real – por exemplo, o juiz Paulo Rigo seria o Sérgio Moro. O outro risco é o de criar caricaturas das pessoas reais, o que acontece com a presidente Janete Ruscov e o ex-presidente João Higino, figuras que acabam por gerar comicidade onde não deveria existir.

Por outro lado, o roteiro cai na armadilha de inserir elementos que possam aumentar a quantidade de visualizações da série. Por exemplo, a cena de sexo entre o juiz Rigo e sua mulher é totalmente dispensável. Ainda mais porque a série não aprofunda nenhum desses personagens: nem o magistrado e muito menos sua esposa. Até por isso, soa deslocada uma frase proferida por um dos agentes corruptos, quando afirma que Rigo tem sido um juiz obstinado. Afinal, não é o que vemos na tela – até esse momento ele aparece pouco na tela e somente quando a investigadora Verena, a protagonista da série, o procura.

Além disso, o espectador, pelo menos o brasileiro, se sente subestimado. Isso acontece quando o ex-agente da Polícia Federal e o verdadeiro cérebro da Operação Lava Jato explica como funciona o mecanismo das propinas. Há excesso de didatismo, através de gráficos e de um exemplo mais simples com o funcionário da empresa de água e esgotos.

Personagens

Dentre os personagens, apenas o da investigadora Verena (Caroline Abras) convence. Nesse sentido, Marco Ruffo parece o menos crível de todos. Ele é um obstinado agente da Polícia Federal exonerado de seu cargo mas que possui inteligência e vontade acima do normal para elaborar um plano tão complexo como o Lava Jato. Inexplicavelmente, ninguém descobre que ele sobrevive à tentativa de suicídio e volta a trabalhar no caso, nem mesmo sua parceira de trabalho Verena e nem mesmo sua esposa. Para piorar, Selton Mello interpreta Ruffo somente falando em tom de sussurro, o que acaba irritando o espectador, porque a série toda tem condução através de sua narração em voz baixa. Adicionalmente, o ator ainda precisa repetir que sabe o que JPR sente por estar preso e o que Verena sofre no momento da delação premiada, frases nada convincentes.

Em uma produção tão bem caprichada tecnicamente, com bela fotografia, cenários e locações, salta aos olhos alguns erros de direção primários. Por exemplo, quando Verena raciocina e conclui que o agente que trabalha em conjunto com ela foi infiltrado por Ruffo. Nessa cena, o recurso dos flashbacks é usado e, num dos cortes, há um plano que não é de seu ponto de vista, e que, portanto, não poderia estar dentre suas lembranças. Esse erro é surpreendente, considerando que a direção dos episódios esteve nas mãos de profissionais experientes como o criador da série José Padilha, Daniel Rezende e Marcos Prado, além de Felipe Prado. O motivo parece óbvio: a pressa em disponibilizar a série enquanto o tema ainda está presente nas notícias diárias.


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