O Predador: A Caçada (Prey) é o quinto filme com o caçador alienígena que surgiu no longa O Predador (Predator, 1987). Na verdade, o sétimo, se incluirmos os dois crossovers Alien vs. Predator. Por falar em Alien, pode-se desconfiar que a pioneira do empoderamento feminino Ripley, inspirou a heroína desta nova produção.
Antenada com os tempos atuais, essa sequência inova ao colocar uma jovem (e não um soldado vivido por Arnold Schwarzenegger) para enfrentar o predador. A desproporção física é flagrante, pois o alienígena tem mais de dois metros de altura, enquanto a atriz Amber Midthunder, que interpreta a protagonista Naru, tem 1,66m. Além disso, a disparidade tecnológica é ainda mais evidente, pois a história se passa em 1719 nas Grandes Planícies do Norte (Northern Great Plains), no norte dos Estados Unidos e sul do Canadá. E Naru faz parte da tribo nativa Comanche, o que marca outra bandeira que o filme levanta.
Na trama, independente da chegada do alienígena, a jovem Naru quer provar que pode ser uma caçadora tão boa quanto seu irmão Taabe (Dakota Beavers). Mas falha quando tem a oportunidade de abater um leão. Então, quando ela testemunha a presença do Predador, a destemida Naru fará de tudo para ajudar sua tribo a derrotá-lo. Para isso, o filme equilibra as forças com a astúcia dela para aproveitar o conhecimento que ela tem de seu terreno e empregar a tecnologia alienígena contra o invasor. Liberdades narrativas à parte, esse enredo consegue convencer.
Teste de talento para Dan Trachtenberg
O diretor Dan Trachtenberg estreou com o empolgante Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfield Lane, 2016), produzido por J.J. Abrams. Agora, prova neste seu segundo longa que não depende do apoio de Abrams, como muitos desconfiaram.
E realiza um filme muito superior à mais recente entrada da franquia, O Predador (The Predator, 2018), dirigido por Shane Black. Nem mesmo o desafio de filmar numa planície aberta, em cenas à luz do dia, o oposto da floresta tropical fechada e escura do filme original, reduz a emoção dessa aventura que envelopa as questões de gênero, de etnia, ecológicas e de respeito às tradições.
O bom uso do politicamente correto
O Predador continua assustador, e aparentemente imbatível. Porém, Naru consegue se equiparar porque seus conhecimentos em ervas medicinais retira o calor de seu corpo que permite o alienígena detectar suas presas. Além disso, descobre que parte das armas de seu oponente funcionam por causa da máscara e se aproveita disso. As eficientes cenas de ação mostram que a rapidez dela e de seu irmão consegue sobrepor a defesa do ser do outro planeta. Em paralelo, surgem, também, adversários hediondos, que são os europeus (aqui franceses) que chegam ao continente americano dizimando búfalos (por causa da pele) e povos nativos.
O politicamente correto, desta vez, não é intrusivo. Ao invés de prejudicar a narrativa, lhe dá forças. Nesse sentido, a presença exclusiva de atores com ascendência nativa-americana interpretando comanches contribui para a autenticidade e conquista da empatia do espectador. Entre eles, se destaca a protagonista Amber Midthunder, que muitos conhecem pelas séries Legião (Legion, 2017-2019) e Roswell, New Mexico (2019-2022).
Enfim, inseridos nesse filme empolgante, essas questões importantes podem influenciar positivamente o público. O Predador: A Caçada representa evolução cultural com entretenimento, como deve ser o papel do cinema.
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Ficha técnica:
O Predador: A Caçada | Prey | 2022 | 1h40 | EUA | Direção: Dan Trachtenberg | Roteiro: Patrick Aison | Elenco: Amber Midthunder, Dakota Beavers, Dane DiLiegro, Stormee Kipp, Michelle Thrush, Julian Black Antelope, Stefany Mathias.
Distribuição: Star+.