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O Silêncio da Chuva (filme)
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O Silêncio da Chuva

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Adaptação do livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza, O Silêncio da Chuva mantém a tensão até nas cenas pós-créditos.

Dirigido pelo mais que experiente Daniel Filho, o filme acompanha uma investigação policial crescentemente misteriosa. A trama se inicia a partir do corpo de Ricardo, um alto executivo de uma construtora, encontrado num carro, alvejado por três tiros. Logo, o enredo coloca o espectador à frente do delegado Espinosa (Lázaro Ramos) e da investigadora Daia (Thalita Carauta), encarregados do caso. Para eles, parece um latrocínio, mas o filme mostra um jovem ladrãozinho entrar no carro e levar os documentos, uma valise com cinco mil dólares e um revólver, bem como uma carta reveladora.

A polícia suspeita da esposa da vítima, Bia (Cláudia Abreu), e do seu sócio envolvido em corrupção. Mas, principalmente, da sua secretária Rose (Mayana Neiva), beneficiária do seguro de vida milionário do executivo. No entanto, surgem outras mortes relacionadas ao caso que complicam a investigação.

O Silêncio da Chuva equilibra o ritmo do filme, intercalando os vários eventos decorrentes da morte de Ricardo com as conjecturas do delegado Espinosa e da investigadora Daia. Enquanto isso, o espectador continua mais bem informado que a dupla. Dessa forma, pode avaliar se os dois se aproximam ou não da verdade. Vale notar que, mesmo com esse privilégio, o público se surpreende com o desenrolar dos fatos ao longo da narrativa.

Um outro Rio de Janeiro

Essa trama misteriosa acontece numa Rio de Janeiro diferenciada. Nesse sentido, a primeira morte acontece numa noite chuvosa, numa região distante das famosas praias cariocas, que, aliás, nem aparecem na tela. A ambientação urbana retrata os extremos sociais, ou seja, a favela do jovem ladrão em oposição à mansão do executivo morto. Aqui, não há o clichê da beleza natural da cidade.

A violência em O Silêncio da Chuva ultrapassa os roubos à mão armada e choca porque envolve cruéis ritos de tortura. Assim, a primeira vítima desse procedimento tem seu corpo espancado e mutilado. O filme poupa o público das cenas da prática dessa tortura, mas não as de um estupro em cárcere privado.

Personagens

O protagonista Espinosa não é aquele delegado durão que estamos acostumados a ver. Aliás, ele é o personagem mais humanizado do filme. Ator talentoso, Lázaro Ramos faz dele um homem em conflito entre sua vida pessoal e o trabalho, e que não é artificialmente brilhante na resolução do crime. Pelo contrário, ele até comete erros, como toda pessoa comum.

Já a sua parceira Daia ganha contornos feministas, dura na investigação, mas apaixonada e sexualmente ativa na vida privada. Quem a interpreta é Thalita Carauta, famosa como comediante do programa Zorra Total. Antes desse papel, ela encarnou outro personagem em um filme policial, o excelente O Lobo Atrás da Porta (2013).

No filme, os policiais são os únicos claramente dignos de confiança. Afinal, Bia e Rose, respectivamente a esposa e a amante do executivo morto, podem ser inocentes ou culpadas, e esse esclarecimento só surge nas cenas pós-créditos. Além delas, a história conta com o asqueroso investigador de seguros Aurélio, o corrupto sócio da empreiteira Lucena, e o ladrão Max, além do garoto de programa Júlio.

A direção

O filme consegue explorar as características essenciais dos seus personagens, sem mostrar demais para não comprometer a surpresa das revelações da trama. De fato, o enredo surpreende a todo instante, como deve fazer um bom exemplar do gênero whodunit. Inclusive, a parte final da história apresenta uma ousada solução que a vítima encontra para escapar de seu algoz. Beira o cinema exploitation, mas também pode ser interpretado como um símbolo do empoderamento feminino.

A solução do crime (Spoilers adiante)

A direção de Daniel Filho não menospreza a capacidade do espectador. Por isso, revela quem é o culpado através de um detalhe – ou um dedo.

Aliás, é essencial atentar às cenas após os créditos finais, pois elas esclarecem, definitivamente, a solução do crime. Por um lado, a revelação do relacionamento entre Bia e Rose comprova a intenção feminista quando a vítima liquida o culpado fazendo sexo até matar o vilão, que havia ingerido uma overdose de Viagra.

Por outro lado, a conclusão indica que o acaso quase atrapalha o plano das duas femmes fatales. Como em Pacto de Sangue (1944), o objetivo principal era a morte do marido e a indenização milionária do seguro de vida. As fraudes na empresa foram suficientes para provocar o suicídio do já deprimido Ricardo. Porém, Bia e Rose não previram que ele escreveria uma carta de suicídio, que anularia a indenização. E, muito menos, que um ladrãozinho se apossaria dela. Ademais, elas não imaginavam que o investigador de seguros tentasse se aproveitar dessa situação.

Por fim, e por linhas tortas, tudo acaba dando certo para as duas. E Bia ainda se livra do garoto de programas que a importunava.

Enfim, O Silêncio da Chuva pode desapontar quem espera um filme sobre um crime perfeito. Não é o caso, aqui o plano desvia de seu rumo inicial, e as coisas se complicam.

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Ficha técnica:

O Silêncio da Chuva | 2020 | Brasil | 96 min | Direção: Daniel Filho | Roteiro: Lusa Silvestre | Elenco: Lázaro Ramos, Thalita Carauta, Cláudia Abreu, Mayana Neiva, Otávio Muller, Pedro Nercessian, Bruno Gissoni, Peter Brandão, Raquel Fabbri, Theresa Amayo, Késia Estácio, Guilherme Fontes, Anselmo Vasconcellos.

Trailer:

Foto: divulgação/Mariana Vianna

Onde assistir:
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