Ainda hoje, a brutalidade de Os Corruptos ainda impacta.
Um policial honesto
Afinal, o filme acompanha a ingrata luta de um policial honesto, Dave Bannion (Glenn Ford), contra poderosos chefões criminosos que compram o apoio dos colegas e superiores dele. A princípio, ele é designado para uma investigação do suicídio de um policial. Porém, logo ele receberá uma dica de uma garota de programa que lhe afirma que se trata de um assassinato. Em seguida, essa mulher é morta, e ele mergulha fundo para descobrir uma rede de corrupção armada por Mike Lagana (Alexander Scourby), líder do crime na cidade.
Ainda na primeira parte, somos apresentados à vida familiar do sargento Dave Bannion. De imediato, já suspeitamos que esse lar harmonioso, composto por uma esposa amorosa e uma pequena menina em idade pré-escolar, parece perfeita demais. Afinal, apesar do salário modesto, eles vivem felizes e confortavelmente. E, de fato, tudo isso vai para os ares quando ele começa a investigação contra os poderosos criminosos. Tal qual Eliot Ness, de Os Intocáveis, sua honestidade não teme as ameaças.
Imprevisível
Logo, Os Corruptos se torna imprevisível e brutal. Aliás, assim como agiam os criminosos na realidade. A violência desmedida vitimiza a família de Dave Bannion, bem como a amante de um dos bandidos. Nesse quesito, é nesse filme que a personagem de Gloria Grahame tem seu rosto queimado por um bule de café quente jogado por pelo perigoso Vince Stone, uma figura assustadora interpretada por Lee Marvin.
Posteriormente, o filme continua a surpreender no seu desfecho. Acima de tudo, porque, mantendo a honradez de seu protagonista, quem pratica os atos de vingança não é ele, mas uma enraivecida mulher cujo rosto foi covardemente deformado. Dessa forma, o público, que foi levado a criar empatia por Dave Bannion na primeira parte, é forçado a compartilhar a mesma lisura do herói da estória. O que, sem dúvida, resulta numa influência muito mais positiva do que o justiceiro de Charles Bronson em Desejo de Matar.
Fritz Lang
Por último, vale lembrar que Os Corruptos se insere num momento maduro da carreira de Fritz Lang. Como resultado, ao invés da forte influência do expressionismo alemão de suas primeiras produções, sua direção se volta primordialmente para a narrativa. Nesse sentido, o início do filme é magistral. Nele, ele parte do plano detalhe do revólver até a queda do corpo baleado, aparentemente evidenciando um suicídio. Contudo, numa revisão, a hipótese do homicídio também se torna totalmente possível.
Como resultado, esse film noir tardio de Fritz Lang não se prende ao estilo, nem às restrições temáticas do gênero. Por isso, é tão surpreendente.
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Ficha técnica:
Os Corruptos (The Big Heat) 1953. EUA. 89 min. Direção: Fritz Lang. Roteiro: Sydney Boehm. Elenco: Glenn Ford, Gloria Grahame, Jocelyn Brando, Alexander Scourby, Lee Marvin, Jeanette Nolan, Peter Whitney, Robert Burton, Adam Williams, Dorothy Green, Carolyn Jones.