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Os Intocáveis (filme)
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Os Intocáveis

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Análise: O faroeste no filme “Os Intocáveis” de Brian De Palma

“Os Intocáveis” marca o ponto em que o diretor Brian De Palma, finalmente, alcança o primeiro escalão dos diretores rentáveis para a indústria do cinema norte-americano. E isso, depois que o seu trabalho anterior com uma grande produção, “Scarface” (1983), não alcançara a bilheteria esperada. Depois, a ascensão da popularidade de De Palma culminaria em “Missão: Impossível” (Mission: Impossible, 1996). Mas vamos à análise.

O foco desta análise não é a famosa cena da escadaria da estação de trem de Chicago que homenageia “O Encouraçado Potemkin” (Bronenosets Potemkin, 1925), de Sergei M. Eisenstein. Afinal, essa sequência já ganhou vasta discussão acadêmica e da imprensa especializada. O que se busca aqui é revelar as referências do gênero faroeste em “Os Intocáveis”, inseridas neste policial do subgênero filme de gângster.

De cara, a escolha de Ennio Morricone como compositor da trilha sonora indica a intenção de Brian de Palma em remeter ao faroeste. E marca  a primeira colaboração do icônico músico de numerosos filmes do spaghetti western. Ela se repetiria posteriormente em “Pecados de Guerra” (Casualties of War, 1989) e “Missão: Marte” (Mission to Mars, 2000). Aliás, essa intenção se confirma em um detalhe da música de “Os Intocáveis” que resgata o clássico do faroeste italiano “Era Uma Vez No Oeste” (C’era una volta il West, 1968), dirigido por Sergio Leone.

Clássico com maneirismos

Para alcançar um público maior, De Palma se aproximou do cinema clássico em “Os Intocáveis”. Apesar disso, ele não deixa de lado seus maneirismos. Por exemplo, a abertura em plongée com o personagem Al Capone na barbearia, a câmera subjetiva com o travelling lateral do mafioso que espreita o apartamento do policial Jim Malone, bem como o plano-sequência no assassinato do contador Oscar Wallace. Porém, De Palma reprime parte de seu estilo ousado para se enquadrar no padrão hollywoodiano. Para isso, recorre ao mais tradicional dos gêneros, o faroeste.

Iniciaremos a análise das referências ao faroeste presentes em “Os Intocáveis” pela música, composta por Ennio Morricone, responsável por vários temas do spaghetti western italiano. Para começar, o tema de abertura dos créditos evoca a lembrança desse gênero pela presença do som da gaita. Especificamente no clássico de Sergio Leone “Era Uma Vez No Oeste”, no qual o instrumento denunciava a presença do temido pistoleiro apelidado de Harmonica, que era interpretado por Charles Bronson, que surge em trajes brancos detrás da locomotiva. No desenrolar do filme de Brian De Palma, a gaita está ligada ao letal Frank Nitti, papel de Billy Drago. Ele é o matador da quadrilha de Al Capone que está sempre vestido de branco.

Close-up extremo

Além disso, outra característica marcante no filme de Leone presente no filme de De Palma é o zoom da câmera até o close-up extremo nos olhos dos personagens. Esse recurso é utilizado na sequência climática no arco do personagem Eliot Ness, que precede a mudança em seu caráter, depois que o vilão Frank Nitti o provoca. Ele ainda consegue recuperar seu autocontrole e o plano do zoom da câmera é interrompido por outros do vilão e do seu revólver. Por fim , encerrando com o repouso do cão que marca sua desistência em puxar o gatilho. No filme de Leone, o zoom que leva ao close extremo só é interrompido pelo flashback do personagem, que só faz aumentar sua sede de vingança. Mais tarde, em “Os Intocáveis”, Eliot Ness cede ao ódio. Deixa sua rigidez formal de lado, o que o permitirá combater mais eficientemente Al Capone.

Na fronteira com o Canadá

Contudo, a cena que essencialmente define a referência ao western é aquela em que Eliot Ness e sua equipe preparam uma emboscada na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá. Toda ela permite uma comparação com sequências já vistas no gênero faroeste. Para isso, basta substituir os carros por carruagens e as metralhadoras por rifles. Porém, preferimos nos concentrar em três sequências que poderíamos encontrar em vários westerns.

A primeira, a abertura com uma panorâmica horizontal do campo e das montanhas, varrendo a imensidão da paisagem até alcançar os policiais montados em cavalos enfileirados. Assim, esse aproveitamento máximo do widescreen reflete o que costumava ser a primeira cena dos faroestes clássicos, retratando a vastidão do Oeste em formato de tela em scope. Em seguida, o plano mais próximo dos principais personagens – Ness, sua equipe e o capitão da cavalaria canadense – aproveita a perspectiva alongada para que nenhum deles encubra o outro, utiliza outro enquadramento recorrente no faroeste. E, por fim, a terceira sequência é um plano aberto que permite vermos todos os membros do pelotão em seus cavalos. Outro quadro muito presente nos westerns, para acentuar a quantidade de índios ou de soldados nos campos. Além dessas três sequências, outros planos dos protagonistas montados em seus cavalos também são influenciados diretamente pelo faroeste.

Motivação para a referência ao western

De fato, as sequências acima analisadas comprovam a relação de “Os Intocáveis” com o gênero western. Como dito, a escolha de Ennio Morricone para ser o compositor da trilha sonora não deixa dúvidas que o diretor Brian De Palma conscientemente decidiu por inserir essa referência no seu filme. Além disso, pelo lado comercial, De Palma pode ter procurado com isso se aproximar do cinema clássico e conquistar maior bilheteria.

Contudo, o filme permite também considerar como uma opção artística do diretor para ilustrar a Chicago dos 1930 como uma cidade sem lei. Em outras palavras, onde a violência ditava as regras, ou seja, muito próxima do que era o Velho Oeste. Diante desse quadro, o personagem principal, Eliot Ness, só consegue vencer seu poderoso rival quando perde sua inocência e se permite transpor os rígidos limites estabelecidos em lei.

 

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