Como fez em Os Descendentes (The Descendants, 2011), o diretor Alexander Payne mostra em Os Rejeitados (The Holdovers) que os ricos também sofrem. Mais importante que isso, confirma seu talento em lidar com os conflitos interpessoais e intrapessoais. Seu novo filme chega agora, dia 11 de janeiro, aos cinemas, mas deveria ter sido lançado antes do Natal. O título, afinal, se refere aos alunos de internato que continuam na escola durante o período de recesso de fim de ano. Uma época muito difícil para passar sozinho.
A trama acontece na fictícia academia de Barton, em 1970. Logo de cara, o filme revela que o professor de História Paul Hunham (Paul Giamatti) é extremamente exigente com seus alunos, todos de família rica. Na prova que encerra o período, apenas um estudante consegue a nota B, e muitos ficam abaixo da média. E, para azar dos cinco alunos que permanecerão na escola durante o recesso, Paul fica como responsável. Além deles, permanece no local vazio a gerente do refeitório Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), cujo filho acaba de morrer na guerra. Logo, um dos cinco “rejeitados” consegue que o pai envie um helicóptero para levá-lo a um resort de esqui. Outros três colegas partem com ele, e sobra apenas Angus Tully (Dominic Sessa), pois ninguém na casa dele atende o telefonema de Paul para conceder a autorização necessária para viajar.
Além das aparências
Paul vê Angus como um garoto mimado, um rebelde sem causa. Em contrapartida, Angus e todos os demais alunos não gostam desse professor exageradamente duro. Aos poucos, o convívio forçado que começa com desentendimentos e provocações mútuas, que só reforçam a impressão que um tem do outro, dão lugar a um conhecimento mais profundo sobre cada um. Dessa forma, descobrem o que faz eles agirem dessa forma. Paul, por exemplo, sofreu uma injustiça no passado provocada por um colega de família rica, o que impactou em todo o restante de sua vida. Já Angus não recebe em casa nenhuma atenção da mãe que está com um novo marido.
Mas o filme não entra na superficialidade de uma relação de causa e efeito. Aliás, o próprio Paul rechaça a ideia do determinismo, dizendo ao seu aluno que as pessoas não seguem necessariamente os passos dos pais. São várias as camadas que cobrem os personagens, como o problema físico do corpo de Paul que o desanima a procurar uma companheira. Ou as drogas ou as bebidas que servem de muleta para as fraquezas de ambos. E Mary Lamb também ganha seu momento de protagonismo, quando visita a irmã como parte da superação de seu luto.
Os Rejeitados não faz concessões, é um filme essencialmente triste. Mas não triste no sentido novelesco, do choro fácil. Mostra que a vida não é fácil, nem mesmo para os ricos como Angus. Como mensagem universal, ensina a conhecer as pessoas profundamente, além das aparências que levam a ideias preconcebidas. Alexander Payne, mais uma vez, mergulha fundo no âmago dos seus personagens.
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Ficha técnica:
Os Rejeitados | The Holdovers | 2023 | 133 min | EUA | Direção: Alexander Payne | Roteiro: David Hemingson | Elenco: Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph, Dominic Sessa, Carrie Preston, Brady Hepner.
Distribuição: Universal Pictures.
Assista ao trailer aqui.