Filme de mistério em tom de comédia, Pequenas Cartas Obscenas traz como tema principal o machismo tóxico predominante na Inglaterra após a Primeira Guerra Mundial. Todos os problemas que acontecem na trama se originam desse comportamento desprezível, como nos revela o enredo conforme o seu avanço.
Em Littlehampton, uma pequena cidade litorânea, Edith Swan (Olivia Colman) tem recebido pelo correio cartas curtas com ofensas do mais baixo calão. O teor sexual é ainda mais chocante para a destinatária porque ela é uma mulher solteira de uma família extremamente tradicional e religiosa dominada pelo patriarca opressor Edward Swan (Timothy Spall).
As suspeitas sobre a autoria dessas correspondências infames caem todas sobre Rose Gooding (Jessie Buckley), a vizinha de Edith que chegou à cidade com sua filha pequena após perder o marido na guerra. Afinal, motivo ela teria, pois as duas eram amigas até Rose receber a inspeção de uma assistente social, e desconfiar que Edith a denunciou. Além disso, Rose gosta de sair para beber e fala palavrões a rodo – comportamento totalmente oposto ao da vizinha.
Mesmo sendo inocente, Rose não dá bola para esse assunto. Até ele se agravar, pois mais pessoas começam a receber cartas do mesmo teor. A polícia precisa intervir, o que deixa a situação ainda pior para Rose, porque o chefe em comando é tão machista quanto Edward Swan. Tanto que ele não considera a única policial feminina da cidade, Gladys Moss (Anjana Vasan), uma policial como os demais – e sim uma “policial feminina”.
Apesar de não gostar pessoalmente da suspeita, Gladys desconfia que Rose é inocente. Então, com a ajuda de três moradoras bem peculiares, ela lidera uma investigação para descobrir o verdadeiro autor das cartas. Se falhar, Rose poderá ficar na prisão por anos.
Mistério, comédia e drama
A diretora de Pequenas Cartas Obscenas, Thea Sharrock, é conhecida pelo drama romântico Como Eu Era Antes de Você (2016). Neste novo trabalho, num gênero completamente diferente, pinta com tons coloridos essa história que tem um pouco de whodunit, embora não abrace os clichês de apresentar vários suspeitos para que o espectador solucione o crime misterioso. No lugar disso, dedica igual peso às três protagonistas – Rose, Edith e Gladys – sem se aprofundar demais em nenhuma delas. Com isso, cria margem para as surpresas da parte final.
A comicidade provém do exagero nos comportamentos machistas espalhados por toda a cidadezinha. E nos caricaturais personagens secundários que, por isso, até poderiam entrar na lista de suspeitos. Mas, o drama também está sempre presente, inclusive nos trechos de tribunal, deixando sempre consciente o quão prejudicial é esse machismo tóxico.
Ótimas atrizes, Jessie Buckley e Olivia Colman garantem essa dramaticidade do enredo. As duas já chegaram a interpretar a mesma personagem, em idades diferentes em A Filha Perdida (2021). Além disso, a Rose de Jessie Buckley se aproxima bastante do comportamento rebelde da homônima de As Loucuras de Rose (2018), também estrelada pela atriz, em outra grande atuação. Quanto a Olivia Colman, cabe a ela a capacidade de exalar credibilidade sobre os danosos efeitos psicológicos de uma criação opressora. O que coloca um tom amargo e triste na conclusão, ainda mais considerando que a história se baseia em eventos reais.
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Ficha técnica:
Pequenas Cartas Obscenas | Wicked Little Letters | 2023 | 100 min | Reino Unido, EUA, França | Direção: Thea Sharrock | Roteiro: Jonny Sweet | Elenco: Oliva Colman, Jessie Buckley, Anjana Vasan, Joanna Scanlan, Gemma Jones, Malachi Kirby, Lolly Adefope, Eileen Atkins, Timothy Spall, Hugh Skinner, Paul Chahidi, Jason Watkins, Alisha Weir.
Distribuição: Sony Pictures.