Prince Avalanche faz parte da fase existencialista da carreira do diretor David Gordon Green. Esse cineasta natural de Arkansas mostra intenção de trabalhar em vários gêneros de filmes. Começou na comédia besteirol, com Sua Alteza? (Your Highness, 2011) e O Babá(ca) (The Sitter, 2011), entre outros. Teve essa leva de dramas existencialista, na qual se inclui também Joe (2013). Enveredou pela dramédia política, em Especialista em Crise (Our Brand Is Crisis, 2015). Por fim, adentrou recentemente no terror, com a exitosa trilogia Halloween (2018), Halloween Kills (2021) e Halloween Ends (2022).
O isolamento
Este Prince Avalanche se baseia no filme Either Way (Á annan veg, 2011), do islandês Hafsteinn Gunnar Sigurðsson. A adaptação retrata alguns dias de dois homens trabalhando em um local remoto, uma floresta do Texas, em 1988. Eles fazem a manutenção das pistas da região. Nada de muito relevante acontece, a narrativa foca na relação entre esses dois personagens, bem como no processo de autoconhecimento facilitado pelo isolamento. Lembra até a premissa de O Farol (The Lighthouse, 2019), mas Robert Eggers a levou para o mistério e o fantástico, enquanto David Gordon Green prefere manter os pés no chão, com resultado superior.
O trabalhador mais velho é Alvin (Paul Rudd) e o mais novo, Lance (Emile Hirsch), é irmão de sua namorada. De temperamentos opostos, essa ligação quase familiar representa o único laço que os mantém juntos nesse serviço rotineiro e braçal. Mas, sem mais ninguém por perto, exceto pela ocasional passagem de um caminhoneiro e pelo encontro com uma moradora cuja casa foi incendiada, os atritos começam a surgir. Então, quando o laço se rompe, os dois se chocam, verbal e fisicamente. No entanto, o confronto os aproxima e, por fim, os liberta – daí a arruaça que fazem no trabalho (mas depois o filme mostra os dois saindo e deixando tudo em ordem).
A reflexão
Num filme em que os sentimentos importam mais que as ações, David Gordon Green revela um arsenal de recursos para transmiti-los ao público. Para começar, insere vários trechos sem diálogos, nos quais a trilha musical original conduz o espectador à reflexão. Aliás, o banjo das músicas, bem como o ambiente florestal, remete a Na Natureza Selvagem (Into The Wild, 2007), o drama existencialista de Sean Penn que também conta com o ator Emile Hirsch. Esses acordes ainda celebram o regozijo da conclusão de Prince Avalanche.
O diretor David Gordon Green, além disso, coloca a câmera dentro das águas turvas de um riacho junto com o personagem Lance, que nele mergulha se sentindo desapontado com o fim de semana que passou na cidade. Esse trecho marcante sinaliza um olhar mais empático para esse protagonista, até então alvo do desprezo de Alvin. É o primeiro momento em que o ponto de vista sai de Alvin e passa para Lance.
Outro bom exemplo de direção encontra-se na maneira de mostrar a conversa telefônica de Alvin com sua namorada. Ao invés de sair da floresta e filmar na cidade – o que seria um erro pois prejudicaria a sensação de isolamento – o filme mostra o áudio posteriormente. É quando Alvin repassa em sua cabeça a discussão de rompimento. Sua confusão emocional ganha um retrato visual na montagem de planos do asfalto filmados em velocidade sobre o carrinho de trabalho.
Do interior para as telas
Em Prince Avalanche, os protagonistas se transformam como estipulam os manuais de roteiro. Mas, nessa jornada, os heróis não enfrentam dragões ou vilões. Na verdade, os obstáculos são até maiores, pois existem dentro de si. Os conflitos que surgem nessa relação isolada, porém, levam ao autoconhecimento e, a partir daí, à superação. É um desafio para qualquer cineasta refletir na tela esses dilemas que acontecem dentro dos personagens. Nesse sentido, David Gordon Green realiza um ótimo trabalho, contando ainda com excelentes atuações de Paul Rudd e Emile Hirsch.
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Ficha técnica:
Prince Avalanche | 2013 | 94 min | EUA | Direção e roteiro: David Gordon Green | Elenco: Paul Rudd, Emile Hirsch, Lance LeGault, Joyce Payne, Gina Grande, Lynn Shelton.