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Quem Bate à Minha Porta? (filme)
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Quem Bate à Minha Porta?

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

A estreia de Martin Scorsese em longa-metragem aconteceu com Quem Bate à Minha Porta?. Na verdade, era um projeto estudantil que ganhou novas cenas até virar o filme.

Do projeto à versão final

O curta original se chamava “Bring on the Dancing Girls”, cujas filmagens aconteceram em 1965. Trazia basicamente o protagonista J.R. e seus amigos aprontando. Scorsese depois filmou uma trama romântica em 1967, e a adicionou ao material anterior. O resultado ganhou o título “I Call First”, e foi exibido no Chicago Film Festival. Depois, em 1968, para conseguir distribuição comercial, Scorsese adicionou a cena da alucinação com as prostitutas. Foi uma exigência do distribuidor, que queria explorar o sexo e a nudez. Então, essa versão final se chamou, em inglês, “Who’s That Knocking at My Door”, e estreou nos cinemas em setembro de 1968.

Estudante e cinéfilo

De fato, Quem Bate à Minha Porta? traz as características marcantes de um cineasta estreante formado em escola de cinema. Além disso, de um diretor que é cinéfilo. Por isso, o filme está repleto de ideias que tentam fugir do cinema convencional. Ao mesmo tempo, evidencia a admiração pelos clássicos realizadores.

Scorsese busca a modernidade deixando-se influenciar pela nouvelle vague. Isso fica claro na cena em câmera lenta em que J.R. e seus amigos se divertem com um revólver, na qual ele emprega jump cuts. Mas, principalmente, quando o protagonista está na cama com sua namorada. A composição dessa cena traz muitos planos detalhes muito próximos, que propositalmente dificultam identificar qual parte do corpo estamos vendo. Alinhada com o preto e branco do filme, esse trecho remete ao início de Hiroshima, Mon Amour (1959), de Alain Resnais.

A estrutura não-linear da narrativa também é outro traço da influência francesa. Contudo, essa opção torna o filme confuso. No começo, o flerte de J.R. com sua futura namorada é claramente um flashback. Porém, no restante do filme, não entendemos mais a sequência cronológica dos acontecimentos. Curiosamente, a editora é Thelma Schoonmaker, que se tornaria colaboradora habitual de Scorsese no futuro. Mas, aqui os dois ainda eram inexperientes.

Além disso, outra influência da nouvelle vague em Quem Bate à Minha Porta? está na reverência aos diretores autorais hollywoodianos. Nesse ponto, os diálogos literalmente falam sobre Rastros de Ódio (1956) e O Homem que Matou o Facínora (1962), de John Ford. São momentos em que percebemos o protagonista J.R. como se fosse o alter-ego de Martin Scorsese. Ademais, há uma colagem muito criativa com o poster, cenas e fotos de Onde Começa o Inferno (1959), de Howard Hawks. A propósito, são todos faroestes, gênero que Scorsese nunca filmou.

Scorsese em casa

Aliás, o ambiente de Quem Bate à Minha Porta? representa o habitat natural de Scorsese. São os bairros periféricos de Nova York, com personagens principais de origem humilde com malandragem a um passo do crime. No caso, J.R. e seus amigos perambulam pela cidade em busca de emoção. Assim, eles se divertem com mulheres e bebidas.

Então, o imaturo J.R. (Harvey Keitel) se apaixona por uma mulher, cujo nome o filme não revela. Confuso, o extremamente católico rapaz não quer fazer sexo com a namorada antes do casamento. Além disso, por causa da religião, reage mal quando a namorada lhe conta que foi estuprada alguns anos antes. Com isso, desperdiça a oportunidade desse relacionamento amoroso verdadeiro.

Religião e drogas

A religiosidade, aspecto marcante do católico Martin Scorsese, ainda surge em outros momentos desse filme. Em especial, na conclusão que traz uma colagem de imagens religiosas da igreja do bairro. A música tema, um rock and roll alegre, instiga um certo questionamento a respeito da religião. Ao mesmo tempo, levanta a dúvida do título do filme, que representa a confusão do protagonista que ainda não sabe agir como adulto.

Nesse sentido, é emblemática a viagem de J.R. e dois amigos para a pequena cidade no interior chamada Copake, a três horas de Nova York. O amigo que o leva até lá quer que todos curtam a natureza. J.R. aprecia a vista da montanha, apesar de o outro rapaz não ver sentido nisso. É a indicação de que o protagonista dá o seu primeiro passo em direção ao seu amadurecimento. Já para o próprio Scorsese essa fuga de Nova York será uma necessidade em sua vida. Anos depois, ele terá problemas com drogas, e sairá da Big Apple de tempos em tempos para relaxar. Sintomaticamente, ele filmará seu próximo longa, Sexy e Marginal (1972) no Arkansas, na região centro-sul dos EUA.

Por fim, um outro detalhe curioso é o uso da música “The End”, do The Doors, na cena da alucinação. J.R. se vê rodeado de várias prostitutas, num devaneio que surge do conflito religioso em sua mente. Scorsese filma vários pequenos planos com ângulos estranhos, dando a impressão de que o personagem está sob efeito de drogas. Dessa forma, a cena se assemelha com a abertura de Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola.

The beginning

Em suma, Quem Bate à Minha Porta? é um filme de um diretor estreante afoito por utilizar suas várias ideias e influências. Algumas funcionam, outras não, mas o resultado se tornou interessante pela projeção que Martin Scorsese viria ter.

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Ficha técnica:

Quem Bate à Minha Porta? (Who’s That Knocking at my Door?) 1967, 90 min. Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Martin Scorsese, Betzi Manoogian. Elenco: Harvey Keitel, Zina Bethune, Anne Collette, Lennard Kuras, Michael Scala, Harry Northup, Tsuai Yu-Lan, Catherine Scorsese.

Onde assistir:
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