“Roma”: Um retrato sem glamour do início do império romano
A série “Roma”, da HBO/BBC, se destacou à época de seu lançamento em 2005 pela produção de ponta, pela ousadia nas cenas de violência e sexo, bem como pela história criada pelo respeitado John Milius, o roteirista de “Apocalypse Now” (1979). Teve duas temporadas, com 22 episódios no total.
O enredo se baseia no período histórico da transição de Júlio Cesar (Ciarán Hinds) e o primeiro imperador romano, Caio Otávio Cesar, o “Augusto” (Simon Woods), incluindo no processo a traição de Marco Antonio (James Purefoy). O recorte escolhido desse longo ciclo é amizade entre dois militares do 13º regimento romano. O mais velho e mais graduado é Lucius Vorenus (Kevin McKidd), pai de família, inteligente, responsável, mas com pavio curto. O outro é Titus Pullo (Ray Stevenson), grandalhão imbatível em combate, mas sensível por dentro.
O charme de “Roma” se encontra na abordagem dos personagens históricos como se fossem pessoas normais, retirando o glamour tradicionalmente atribuído a eles. Dessa forma, o espectador consegue enxergar com claridade as suas atitudes, quase sempre em busca de poder e riqueza para si mesmos.
A produção recebeu elogios da crítica. Até porque utilizou os estúdios da Cinecittà, na própria cidade de Roma, local onde aconteceram os eventos do roteiro. Essa autenticidade concede um charme especial à série, cujo sucesso fez a companhia preservar os cenários e apresentar um show diário aos visitantes retratando as filmagens do seriado.
Ficou datado
Porém, apesar de não ter sido produzida há tanto tempo assim, hoje “Roma” já não tem o mesmo impacto. Houve um progresso acelerado na qualidade das séries feitas pelas emissoras de TV a cabo. A própria HBO, que realizou “Roma” junto com a BBC, passou por essa evolução e demonstrou isso principalmente com “Game of Thrones”, lançada em 2011.
O seriado sobre a história romana visivelmente evitava filmar as grandes batalhas do período. Ao invés disso, mostrava os comandantes pensando a estratégia de guerra, os soldados se preparando e, depois, pulava para o resultado da luta. O orçamento era bom, mas não o suficiente para tamanha reconstituição. Era impensável uma sequência com a grandiosidade da “Batalha dos Bastardos” do penúltimo episódio da sexta temporada da “GOT”.
Talvez a mesma restrição orçamentária justifique alguns saltos no tempo que causam estranheza na história. O ritmo parece irregular, alternando momentos com detalhes prolongados sobre alguma discussão, e outros onde é apresentada uma situação que se passa anos após a cena anterior.
Elenco
Entre o vasto elenco, algumas interpretações merecem destaque. Primeiro, Ray Stevenson como Titus Pullo. Ainda pouco conhecido (talvez alguns se lembrem dele como o Volstagg dos filmes do super-herói Thor), o irlandês consegue transmitir a frieza do soldado exemplar, ao mesmo tempo em que é um ser humano sensível, um pouco chulo e ingênuo. Outro personagem difícil Polly Walker tirou de letra, na pele da odiosa Átia, mãe de Augusto. A atriz tem filmografia extensa, com certeza o espectador se lembra dela em outra produção e aqui mostra coragem ao interpretar essa figura nada simpática.
Valentia similar, ou até maior, comprova Lindasy Duncan como Servilia, a rival de Átia, que sofre o pão que o diabo amassou, passando por uma radical degradação física e psicológica. Outro que se dá bem, valorizado pelo bom trabalho de casting, é James Purefoy, personificando Marco Antônio à beira do caricato, como de fato devia ter sido essa figura romana.
Embora apresente produção inferior ao atual padrão da própria HBO e da média das séries do gênero, “Roma” merece uma visita. Não só pela saga dos personagens principais, mas também pela visão bem interessante da história do Império Romano.