Menos de um mês após a morte de Silvio Santos, em 17 de agosto, chega aos cinemas, no próximo dia 12 de setembro, o filme Silvio, de Marcelo Antunez. Como a sua biografia foi esmiuçada na recente e boa minissérie O Rei da TV (2022), restou a essa nova produção abordar a sua história de maneira alternativa.
Assim, teve-se a ideia de trazer para as telas o provável momento mais dramático da vida de Silvio Santos. Aconteceu em 2001, quando o sequestrador de sua filha, dois dias depois de receber o resgate e libertá-la, invadiu a casa do apresentador e manteve-o como refém durante sete horas. Então, diante do risco de morrer, Silvio Santos relembra as memórias marcantes de sua existência.
A princípio, uma ideia interessante. Porém, resultou num roteiro fraquíssimo, mal filmado por Marcelo Antunez, diretor de Um Suburbano Sortudo (2016), O Palestrante (2022) e Rodeio Rock (2023), entre outros.
Por trás da narrativa principal, o filme não esconde a intenção de ressaltar a tão exaltada lábia de Silvio Santos. Essa qualidade que lhe rendeu trocados em seu primeiro trabalho como camelô de rua agora pode salvar a sua vida, ao se impor como melhor negociador que o profissional especialista da polícia militar. Durante o sequestro, Silvio tenta a todo momento acalmar o criminoso Fernando Dutra Pinto, trazendo-o para próximo de si, como dois seres humanos.
Direção
Os recursos utilizados para contar essa trama principal estragam o objetivo de transformar esses momentos em cenas tensas de um filme policial. A música de fundo soa absurdamente intensa, copiando temas clichês que forçam artificialmente evocar ansiedade no espectador. Esse uso insistente parece, ainda, escancarar o receio de não conseguir provocar tal emoção através das imagens. Da mesma forma, a abundância de palavrões parece ser um dos principais instrumentos para construir tensão.
Mesmo que esses recursos dessem certo (e não dão), a direção se autossabota. Insere inoportunos alívios cômicos, como na intervenção da secretária do governador, fã do apresentador. Ou o pedido de autógrafo da médica que atende o sequestrador.
Roteiro
O roteiro repete várias frases, fazendo-as soarem incômodas ou até mesmo involuntariamente engraçadas. Os flashbacks, que entram a todo instante, também minam o suspense que deveria existir durante o sequestro. Não adianta, aliás, usar truques do terror (jump cuts, slow motion, etc.) para criar a tensão. Cheira a desonestidade, chegando ao extremo da cena com o sequestrador ainda criança assistindo obcecadamente o Silvio Santos na televisão, como se fosse o Arhur Fleck de Coringa (2019). E, nessa tentativa de criar um clima de terror, o vilão é o pai de Silvio Santos, um jogador viciado e bêbado que serviu de exemplo do oposto de quem o futuro empresário gostaria de ser.
Para piorar, é complicado olhar para Rodrigo Faro e enxergar o Silvio Santos. Muito se fala que ator não é imitador, e que ao personificar uma figura conhecida descarta-se qualquer obrigação de semelhança física. Faz sentido, mas sem ser uma obrigação, é uma ajuda e tanto. E Rodrigo Faro não se preocupa em se parecer fisicamente, e nem falar como seu personagem que é tão conhecido no Brasil. E isso só dificulta ainda mais apreciar esse filme já repleto de problemas.
Enfim, com tudo isso de errado, o filme Silvio não conta a biografia (impossível entender aqui como ele se tornou um fenômeno da televisão), nem consegue criar a tensão de um filme policial. E ainda chega aos cinemas num momento sensível para os fãs do biografado.
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Ficha técnica:
Silvio | 2024 | 112 min | Brasil | Direção: Marcelo Antunez | Roteiro: Anderson Almeida | Elenco: Rodrigo Faro, Johnnas Oliva, Vinícius Ricci, Fellipe Castro, Marjorie Gerardi, Eduardo Reyes, Bruna Aiiso, Duda Mamberti, Lara Córdula, Adriana Londoño, Polliana Aleixo, Ana Paula Lopez, Paulo Gorgulho.
Distribuição: Imagem Filmes.
Trailer: