O personagem Slender Man surgiu na época atual, em que a internet propaga ainda mais rapidamente as lendas urbanas. Eric Knudsen, sob o pseudônimo Victor Surge, criou essa figura fictícia em fotos que enviou para um concurso do fórum Something Awful, em 2009. Logo, o homem alto e magro, sem rosto e com tentáculos, viralizou. Não demorou muito para virar filme. Este Slender Man: Pesadelo Sem Rosto (2018) é uma das produções com maior orçamento sobre a lenda, mas é mais uma tentativa frustrada de se criar um novo ícone do terror.
A responsabilidade pelo roteiro caiu nas mãos de David Birke, que escrevera Elle (2016) e depois assinou Benedetta (2021), ambos filmes de Paul Verhoeven. Porém, antes não havia feito nada de grande valor. Birke coleta as lendas sobre o Slender Man e transforma em um típico terror com um monstro sobrenatural. Quase como Freddy Krueger, ele ataca se infiltrando na mente das vítimas, que são contaminadas quando assistem a um vídeo. Aliás, vem daí o subtítulo nacional que tenta remeter a A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984).
O filme parece truncado, e, segundo o IMDb, a distribuidora Sony realizou vários cortes de última hora diante das péssimas reações nas exibições para teste. Alguns são bem evidentes, como a cena do desaparecimento da primeira vítima, que mostra a menina olhando para a floresta e logo depois, com um inapropriado corte seco e não um fade-out, a polícia e a comunidade procurando a garota sumida. Da mesma forma, há um corte seco semelhante após o pai dessa garota invadir a casa da amiga. O diretor Sylvain White é daqueles profissionais que trabalham impessoalmente, apenas cumprindo suas tarefas. Por isso, tem inúmeros créditos de direção de episódios de séries. Mas, não viria dele a salvação desse projeto.
Um filme sem rosto
A história demora para começar, pois perde um tempo imenso apresentando as quatro protagonistas (e vítimas em potencial) que são completamente desinteressantes. Uma delas, pelo menos, tem um pai alcoólatra, mas as demais não apresentam nada que uma personagem ficcional deveria ter. São adolescentes à toa que inadvertidamente invocam o tal Slender Man.
Além disso, alguns personagens desaparecem da história, sem deixar claro se eles morreram. E, pior ainda, o filme não consegue definir se o Slender Man pode provocar danos na vida real ou se é só uma aterrorizante alucinação. Tudo parece muito jogado e sem um direcionamento. Só para exemplificar, quando uma das protagonistas começa a namorar no sofá, e vê o Slender Man no lugar do garoto, ela está em perigo ou só assustada pela sua imaginação?
Um dos motivos para essa confusão, aparentemente, vem da indefinição do público-alvo. Slender Man: Pesadelo Sem Rosto foi lançado com censura 12 anos, mas suas personagens principais parecem mais velhas. Além disso, para conseguir essa classificação indicativa, há uma atenuação forçada, que leva à supressão de mortes violentas na tela. Até a tensão está afrouxada, pois o filme não traz nem jump scares nem um clima sombrio.
Enfim, era melhor realizar um filme mais forte para um público mais adulto, ou então um terror leve para crianças. Esse meio termo estragou tudo.
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Ficha técnica:
Slender Man: Pesadelo Sem Rosto (Slender Man, 2018) EUA, 93 min. Dir: Sylvain White. Rot: David Birke. Elenco: Joey King, Javier Botet, Annalise Basso, Julia Goldani Telles, Jaz Sinclair, Kevin Chapman, Michael Reilly Burke, Taylor Richardson, Kallie Tabor, Jessica Blank, Kayla Caulfield.
Sony Pictures
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