Softie se inclui no mesmo grupo temático de Close (2022) e Monster (2023), dois filmes recentes que lidam com a sexualidade infantil. Mas esse longa francês, o segundo da carreira de Samuel Theis, traz um protagonista mais novo. Johnny (Aliocha Reinert) tem apenas dez anos. Porém, é muito precoce para sua idade, devido ao amadurecimento antes da hora por causa das duras condições em que vive. Sua mãe cuida sozinha dos três filhos (Johnny é o do meio), enquanto precisa trabalhar sem abrir mão de continuar a namorar como uma mulher solteira. E já que o filho mais velho não ajuda em nada, sobra para Johnny assumir a responsabilidade sobre a caçula da casa.
O filme começa quando a família necessita se mudar de casa. Por causa disso, Johnny e sua irmã precisam ingressar em uma nova escola. Ao mesmo tempo, a turma de Johnny recebe um novo professor, Jean (Antoine Reinartz). Em uma cena, descobrimos que a mãe de Johnny considera que o filho é mole demais (o “softie” do título), e que devia revidar fisicamente as provocações de uma turma de garotos. O professor Jean percebe a introspecção do garoto, e passa a lhe dar mais atenção, até porque ele demonstra muitos talentos especiais como aluno. Contudo, essa dedicação desperta sentimentos que o próprio Johnny ainda não compreende.
Autodescoberta
Embora a narrativa assuma a perspectiva de Johnny, não sabemos o que se passa em sua mente. Não se trata de um truque para fisgar o espectador, mas reflexo da incompreensão do próprio menino. Ele ainda não entende por que se sente atraído pelo professor, por que gosta tanto dele. Uma eventual conversa com uma adolescente, a proximidade do irmão com a namorada, o relacionamento da mãe com seu novo parceiro, enfim, tudo isso é captado pelo radar de Johnny. Sua mente tentar processar essa informação, mas a imaturidade transforma tudo em confusão. Numa cena que surpreende, ele parte para uma ação equivocada, sem saber das consequências. Estas não são aqui exploradas, mas dariam um outro filme. Samuel Theis prefere manter o enredo o mais próximo de suas experiências, o que significa não explorar o potencial melodramático.
Por isso, tudo termina de maneira abafada. Exceto pelos gritos de Ian Gillan em “Child In Time”, do Deep Purple, uma escolha nada óbvia para encerrar o filme e que aqui ganha uma ressignificação. Johnny desperta plenamente para a sua sexualidade, ainda que de forma prematura. Canta e dança, dublando a música, como se fizesse um dueto com o personagem Tiquinho do filme brasileiro Pedágio (2023), de Carolina Markowicz.
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Ficha técnica:
Softie | Petite Nature | 2021 | 93 min | França | Direção e roteiro: Samuel Theis | Elenco: Aliocha Reinert, Mélissa Olexa, Antoine Reinartz, Izïa Higelin, Jade Schwartz, Ilario Gallo.
Distribuição: Pandora Filmes.
Assista ao trailer aqui.