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Poster do filme "Stars at Noon"
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Stars at Noon | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

A grande fase da realizadora francesa Claire Denis aconteceu entre os anos 1990 e meados dos anos 2000. Uma das maiores responsáveis pela popularização, entre críticos e teóricos, do conceito de cinema de fluxo, Denis começou a decair quando esse conceito meio vago começou a se mostrar um beco sem saída no final da década retrasada.

Por vezes, o cinema de fluxo não era o mais adequado ao material que se tinha em mãos, mas inúmeros cineastas o adotavam a priori, simplesmente por estar na moda, sem procurar fazer com que seu olhar, sua inquietação, o chamasse. Desse tipo de cinema, parece ter restado, nos filmes de Claire Denis, apenas a câmera próxima aos atores e atrizes, tremendo mais ou menos conforme a cena ou o filme. Penso que a cineasta percebeu o beco sem saída e precisou de um tempo, e alguns filmes, para encontrar um desvio.

Stars at Noon

Stars at Noon, seu mais recente longa, é o melhor em muitos anos. Talvez desde 35 Doses de Rum. A câmera nunca foi o ponto forte de seu cinema. Ela costuma compensar de outros jeitos. Um tratamento interessante com o elenco, por exemplo. Nesse sentido, este longa tem um charme inesperado, principalmente pela soltura da protagonista, Trish, vivida por Margaret Qualley (filha de Andie MacDowell que chamou a atenção em Era Uma Vez em Hollywood, de Tarantino).

Trish é uma moça perdida entre a tentativa de ser jornalista e a realidade de ser meio prostituta para se bancar num país tendo o passaporte confiscado após uma matéria que desagradou as autoridades. Sua malemolência e seu carisma meio juvenil remetem à personagem que interpretou para Tarantino, mas aqui ela é o centro, a razão de ser do filme.

Há também a ambientação na Nicarágua, país com democracia bem fragilizada, onde há soldados com metralhadoras por todos os lados. O filme se situa no auge da pandemia. Vemos muitos personagens usando máscara, embora os principais do filme pareçam imunes ao vírus. Usam máscara ocasionalmente, talvez para situar a trama num tempo específico (a pandemia num estágio pós-vacinação).

Quando Trish conhece um inglês misterioso, Daniel (Joe Alwyn), ambos são envolvidos por um clima de thriller assombrado por uma estranheza que remete à nouvelle vague ou ao cinema de Jim Jarmusch. Uma das melhores sequências surge quando Trish despista um policial costarriquenho que estaria seguindo o inglês num mercado popular. Um exemplo de cinema de espionagem industrial com viés autoral, uma imitação carismática de cinema hollywoodiano com um toque de subversão por uma francesa que agora filma internacionalmente.

Subversão

A subversão está na direção de Denis, no modo como o elenco diz as falas, na recusa ao formato consagrado do thriller. Até na câmera meio incerta, que por vezes consegue resultados fortes. E na maneira como a situação política permeia a trama, que me lembrou o Fassbinder do final dos anos 1970 – algo entre A Terceira Geração e Lili Marlene, embora o estilo vá para outro lado.

Numa época em que os grandes do passado se foram, salvo honrosas exceções, e os grandes do futuro ainda não apareceram ou se confirmaram, a volta de uma quase grande cineasta do passado recente é muito bem-vinda.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Stars at Noon | 2022 | 135 min | França, Panamá, EUA | Direção: Claire Denis | Roteiro: Claire Denis, Léa Mysius | Elenco: Margaret Qualley, Joe Alwyn, Benny Safdie, Danny Ramirez, Nick Romano.

Onde assistir:
Homem loiro olha nos olhos de Margaret Qualley com suas mãos na cabeça dela
Stars at Noon (cena do filme)
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