Em Trono Manchado de Sangue, adaptação de Macbeth, de William Shakespeare, Akira Kurosawa homenageia o tradicional teatro Nô. Este está presente em vários momentos na interpretação dos atores, principalmente o casal protagonista, vivido por Toshiro Mifune e Isuzu Yamada.
A trama
Kurosawa aproveita os nevoeiros naturais da região do Monte Fuji para reforçar o misticismo da estória, introduzida através de um canto como se fosse uma lenda a ser narrada. Nesse ambiente nebuloso, Washizu (Mifune) e Miki (Akira Kubo) encontram um espírito que lhes revela uma premonição. Segundo ela, Wishizu se tornará o lorde do Castelo da Teia de Aranha e o filho de Miki o sucederá. O relato abala Washizu, principalmente depois que ele é influenciado pela sua ambiciosa esposa Asaji.
Quando o lorde atual do Castelo da Teia de Aranha se hospeda no castelo de Washizu, este aproveita a situação para matá-lo. Para executar esse plano, sua mulher Asaji dopa os guardas que escoltam o lorde. Vestindo um quimono longo e justo, Asaji se move a passos curtos, quase sem levantar os pés do chão. Esse modo de caminhar distingue-a de uma pessoa, e ainda copia os movimentos lentos do teatro Nô. Então, toma à força o controle do Castelo da Teia de Aranha. Para que a segunda parte da premonição nunca se concretize, Washizu manda assassinar seu amigo Miki e o filho desse. Porém, Yoshiaki, o filho, consegue escapar.
Logo, a fim de vingar o assassinato do pai, Yoshiaki reúne os outros reinos para um poderoso ataque contra Washizu. Antes que alcancem o Castelo da Teia de Aranha, Asaji enlouquece de arrependimento pelos seus atos desumanos. Em cena tocante, ela tenta desesperadamente lavar suas mãos que supostamente estão cheias de sangue. Então, os soldados de Washizu se rebelam contra o chefe, pois o julgam indigno de suas devoções. Na famosa cena final, duzentos arqueiros atiram contra o ex-líder, que sucumbe.
Atuações
Quem não está familiarizado com o teatro Nô pode pensar que as interpretações dos atores são exageradas. Porém, o que se deve compreender é que o que eles buscam, e alcançam magistralmente, é usar os seus rostos como se fossem as máscaras usadas nesse teatro. Por isso, os olhos estão arregalados, e os movimentos abruptos, ou extremamente lentos.
Além disso, a música estridentemente aguda, característica do Nô, carrega as cenas com alta dramaticidade. Aliás, vale destacar que essa caracterização Nô se restringe somente a algumas sequências, aquelas que são mais operísticas, compondo uma bela obra com várias camadas.
Ficha técnica:
Trono Manchado de Sangue (Kumonosu-jo, 1957) Japão, 110 min. Dir: Akira Kurosawa. Rot: Hideo Oguni & Shinobu Hashimoto & Ryuzo Kikushima & Akira Kurosawa. Elenco: Toshiro Mifune, Isuzu Yamada, Takashi Shimura, Akira Kubo, Hiroshi Tachikawa, Minoru Chiaki, Takamaru Sasaki, Gen Shimizu.
Assista: entrevista com Akira Kurosawa
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