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Vivendo no Abandono (filme)
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Vivendo no Abandono

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

“Vivendo no Abandono”: Obrigatório para quem quer fazer cinema

François Truffaut prestou seu tributo definitivo ao cinema, na visão dos realizadores, em “A Noite Americana” (La Nuite Américaine, 1973). Tom DiCillo faz o mesmo em “Vivendo no Abandono”, mas sobre outra categoria de filme, enfocando uma produção independente. Com isso, a paixão é a mesma, os problemas, porém, são outros.

“Vivendo no Abandono” divide-se em três partes. Na primeira, acompanhamos o diretor Nick Reve (Steve Busceni) e sua equipe tentando filmar uma cena dramática com as atrizes Nicole (Catherine Keener) e sua mãe (Laurel Thornby). É de manhã bem cedo, e a fotografia em preto e branco enfatiza o esforço de todos estarem lá nesse horário. As únicas cenas em cores são aquelas capturadas pela câmera diegética.

O filme demonstra as dificuldades da produção independente, e de uma filmagem em geral. São necessárias várias tomadas, pois em cada tentativa um problema aparece. Por exemplo, o microfone boom aparece no quadro, o foco se perde quando a câmera se aproxima das atrizes, o som alto de um carro na rua pode ser ouvido no estúdio, uma lâmpada estoura, uma das atrizes se esquece da sua fala, etc. Apesar do nervosismo estampado em Nick Reve, as situações são cômicas. A melhor performance da dupla de atrizes acontece inesperadamente, quando um gesto simples da mãe atinge o sentimento íntimo de Nicole, que deixa suas emoções fluírem. Para desespero do diretor, porém, ela não foi filmada. Então, a câmera agitada, os cortes drásticos, closes em cada personagem, demostram a perda de controle de Nick Reve.

Comédia e obstáculos

Na segunda parte de “Vivendo no Abandono”, totalmente em cores, o ator principal tem chiliques e cria problemas com o diretor e com Nicole, com quem dormiu na noite anterior. O tom é mais leve e há mais comicidade nessa sequência. Mas, como antes, eles precisam rodar várias tomadas e a cena nunca termina. Desta vez, a atriz principal sente que se apaixonou pelo diretor.

A última parte brinca com a estrutura do filme, pois mostra a filmagem de uma cena de sonho. Logo, descobrimos que os dois primeiros segmentos foram pesadelos do diretor e da atriz, respectivamente. Desta vez, o roteiro da produção coloca Nicole no centro de um cenário estilizado, e um anão (Peter Dinklage, de “Game of Thrones”) a rodeia segurando uma maçã em uma das mãos. Além de problemas técnicos, como a máquina de fumaça que enguiça, desentendimentos entre os namorados interpretados por Danielle von Zerneck (a atriz de “La Bamba” que faz a assistente de direção) e Dermot Mulhoney (de “O Casamento de Meu Melhor Amigo”, que faz o câmera) e, principalmente, a rebeldia do ator anão, se tornam obstáculos para o trabalho de Nick.

Aliás, em uma cena emblemática, Peter Dinklage aparece no quadro em primeiro plano e Nick está ao fundo, em segundo plano. Assim, a imagem mostra que o ator possui o poder de decidir o que quer fazer, inclusive desobedecer ao diretor.

Agruras de um filme independente

Quando estão prestes a finalizar essa última cena, o técnico de som pede trinta segundos de silêncio para capturar o som ambiente. Durante esse tempo, alongado no filme, acompanhamos os ensejos de cada personagem. Nick, por exemplo, se imagina discursando ao receber um prêmio. A assistente de direção fantasia uma cena de sexo com o ator principal. Já Nicole quer uma vida longe do cinema. Dessa forma, com humor, desfila a diversidade de objetivos dos membros da equipe.

Enfim, “Vivendo no Abandono” retrata fielmente as agruras de uma produção independente. Alterna momentos de humor e outros extremamente dramáticos, aduzindo que fazer filmes de baixo orçamento requer muita paixão. A autenticidade de filme B transparece nas telas, porque, de fato, o próprio filme de Tom Dicillo contou com um orçamento reduzido, de apenas US$ 500.000. Com tudo isso, a metalinguagem do filme o credencia como integrante de qualquer lista de filmografia obrigatória para um estudante de cinema.


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