A força do filme Trumbo – Lista Negra reside no seu objeto, o retrato da perseguição sofrida pelo roteirista Dalton Trumbo nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Tal ostracismo o deixou sem trabalho com o boicote da indústria de Hollywood, e até o levou à prisão. Tudo isso porque ele era comunista.
A história começa em 1947 com a carreira de Trumbo no auge. Ele assina um contrato milionário de exclusividade com os estúdios da MGM. Porém, o ambiente de paranoia da Guerra Fria entre EUA e URSS contamina a sociedade americana. Então, surge o Comitê de Atividades Antiamericanas, que coloca Trumbo na Lista Negra de 10 nomes de Hollywood. Diante disso, a MGM quebra o contrato unilateralmente, e Trumbo, para sobreviver, começa a escrever roteiros sob pseudônimos.
Hedda Hopper, ex-atriz e influente colunista sobre celebridades, é uma ativista de direita empenhada em derrubar Trumbo e seus amigos comunistas. No entanto, o talento do roteirista fala mais alto. Por isso, ele ganha o Oscar pelo roteiro do filme Arenas Sangrentas (1956), que assinou com o nome de Robert Rich, e mais filmes lhe chegam às mãos. Logo, Otto Preminger e Kirk Douglas disputam seu talento para os seus filmes, Spartacus (Spartacus, 1960) e Exodus (Exodus, 1960), respectivamente. Assim, e Trumbo aproveita a chance para que eles sejam os primeiros títulos a finalmente exibirem seu nome nos créditos.
O filme dirigido por Jay Roach
Como filme, Trumbo – Lista Negra é mediano. Na verdade, a direção de Jay Roach se destaca somente em duas sequências. Na inicial, quando a câmera passeia pelos cartazes das famosas produções cinematográficas baseadas nos roteiros de Dalton Trumbo. Dessa forma, evidencia visualmente que ele é um escritor de muito talento, como Alfred Hitchcock fez em Janela Indiscreta (1954). A sequência traz o som de jazz da época, com a bateria ritmada com o datilografar de Trumbo.
Além desta, a outra bela cena mostra Trumbo emocionado na sessão de estreia de Spartacus. É o momento em que ele, finalmente, vê seu nome creditado na tela depois de tantos anos de ostracismo. Com belo efeito visual, os vidros de seu óculos refletem o seu nome.
Fora isso, o filme merece ser visto pela relevância histórica dos fatos nele narrados. Assim, mostra que Trumbo era comunista ativo, mas, sua crença ideológica não podia ser considerada um crime, e a Primeira Emenda da Constituição americana defendia essa liberdade. A perseguição aos artistas comunistas foi desumana, fruto da histeria que tomou conta do povo americana, e arruinou suas vidas, tanto econômica como socialmente. Aliás, Hollywood teria sofrido uma carência de talento, se não fosse a alternativa que Trumbo e outros encontraram, de trabalhar sob pseudônimos.
Lista negra revisitada
Agora, tantos anos depois, a história faz justiça, denegrindo as atitudes de nomes consagrados. Por exemplo, de John Wayne (ativista radical de direita e anticomunista), Edward G. Robinson (que delatou seus colegas comunistas) e Louis B. Mayer (que cedeu às pressões da indústria e demitiu seus empregados com essa crença política). Mas, principalmente, de Hedda Hopper, que é demonizada como a maior perseguidora dos artistas de esquerda.
Por fim, a redenção de Trumbo acontece no momento em que John F. Kennedy assiste a uma sessão de Spartacus. Mesmo com os apelos de boicote geral vindos do Comitê de Atividades Antiamericanas, o presidente ainda elogia o filme. Então, Hopper e os apoiadores do boicote se sentem forçados a abandonar o discurso segregacionista.
Elenco
Por outro lado, o elenco é um grande trunfo do filme. Bryan Cranston, no papel de Trumbo, prova seu talento tardio, depois de ficar famoso como o Walter White das cinco temporadas (2008-2013) da série Breaking Bad. Aliás, o ator não precisou se diferenciar muito de White para mostrar a sofrida agonia e, ao mesmo tempo, a confiança, que Trumbo demonstra diante da perseguição que sofreu.
Ademais, a veterana Helen Mirren constrói uma abominável Hedda Hopper. A colunista age como uma abutre, atacando os comunistas para atrair mais leitores para sua coluna de fofocas, uma vilã que os espectadores são conduzidos a odiar.
Enfim, mesmo sem ser um filme brilhante, Trumbo – Lista Negra prende a atenção por tratar de um tema tão absurdo. E que ecoa ainda hoje, opondo radicalmente capitalistas e comunistas.
Ficha técnica:
Trumbo – Lista Negra (Trumbo, 2015) EUA 124 min. Dir: Jay Roach. Rot. John McNamara. Elenco: Bryan Cranston, Helen Mirren, Diane Lane, Elle Fanning, John Goodman, Michael Stuhlbarg, David Maldonado, John Getz, David James Elliott, Madison Wolfe, James DuMont, Louis C.K., Richard Portnow, Dean O’Gorman, Christian Berkel, Mark Harelik.
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