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Um Herói (filme)
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Um Herói

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Em Um Herói, o iraniano Asghar Farhadi coloca sua apurada visão analítica do comportamento humano em um enredo hitchcockiano. Como nos filmes do cineasta inglês, o protagonista se envolve num emaranhado de erros gradativamente mais complicado de desenrolar. Lembramo-nos de Intriga Internacional (North by Northwest, 1959), mas, em especial, de O Homem Errado (The Wrong Man, 1956), por tratar da prisão do personagem principal.

Rahim planeja voltar à liberdade, vendendo as moedas de ouro que sua namorada encontrou na rua. Porém, abdica da oportunidade de sair da cadeia, onde cumpre pena por uma dívida com seu ex-cunhado, ao devolver o ouro ao seu dono. Inesperadamente, seu gesto vira notícia, e a comunidade se move para conseguir sua liberação, que depende da anuência do inflexível ex-cunhado.

Personagens

Para que esse enredo funcione, Um Herói se apoia, principalmente, na construção de seus personagens. Caso eles soem artificiais, o filme corre o riso de se tornar um pastiche. Mas, tal risco não existe em se tratando de Asghar Fahardi, pois construir personagens profundos é a sua especialidade. Aliás, esse talento foi um dos motivos essenciais para que a Academia premiasse dois de seus filmes com o Oscar de melhor filme estrangeiro – A Separação (Jodaeiye Nader az Simin), de 2011, e O Apartamento (Forushande), de 2016.

Para isso, Fahardi molda os personagens com diferentes camadas, sem deixar espaço para o maniqueísmo. Por exemplo, o protagonista Rahim toma, com certeza, uma atitude louvável quando decide devolver a bolsa com o ouro ao seu legítimo dono. Não tinha segundas intenções, porém, situações subsequentes o induzem a ultrapassar os limites da honestidade. Nesse sentido, mente no programa televisivo e diz que foi ele que encontrou a bolsa. Mais adiante, já num momento de desespero, e de revolta, tenta ludibriar o gerente de RH que pode lhe dar um emprego.

Um Herói quebra as nossas expectativas, viciadas pelo cinema hollywoodiano, e apresenta um desfecho conformista, próximo da atitude do personagem de Henry Fonda em O Homem Errado, quando Alfred Hitchcock buscou inspiração no Realismo Italiano. A fim de nos surpreender, essa cena final começa com o protagonista irreconhecível, pois trocou a barba pelo bigode, raspou os cabelos e usa um boné. Além disso, é importante notar que seu filho o acompanha. Assim, a mise-en-scène nos induz a prever que, após enfrentar tanta injustiça durante o filme, o herói investirá numa empolgante fuga com o menino. A porta aberta, que Rahim encara enquanto aguarda sua chamada para voltar à prisão, se mantém na tela insistentemente, provocando-nos. Esperamos, e até torcemos, por um final feliz.

Compreender sem julgar

Sob outro aspecto, Um Herói evita o julgamento dos personagens e de seus comportamentos. Inclusive, do ex-cunhado, que permanece insensível quanto a retirar sua queixa contra Rahim. O filme lhe dá oportunidade de apresentar os seus argumentos, e compreendemos o quanto ele foi prejudicado por ter que pagar a dívida como fiador do então marido de sua irmã. Da mesma forma, entendemos a reação de sua filha (interpretada por Sarina Farhadi, filha do diretor), que quer prejudicar Rahim divulgando na internet o vídeo de seu comportamento agressivo. Para ela, este homem é o responsável por ela ficar sem dote e não poder se casar.

Por outro lado, o cinema de Asghar Farhadi agrada ao público em geral. Seus filmes possuem um ritmo ágil – Um Herói traz vários eventos que movem a narrativa em cenas não muito longas. E, os espectadores logo se identificam com os personagens, fortemente humanizados e despidos de artificialismo. Em suma, alinhando profundidade e emoção.


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