Um Limite Entre Nós (Fences, 2016) permite que brilhem a direção, o roteiro e o elenco. É a terceira vez que Denzel Washington dirige um filme. Ele realizou antes Voltando a Viver (Antwone Fisher, 2002) e O Grande Debate (The Greate Debaters, 2007). Nessas três ocasiões, Denzel também assumiu o papel do protagonista.
A trama
Aqui, ele vive Troy Maxson, um lixeiro de 53 anos que rala para sustentar sua esposa Rose (Viola Davis) e seu filho Cory (Jovan Adepo), de 17, em Pittsburgh nos anos 1950. Através dos diálogos, descobrimos seus dramas passados e presentes. Entre eles, seu filho mais velho, Lyons (Russell Hornsby), que cresceu sem a presença do pai, que estava na prisão. Para desgosto de Troy, Lyons se tornou um músico, ou seja, não um trabalhador como ele, erro que ele não quer cometer com Cory, a quem impede sonhar com uma carreira no futebol.
Enquanto esteve preso, conheceu seu até hoje melhor amigo Jim Bono (Stephen McKinley Henderson), companheiro na coleta de lixo. E, completando (aparentemente) esse quadro, está Gabe (Mykelti Williamson), irmão de Troy que sofreu uma lesão cerebral na Segunda Guerra Mundial e agora está mentalmente deficiente. Graças à indenização recebida por Gabe, Troy possui uma casa própria, onde constrói, aos poucos, a cerca do título original.
Origem teatral
O roteiro de August Wilson se baseia na peça que ele mesmo escreveu. Outra peça sua já virou filme, posteriormente: A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom, 2020), sobre uma cantora de blues interpretada também por Viola Davis. A fonte teatral fica evidente na primeira metade de Um Limite Entre Nós, palco de cenas com muito falatório entre os personagens. As falas, bem articuladas demais para soarem cotidianas, realçam a teatralidade. Cansam um pouco, mas a intenção do diretor Denzel Washington parece ser a de se manter fiel à peça. Por isso, se recusa a recorrer a flashbacks ou outros recursos mais cinematográficos para mover a narrativa.
Por outro lado, com isso permite que o elenco todo brilhe. Em especial, o próprio Denzel (indicado ao Oscar) e Viola (vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante). Inclusive, o “ensemble cast”, ou o conjunto de atores, também recebeu nomeações a vários prêmios. Aliás, na maior parte do filme, o protagonista Troy está presente em cena, o que até provoca uma sensação de que o roteiro é como um “bate-papo com Denzel”.
Revelação dramática
Aproximadamente na metade do filme, o roteiro traz uma revelação dramática que muda todo o contexto harmonioso do casal Maxson. Então, o que parecia uma obra feita para os atores se transforma em comprovação do talento do diretor. A confissão do adultério de Troy, e a reação de Rose ainda mantém o foco na atuação difícil que os talentosos atores principais interpretam com convicção. Logo em seguida, entra uma montagem, acompanhada por um jazz triste, que mostra as consequências do erro de Troy. Além de não se falarem mais, Rose passa a se dedicar à igreja, que nesse caso substitui o marido infiel. Troy se afunda na bebida, e a estremecida relação com o filho Cory se deteriora de vez.
Esse mergulho no melodrama transcorre num ritmo mais rápido do que na parte harmoniosa do filme. Na direção, Denzel Washington deixa de apenas movimentar a câmera acompanhando os atores. E ousa composições de quadro mais elaboradas. Por exemplo, na cena final, quando o portão de madeira da casa se fecha, mantendo a família de Troy dentro dos limites do quintal fechado com a cerca que ele construiu. E, a câmera aponta para o céu, de onde o falecido protagonista parece olhar com carinho.
Enfim, Um Limite Entre Nós destaca, separadamente, a força dos atores e da direção. Essa potência se comprova nos dois casos, mas o filme cresceria com a junção desses elementos numa composição única predominante.
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Ficha técnica:
Um Limite Entre Nós | Fences | 2016 | Estados Unidos, Canadá | 139 min | Direção: Denzel Washington | Roteiro: August Wilson | Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen McKinley Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson, Saniyya Sidney.
