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Uma Bela Manhã (filme)
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Uma Bela Manhã | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Lembro de quando Patrice Leconte reclamava que os críticos estavam impiedosos demais com o cinema francês, como se a mediocridade devesse ser ainda mais protegida do que é. Logo depois, pregou-se a necessidade de mais filmes do meio, em detrimento aos filmes franceses mais populares (e geralmente horríveis) e os mais intelectualizados, que deixavam as salas mais vazias. Com a morte de Godard, parece só ter sobrado os filmes populares e os do meio, o que não deve ser confundido com medíocre, mas é nesse meio que a mediocridade se esconde mais facilmente.

Mia Hansen-Løve não é bem uma cineasta medíocre, como Olivier Assayas, de quem se separou em 2016, tem conseguido ser. Mas ela tem se esforçado para entrar no grupo desde Eden (2014), embora nenhum de seus trabalhos seja realmente marcante. Vejo seus filmes torcendo para que ela consiga superar o tom habitual “classe média sofre”, com pitadas de “estou acima de tudo isso” (risco, aliás, que nós críticos sempre corremos quando escrevemos sobre filmes de que não gostamos).

Em Uma Bela Manhã, seu novo longa, Léa Seydoux interpreta Sandra, tradutora que cuida do pai doente e cego e da filha pequena. Ao mesmo tempo, ela se envolve com o cientista Clément, interpretado por Melvil Poupaud, homem casado, apaixonado por Sandra, mas sem coragem de deixar sua família.

Um filme dolorido

O filme é muito dolorido porque o pai de Sandra, Georg, é interpretado por Pascal Greggory, grande ator francês, e estamos no momento em que as filhas, a ex-esposa e a atual companheira decidem levá-lo a um hospital para tratamento e posterior transferência para uma casa de repouso. Por mais que ele não pareça bem o suficiente para ficar sozinho num apartamento, tirá-lo de seu lar é uma decisão fria, que pode até ser necessária, mas esses burgueses pragmáticos que a diretora costuma filmar a tomam com tremenda facilidade, com a exceção de Sandra, que claramente fica perturbada, mesmo sem ter força de contrariar as outras mulheres da família.

Sandra diz que se sente mais perto do pai, um intelectual, quando está com os livros que eram dele do que com ele mesmo. Os livros eram suas escolhas, sua biografia. Pelos livros que o pai lia e guardava nas estantes ela o conhecia muito bem. No entanto, como resistir à interpretação de Pascal Greggory, um desses atores que podem fazer qualquer papel e nos capturar pela sensibilidade?

Ele e Léa Seydoux, e também a pequena Linn (Camille Leban Martins), quando pensa ter uma dor na perna que a faz mancar, dão alguma graça a mais este filme do meio. Incapaz de fazer um único plano que nos tire o chão, o cinema de Hansen-Løve parece um prato dietético assado em banho maria e sem qualquer tempero forte, nada que afete um paladar acostumado a sabores suaves, nada que desestabilize.

A classe média francesa

A diretora filma a classe média francesa, geralmente formada por pessoas meio chatas, às vezes insuportáveis (como a mãe de Sandra, interpretada com muita afetação por Nicole Garcia), em outras vezes blasé, como Clément. A classe média do neoliberalismo, que a dos nascidos nos anos 1950 e 1960, representada pelo pai Georg, deve aturar por força das circunstâncias (a família, por exemplo). Não à toa, a atual companheira de Georg é uma imigrante, o oposto da afetação parisiense.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Uma Bela Manhã | Un Beau Matin | 2022 | 112 min | França, Reino Unido, Alemanha | Direção e roteiro: Mia Hansen-Løve | Elenco: Léa Seydoux, Pascal Greggory, Melvil Poupaud, Nicole Garcia, Camille Leban Martins, Sarah Le Picard.

Onde assistir:
Uma Bela Manhã (filme)
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