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Poster do filme "Uma Família Feliz"
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Uma Família Feliz

Avaliação:
4/10

4/10

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Crítica | Ficha técnica

Criador da série Bom Dia, Verônica (2020), e coautor dos roteiros de Praça Paris (2017), A Menina Que Matou os Pais (2021) e O Menino Que Matou Meus Pais (2021), entre outros créditos, Raphael Montes se tornou um nome em evidência na indústria audiovisual brasileira. Estreia em breve nos cinemas seu novo roteiro, Uma Família Feliz, que rendeu também um livro lançado pela Companhia das Letras.

Novamente, Raphael Montes aposta no mistério com reviravolta na trama. Eva (Grazi Massafera) é suspeita de agredir suas filhas gêmeas e não cuidar devidamente do seu bebê recém-nascido. O marido Vicente (Reynaldo Gianecchini), então, fará de tudo para protegê-los. A estória em si não é ruim, mas a forma como ela é contada desperdiça o que poderia, no mínimo, ser um digno filme de suspense.

Uma família nada feliz

Começa no clichê do flash-forward, recurso usado a rodo no cinema atual e que já perdeu a graça. Como costuma acontecer, esse trecho tenta chocar o público para que fique angustiado em saber como se chegou a esse ponto. Desde esse momento, até o final, o filme mantém a perspectiva de Eva. O que, sendo ela a suspeita principal, não parece ser a melhor escolha, salvo se ela demonstrasse dúvidas em relação à própria lucidez.

Na apresentação da tal família do título, o longa dirigido pelo experiente José Eduardo Belmonte falha em retratar a aparência exterior que a Eva grávida, Vicente e as filhas Sara e Angela teriam de felicidade plena. Sim, moram num condomínio fechado, numa bela casa, mas o carro deles não é chique (o que contribuiria para justificar a complicada situação financeira, repleta de dívidas a pagar), e o marido reclama que só ele trabalha de verdade, como advogado, enquanto a esposa cria bonecos à mão para vender na internet. Na festa de aniversário de 10 anos das gêmeas, está evidente o ciúme da mãe por nenhuma delas lhe dar o primeiro pedaço do bolo. Após o nascimento do bebê, Eva parece não gostar que o marido cuide dele.

Ruídos

Decisões erradas da direção causam ruído no storytelling. A música exagerada força um clima sombrio, mesmo quando ele não existe. Some-se a isso a dispensável tela preta após o parto, e a câmera noturna sobre o bebê com imagens em preto e branco que deixam os olhos dele pretos como se fossem o filho do diabo. Em outros momentos, inexplicavelmente, a câmera registra imagens a cores.

E, da mesma forma que na ineficiente apresentação da família feliz, um inadequado trecho no estilo comercial de margarina aparece na tela (com direito a música feliz – pelo menos, não é “Oh Happy Day” – e menina sorridente pegando o pão na torradeira), para caracterizar a harmonia da casa sem a mãe presente. Nem mesmo quando tenta dividir a tela mantendo duas personagens no quadro funciona: Eva fica do lado de fora da casa da amiga Solange, e esta fica dentro da casa em silêncio fingindo que não está lá. Nessa cena, o problema é que Solange está no escuro e o público mal consegue vê-la.

O roteiro, aliás, também tropeça, descuidando de detalhes importantes. Por exemplo, quando Eva e Vicente chegam em casa para a última noite juntos, ela comenta que a amiga Solange, que estava lá tomando conta das crianças, já foi embora. Como assim? Saiu e deixou duas crianças de 10 anos e um recém-nascido sozinhos na casa?  

Traindo o público

Mais grave, no entanto, é o pacote de informações que o enredo esconde do espectador, e depois as divulga no meio do nada, geralmente em um diálogo, sem dar a devida ênfase nesses pontos que são cruciais para o enredo. Parece até que há intenção quem está assistindo ao filme. Afinal, o longa omite elementos essenciais para a compreensão da estória, como a própria história do casal principal e a decorrente constituição da família como ela é hoje. E, para depois expor no meio da trama a fim de desorientar o público em sua construção de hipóteses. Além disso, a própria protagonista se mete em estratégias que não levam a lugar nenhum, até mesmo no final, quando retoma o flash forward. E tudo isso faz Uma Família Feliz parecer interminável, embora não tenha nem duas horas de duração.

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Ficha técnica:

Uma Família Feliz | 2023 | Brasil | 110 min | Direção: José Eduardo Belmonte | Roteiro: Raphael Montes | Elenco: Grazi Massafera, Reynaldo Gianecchini, Luiza Antunes, Juliana Bim.

Distribuição: Pandora Filmes.

Veja o trailer aqui.

Marido e esposa (com bebê no colo) sentados em duas cadeiras.
Cena de "Uma Família Feliz"
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