Baseado no musical da Broadway, o filme Wicked segue a mesma proposta de Malévola (2014), ou seja, de contar a origem de uma famosa bruxa má. No lugar da bruxa de “A Bela Adormecida”, quem ganha sua humanização é a Bruxa Má do Oeste de “O Mágico de Oz”. Nesses dois filmes, a bruxa não é originalmente má. Pelo contrário, são pessoas boas, mas que vão para o lado sombrio depois de sofrerem uma grande decepção.
Em Wicked, Elphaba (Cynthia Erivo) nasce com a pele verde. O enredo deixa subentendido que essa característica simboliza o fato de ela ser uma filha bastarda, fruto da infidelidade da mãe. Tal marca estigmatiza a menina, que sofre bullying quando criança e isolamento quando adolescente. Por conta de alguns mal-entendidos, ela acaba ingressando na escola onde sua irmã começa a estudar. Sua intenção era apenas cuidar da caçula cadeirante (interpretada por Marissa Bode, que realmente tem deficiência de locomoção). E Elphaba divide o quarto com a garota mais popular da turma, a bonita e rica Galinda (Ariana Grande).
Este longa-metragem de duas horas e quarenta minutos de duração representa a primeira parte de uma história dividida em duas. Aqui, a trama revela a transformação das duas protagonistas. A talentosa, porém solitária, Elphaba aprende a ser mais confiante e, assim, a controlar os seus poderes. E a popular Galinda desperta sua mais sincera empatia com a colega de quarto ao descobrir que ela lhe ajuda a se aproximar da professora de magia Madame Morrible (Michelle Yeoh).
As músicas
Por ser uma adaptação de um musical de teatro, Wicked está repleto de canções. Mas, nenhuma delas atinge aquele poder de contaminação que compele a plateia a cantar já na primeira vez que aparecem nas telas. Alguns trechos, especialmente quando protagonizados por atores que não são cantores, como Michelle Yeoh e Jeff Goldblum, se limitam a diálogos com melodias do que músicas de fato. Já Ariana Grande aproveita a sua estreia em um longa num papel principal para demonstrar sua capacidade de alcançar tons muito altos, enquanto Cythia Erivo expande seu talento como cantora demonstrado em breve trecho de Pinóquio (2022), como a Fada Azul, e em apresentações do musical “A Cor Púrpura”.
Na direção, Jon M. Chu reafirma sua intenção de dirigir musicais, demonstrado antes em Em um Bairro de Nova York (2021). Anteriormente, visitou outros gêneros, como a ação em Truque de Mestre: O 2º Ato (2018) e a comédia em Podres de Ricos (2018). Em Wicked, se destaca na sequência musical da biblioteca, quando emprega o melhor estilo dos clássicos do gênero com uma câmera acrobática se integrando à coreografia que inclui não só os dançarinos e cantores, mas também o próprio cenário que se move.
Por outro lado, ousa filmar a cena mais dramática do filme com uma dança silenciosa entre Elphaba e Galinda. O trecho surpreende porque se encontra dentro de um musical e se trata de um momento de total silêncio. Além disso, emociona e chama os holofotes para a virada da personagem Galinda. A versatilidade de Jon M. Chu ainda garante uma vibrante cena de ação final, abrindo espaço para que a Elphaba retorne como a Bruxa Má na segunda parte que já está em fase de pós-produção.
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Ficha técnica:
Wicked | Wicked: Part I | 2024 | 160 min. | EUA, Canadá, Islândia | Direção: Jon M. Chu | Roteiro: Winnie Holzman, Dana Fox | Elenco: Cynthia Erivo, Ariana Grande, Jeff Goldblum, Michelle Yeoh, Jonathan Bailey, Ethan Slater, Marissa Bode.
Distribuição: Universal Pictures.