Depois que acertou em cheio no excelente Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service, 2014), o diretor Matthew Vaughn ficou obcecado em repetir o sucesso e perdeu a mão. As duas sequências, Kingsman: O Círculo Dourado (Kingsman: The Golden Circle, 2017) e King’s Man: A Origem (The King’s Man, 2021), são decepcionantes. Chegou a hora, então, de partir para um outro material. Argylle: O Superespião (Argylle), seu novo filme, deveria ser esse novo rumo, mas só o nome muda. Vaughn continua correndo atrás do próprio rabo. Não é à toa que escala novamente Samuel L. Jackson e Sofia Boutella.
O cineasta inglês criou um estilo próprio de dirigir cenas de ação. O efeito modernoso reúne alterações nas velocidades (slow motion x superacelerado), música em sincronia com os golpes, câmera ágil, montagem idem, e piadas em meio à violência. Formato que funciona bem quando Vaughn o usa adequadamente, como fez no primeiro filme Kingsman, e no prólogo deste Argylle, que começa frenético, com o herói em cenas mirabolantes, repetindo o início dos exemplares da franquia James Bond.
Let’s twist again
O superespião da vez descobre, no final dessa sequência, que o chefe da sua agência é um traidor. Parece que a trama caminhará na direção de Missão Impossível (Mission: Impossible, 1996), de Brian De Palma. Nada disso, o roteiro repleto de viradas revela que está mais próximo de O Magnífico (Le Magnifique, 1973), de Philippe de Broca. Ou seja, tudo o que vimos nessa abertura representa o que está no mais recente livro da escritora Elly Conway (Bryce Dallas Howard), que criou o espião Argylle (Henry Cavill).
Após uma outra bela sequência de ação no estilo Vaughn, na qual o espião de verdade Aidan Wilde (Sam Rockwell) a salva de um vasto grupo de matadores num trem, ela descobre que sua vida está em risco. Acontece que os seus livros estão contando fatos muito próximos da realidade e, por isso, os vilões querem que ela adivinhe onde está um hacker com um arquivo secreto que ele roubou.
Pelo menos, esta é a primeira camada de uma trama que exagera nos plot twists e, por isso, acaba cansando e beirando o ridículo. Quando uma revelação bombástica explode na tela, outra já surge logo depois para desmenti-la. E, assim, continua até o final. Nem a cena pós-crédito fica imune a essa mania – e esse epílogo ainda comprova a obsessão de Vaughn por revisitar as glórias do primeiro Kingsman.
Maçante
O divisor de águas entre gostar ou não do filme está na ousadia do diretor de aproximar uma cena de ação (a dupla central enfrentando vários soldados inimigos bem armados) de um musical. Elly e Aidan lutam como se estivessem dançando, em meio a fumaças coloridas. Nesse ponto, o filme deixa de lado qualquer possibilidade de criar emoção por conta do combate, e arrisca que o público vai adotar esse clima farsesco, que talvez o considere belamente simbólico.
Mas, nessa cena, fica escancarada a inadequação dos atores que interpretam esses papéis principais. Bryce Dallas Howard e Sam Rockwell se afastam do modelo de heróis charmosos e atléticos do gênero espionagem. Provavelmente essa era a intenção do diretor, como o próprio Aidan afirma quando se apresenta a Elly, contrapondo-se ao Argylle dos livros vivido por Henry Cavill. Contudo, o impacto no público é negativo, pois mesmo com todos os efeitos esses dois nunca empolgam. Assim como o filme, que começa bem mas fica cada vez mais chato, minado pelo excesso de viradas na trama.
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Ficha técnica:
Argylle: O Superespião | Argylle | 2024 | 139 min | Reino Unido, EUA | Direção: Matthew Vaughn | Roteiro: Jason Fuchs | Elenco: Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Cavill, John Cena, Dua Lipa, Bryan Cranston, Samuel L. Jackson, Ariana DeBose, Catherine O’Hara, Sofia Boutella.
Distribuição: Universal Pictures.
Assista ao trailer aqui.