Assassino Sem Rastro (Memory) é um filme policial com um protagonista (vivido por Liam Neeson) sofrendo sintomas da Doença de Alzheimer. Curiosamente, o mesmo mal que enfrenta a personagem de Gloria Pires em A Suspeita, longa brasileiro do mesmo gênero programado para estrear em breve nos cinemas. A diferença essencial está no fato de Gloria interpretar uma comissária de polícia, enquanto Neeson é um assassino de aluguel. Mas ambos embarcam em sua derradeira missão dispostos a deixarem um legado de dignidade.
No caso de Alex Lewis (Neeson), só essa doença degenerativa poderia justificar seu empenho quase suicida em vingar a morte de uma adolescente. Ela era um de seus alvos, mas Alex desistira do serviço ao descobrir a sua idade. No entanto, não basta ele recusar a tarefa, ele precisa enfrentar pessoas poderosas, incluindo membros da polícia, envolvidos numa rede de aliciamento de menores. Por isso, acaba se aliando ao agente do FBI Vincent Serra (Guy Pearce), o outro protagonista do filme.
A estrutura narrativa apresenta os dois personagens principais agindo em paralelo. O fato de estarem em lados opostos da lei instiga o espectador a descobrir o que entrelaçará as duas tramas. E, acima de tudo, eles serão inimigos ou aliados? O prolífico Liam Neeson, mais uma vez, está impecável nas cenas de ação; assim, acreditamos facilmente em sua extraordinária eficiência como assassino contratado. Por outro lado, ele se torna interessante por não ser infalível, pois os sintomas do Alzheimer provocam perdas de memória cada vez mais frequentes. Já o agente do FBI, gradativamente, descobre mais podres na polícia, o que o leva a questionar a Justiça. Aliás, sentimento que está ligado a uma tragédia pessoal.
Experiência e coerência
A trama, além disso, ainda quebra alguns paradigmas em sua parte final. Com isso, até surpreende o espectador acostumado a filmes menos inspirados. Mas sem romper com as características dos personagens envolvidos, o que é importante para manter a coerência e não soarem como soluções baratas para impressionar o público.
Na direção, está o experiente Martin Campbell, responsável por 007 Contra GoldenEye (1995), 007: Cassino Royale (2006), e pelo recente A Profissional (2021). Sua competência pode ser conferida na cena do tiroteio no estacionamento, e, principalmente, no classudo assassinato na academia de ginástica.
Enfim, embora atue em uma média de mais de dois filmes por ano, Liam Neeson continua não desapontando seus fãs. Tal como seu personagem, Assassino Sem Rastro é tiro certeiro.
