Brian De Palma conta tudo nesse documentário
“De Palma” é um documentário sobre o famoso diretor de sucessos como “Os Intocáveis” (The Untouchables, 1987 ) e “Missão: Impossível” (Mission: Impossible, 1996). O filme tem direção a quatro mãos por Noah Baumbach e Jake Paltrow.
O formato é o de um longo depoimento, capturado basicamente em somente um cenário, com apenas uma câmera e sem alternar enquadramentos e planos. Fotos e imagens são inseridas durante os relatos de Brian De Palma. E, isso ajuda a manter o interesse no relato autobiográfico contado pelo cineasta em ordem cronológica. O relato cobre até seu filme de 2012, “Paixão” (Passion).
No início, temos a impressão de que o documentário assumirá certa ousadia, já que surpreende ao lançar como primeiras imagens trechos de “Um Corpo que Cai” (Vertigo, 1958) ilustrando uma afirmação de De Palma gravada durante a entrevista a respeito dessa obra admirada por ele. Aliás, ele não esconde que Alfred Hitchcock é a sua maior influência. Logo após essa introdução, entretanto, o filme assume a forma de depoimento ilustrado.
A parte que conta o início da carreira do entrevistado reúne imagens curiosas e raras dos seus filmes, quando ele fez alguns filmes enquanto estudava na Columbia University, tanto para o curso, como documentários para ganhar a vida. De seus primeiros longas de ficção, há cenas com um Roberto De Niro muito jovem também começando sua carreira.
Nova Hollywood
De Palma fez parte da turma que criou o movimento Nova Hollywood ao lado de diretores como Steven Spielberg, Martin Scorsese, George Lucas, Paul Schrader, Francis Ford Coppola, John Cassavetes e outros. Mas, ao contrário desses, notadamente Scorsese, De Palma não é um cinéfilo entusiasta, que cita inúmeros filmes pelos quais é apaixonado. Isso fica evidente neste documentário, que, inclusive, revela que suas influências, além de Hitchcock, vinham inicialmente da nouvelle vague, que possuía muito prestígio enquanto ele era estudante. Vem daí o tom anti-establishment de seus primeiros filmes.
Uma revelação importante surge da boca de De Palma a respeito de uma das suas marcas registradas: a tela dividida. Segundo ele próprio, isso surgiu quando filmou a peça teatral “Dionysus in ‘69” (1970), encenada de maneira experimental pelo “The Performance Group”. O uso da tela dividida nesse registro foi motivado pela intenção de mostrar simultaneamente o que se passava no palco e a reação na plateia. Em outros momentos de “De Palma”, ele comenta se ficou satisfeito – ex: “Irmãs Diabólicas”(Sisters, 1972) – ou não – ex: “Carrie, a Estranha” (Carrie, 1976) – com sua utilização em seus filmes.
Além disso, De Palma já atuou em várias funções no cinema e, com isso, consegue explicar muitas de suas decisões técnicas nos seus trabalhos. Ele ensina sobre edição, música, cenário, fotografia (em especial, posicionamento e movimento das câmeras), etc. com absoluto conhecimento, o que torna o documentário muito útil para estudantes de cinema.
Franca sinceridade
Acima de tudo, os depoimentos do cineasta revelam muita sinceridade. Ele admite erros em seus filmes, sem constrangimento. Aliás, também se mostra decepcionado com o resultado comercial de algumas produções que ele considera de grande qualidade. A respeito do fracasso nas bilheterias de “O Pagamento Final” (Carlito’s Way, 1993), por exemplo, ele comenta que o melhor que ele sabe está ali, e questiona o que mais precisaria fazer. Porém, depois ele admite que aceitou “Missão: Impossível” porque desejava mais um grande sucesso em sua carreira. Pelo lado mais pessoal, ele confessa ser um stalker, adora seguir mulheres pelas ruas e admite que espionou seu pai para descobrir que ele tinha uma amante.
Enfim, apesar de não inovar em seu formato, esse documentário merece elogio por conseguir um retrato interessante de uma figura que carece de carisma na tela. De fato, Brian De Palma olha constantemente para o lado superior esquerdo, inclinando sua cabeça, enquanto busca suas lembranças na memória. Não demonstra a paixão pelo cinema de outros diretores, como era de se esperar. Mas, o filme consegue extrair dele seus conhecimentos técnicos e sua franca sinceridade. E impagáveis repetições da interjeição, puramente espontâneas: “Holy mackarel!”.
Ficha técnica:
De Palma (De Palma, 2015) 110 min. Dir: Noah Baumbach, Jake Paltrow. Com Brian De Palma.
Assista: Noah Baumbach e Brian De Palma no Lincoln Center