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Poster de "Eu, Capitão"
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Eu, Capitão

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Através dos seus protagonistas ficcionais, Eu, Capitão (Io Capitano), revela o inferno que pode ser a jornada de quem emigra da África para a Europa. Inspirado nas histórias desses imigrantes, o filme parece reunir muito do que de pior pode acontecer nessa jornada. O relato que procura se aproximar dos fatos é contundente, mas são as belas cenas de alucinação que trazem os impactos mais fortes.

O diretor Matteo Garrone está acostumado a trabalhar com produções grandes. Seu filme anterior, por sinal, é a live-action Pinóquio (Pinocchio, 2019), que conta com Roberto Benigni no papel de Geppetto. Novamente, Garrone leva para as telas uma epopeia de um garoto, mas nesse novo filme ele tem 16 anos.

A epopeia de Seydou

Seydou e seu primo Moussa, da mesma idade, querem ir para a Europa para realizarem o sonho de serem músicos famosos. Então, reúnem o dinheiro para partirem de Dakar, no Senegal, com destino à Itália, sem contar nada às suas famílias. Logo, recorrem a trambiqueiros que realizam a viagem ilegalmente. Entre os perrengues, o transporte numa caçamba de jipe em alta velocidade e a árdua caminhada, ambos pelo Deserto do Saara. Um dos momentos mais cruéis é a tortura de uma facção criminosa na Líbia, que o filme não mostra em detalhes, para não deixar o tom pesado demais. Por fim, Seydou acaba sendo o responsável por pilotar, sem nenhuma experiência, um barco lotado de emigrantes. Trecho esse que dá o nome ao longa.

Apesar do seu desfecho, o enredo pretende provar que essa ideia de partir para a Europa para uma vida melhor é uma grande ilusão. Por isso, quando Seydou conta à mãe que vai embora, ela chora porque sabe que provavelmente perderá seu filho. E descreve tudo o que ele encontrará nesse caminho (e que realmente se concretiza, num grau ainda pior), além de acentuar que os imigrantes sofrem muito na Europa. De fato, a jornada de Seydou é um inferno. E o filme ressalta acertadamente o sentimento de desespero do garoto ao manter somente a sua perspectiva quando ele se separa do primo. Ainda jovem demais, o protagonista sofre com o sofrimento dos outros, e não aceita que as pessoas ao seu redor morram. Seu coração, na verdade, ainda não endureceu o suficiente.

Fantasia e sentimentalismo

Eu, Capitão possui duas cenas de fantasia. São as melhores partes do filme. Na primeira, Seydou tem uma alucinação depois de ver uma mulher morrer. A configuração dessa visão na tela é de uma beleza incrível, e se molda ao que devia sentir o menino naquele momento. A outra cena embarca no misticismo. A preparação é anterior, quando os dois garotos visitam um velho sacerdote que lhes dá um tipo de benção para a viagem. Ele ressurge quando Seydou está à beira da morte numa prisão, e um ser angelical o conduz até a sua mãe.

Porém, o filme se perde em um sentimentalismo apelativo toda vez que insere uma música (original ou regional) em cima de cenas da paisagem, com ou sem os personagens na tela. Tudo bem colocar esse recurso algumas vezes, mas a quantidade aqui é exagerada. Algumas soluções fáceis (como a libertação após um trabalho bem-feito) e a conclusão soam como concessões para agradar ao público. E, talvez, para deixar aberta a possibilidade de uma sequência, mostrando a dura vida no continente europeu.

Indicado ao Oscar pela Itália, concorre na categoria de melhor filme internacional. Ao lado do espanhol A Sociedade da Neve (La Sociedade de la Nieve, 2023), são os dois títulos mais popularescos nessa disputa.

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Ficha técnica:

Eu, Capitão | Io Capitano | 2023 | Itália, Bélgica, França | 121 min | Direção: Matteo Garrone | Roteiro: Matteo Garrone, Massimo Ceccherini, Massimo Gaudioso, Andrea Tagliaferri | Elenco: Seydou Sarr, Moustapha Fall, Issaka Sawadogo, Hichem Yacoubi, Doodou Sagna.

Distribuição: Pandora Filmes.

Assista ao trailer.

Onde assistir:
Menino conduz em sua mão uma mulher que levita no deserto
Cena de "Eu, Capitão"
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