Folhas de Outono (filme)
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Folhas de Outono

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Leva um tempo para entendermos a intenção de Folhas de Outono, o 22º longa do diretor finlandês Aki Kaurismäki. Logo de cara, os diálogos beiram o artificialismo porque parecem duros demais. Os personagens conversam sem papas na língua, mas não apresentam atitudes agressivas, não se exaltam, agem assim naturalmente. A principal graça do filme se concentra nas inesperadas situações oriundas dessa caracterização distorcida da sociedade. Talvez Kaurismäki queira rir de si mesmo, em nome dos finlandeses, considerados racionais e frios.

Quando o filme envereda pela comédia romântica, essa brincadeira se torna muito engraçada. Após irem ao cinema, os dois desconhecidos se despedem sem nem saber o nome um do outro. São tão não carinhosos que no segundo encontro, por acaso, se despedem com um aperto de mão. Depois, o jantar entre os dois personagens principais, Holappa (Jussi Vatanen) e Ansa (Alma Pöysti), se afasta totalmente da fofura tradicional do gênero. No lugar dos flertes, os dois trocam considerações duras. Só para se ter uma ideia, a noite termina com Ansa chamando o seu par de bêbado. Vão se separar, claro.  

Essa falta de sutileza contamina também a direção de Kaurismäki. Assim, as metáforas parecem propositalmente óbvias. Como, por exemplo, o fato de Ansa ser tão solitária que precisa comprar um prato e um par de talheres para receber Holappa para jantar. E o encontro é tão desastroso que ela joga fora esses utensílios após ele ir embora. Da mesma forma, as letras das músicas reforçam diretamente o que a cena em tela quer comunicar. Até o título do filme entra nessa onda, pois outono é o mês das folhas secas, e o longa reflete essa secura.

Cinefilia

Além disso, Folhas de Outono acena para os cinéfilos. Talvez seja esse um dos motivos que contribuíram para que o filme ganhasse o prêmio do júri no Festival de Cannes de 2023. Um desses acenos está nos cartazes na parede após o casal ir ao cinema. Entre eles, vemos o de Desencanto (Brief Encounter, 1945), de David Lean, que tem pontos muito similares com os deste filme. Além disso, eles acabam de assistir à comédia de terror Os Mortos Não Morrem (The Dead Don’t Die, 2019), e o comparam absurdamente a Bresson e Godard. Aliás, o próprio ator Jussi Vatanen é uma referência, pois se parece muito com James Stewart.

Enfim, já que o filme procura referências cinematográficas, caberiam a este romance, em que a sinceridade dura toma conta da sedução poética, títulos famosos como Amores Brutos e Os Brutos Também Amam. Revelariam essa comédia que faz rir da brutalidade em situações nas quais a ternura deveria prevalecer. Uma ideia desconcertante que dá muito certo depois que entendemos sua proposta.

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Ficha técnica:

Folhas de Outono | Kuolleet lehdet | 2023 | 81 min | Finlândia, Alemanha | Direção e roteiro: Aki Kaurismäki | Elenco: Jussi Vatanen, Alma Pöysti, Martti Suosalo, Alina Tomnikov, Janne Hyytiäinen, Sakari Kuosmanen.

Distribuição: MUBI / O2 Play.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
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