A série “Girlboss” se baseia no livro autobiográfico de Sophia Amoruso. Ela é uma jovem que criou uma loja virtual no eBay chamada Nasty Gal. O negócio estourou vendendo roupas usadas que ela modificava, e acumulou uma fortuna de 280 milhões de dólares.
Esse ponto de partida deve ter sido um chamariz para várias mulheres que já são ou buscam inspiração para serem empreendedoras de sucesso. É um tema com interesse em alta há mais de cinco anos e que dialoga com o empoderamento da mulher. Aliás, empoderamento retratado em recentes sucessos de bilheteria no cinema. Por exemplo, “Star Wars – O Despertar da Força” e “Mad Max – Estrada da Fúria”, ambos de 2015 e com mulheres fortes como protagonistas.
O fato de Sophia ter conquistado o sucesso tão jovem, e começando do zero, representa outro estimulante para se assistir a série. Até, quem sabe, como fonte de dicas de como seguir seus passos.
Humor centrado na personagem
Mas “Girlboss” tem outra pegada. A série, produzida pela Netflix, envereda pelo lado cômico. Assim, aposta que os espectadores acharão graça na personalidade desajustada da protagonista Sophia, que é extremamente egoísta e, no fundo, misantropa. Abandonada pela mãe quando criança, foi criada pelo pai, cujo amor ela despreza, mesmo adulta. É triste ver como ela o trata friamente, e o usa somente para pedir dinheiro. Ela faz todos ao seu redor sofrer, sua melhor amiga, seu namorado, o vizinho… até mesmo uma garçonete que a atende na lanchonete.
O sucesso da Nasty Gal, sua loja virtual, é elemento importante na trama, mas que torna Sophia uma pessoa ainda pior. Em sua primeira venda, ela volta ao brechó onde adquiriu a roupa por um baixo preço para jogar na cara do dono da loja que vendeu a peça com um enorme lucro, e se sente feliz por isso. E fica gradativamente mais convencida conforme os lucros aumentam. E se gaba disso para todos, como para o corretor de imóveis que lhe oferece uma sala para alugar. Além disso, é bagunceira e escrota, transforma seu quarto em um chiqueiro e come um pedaço de pizza com os pés.
O que funciona e o que não
Há algumas ideias que funcionam, principalmente as piadas visuais, que não dependem da personagem principal. A melhor delas é representar na tela, fisicamente, o que um chat na internet significa de maneira virtual. Ou seja, os participantes sentados ao redor de uma mesa redonda, aparecendo e desaparecendo conforme interagem no grupo. Essas intervenções cômicas de algumas situações que hoje se tornaram comuns funcionam para identificar o absurdo que existe nelas para quem enxerga de fora. Além disso, têm relação com o tema central da série: o sucesso de uma loja de e-commerce.
Contudo, a showrunner Kay Cannon, que mandou muito bem nos roteiros de “A Escolha Perfeita” (Pitch Perfect, 2012) e suas duas sequências, errou feio na construção da protagonista Sophia, vivida por Britt Robertson, de “O Espaço Entre Nós” (The Space Between Us, 2017). Como “Girlboss” não se concentra no caminho do sucesso da loja virtual, mas na personagem, a série dependia que os espectadores criassem empatia com Sophia, o que é muito complicado, porque ela é uma garota bem nojentinha, aliás, bem “nasty gal”.
E, de fato, a série não passou da primeira temporada. Foi cancelada e teve destino semelhante à própria loja Nasty Gal, que faliu em 2016.
Ficha técnica:
Girlboss (Girlboss, 2017) EUA. 13 episódios de 26 min. Criado por Kay Cannon. Elenco: Britt Robertson, Ellie Reed, Johnny Simmons, Alphonso McAuley, RuPaul, Dean Norris, Jim Rash, Cole Escola, Amanda Rea, Melanie Lynskey.