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Império da Luz (filme)
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Império da Luz | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Não há nada de errado com o saudosismo, a não ser quando nos paralisa. Se quisermos mudar o termo para nostalgia, ampliamos o sentimento, mas continuamos na mesma. A questão não é nos sentirmos nostálgicos com algum passado que não volta, é nos penalizarmos por essa impossibilidade.

Sam Mendes faz, com Império da Luz (Empire of Light), um filme saudosista. Em duas etapas: primeiro, o palácio de cinema Empire, que funcionava entre 1980 e 1981 na costa sul inglesa. Segundo, por toda uma ala desse cinema que permanece fechada, mas no passado pertencia a um palácio ainda maior, incluindo um piano para acompanhar filmes mudos.

Ou seja, dentro do saudosismo dos anos 1980, em que Mendes cresceu, existe um outro saudosismo, em que o dono do cinema, Donald Ellis, vivido por Colin Firth, deve ter crescido. Donald tem um caso com a gerente, Hilary (Olivia Colman). Não sabemos de início até que ponto se trata da vontade dela, mas a maneira como Donald a trata vai sendo amaciada durante o filme, ao menos até a metade.

Racismo

Os demais funcionários saúdam o recém-chegado Stephen (Micheal Ward). Ele não é mal-intencionado, mas tem hábitos infantis como o de imitar clientes, no que consegue a cumplicidade de Janine (Hannah Onslow). Ele é fã do ska da gravadora Two Tone, que proclama a união entre brancos e negros e o fim do racismo. Stephen será visto mais tarde por Hilary sendo vítima de nazistas enquanto caminhava pela praia.

Esse acontecimento transforma um pouco a maneira como Hilary o vê. Antes, existia uma atração física, que agora estaria, momentaneamente, soterrada pela pena. O que não impede que entre eles aconteça um relacionamento amoroso, em que o racismo crescente da Inglaterra sob o comando da nefasta Margaret Thatcher será um obstáculo. O racismo, afinal, implicará em alguns traumas pesados no filme.

Numa das cenas mais fortes do filme, Stephen e Hilary estão sozinhos na parte de cima do ônibus, quando surge um homem, por trás, e senta. Sem olhar para trás, Stephen pressente a ameaça racista e para de abraçar Hilary, postando-se de maneira mais séria, distante.

Qual é o lugar do negro nesse tipo de sociedade? Há alguma diferença entre a época de Thatcher e a época do Brexit? Sam Mendes parece acreditar que não, e talvez esteja certo. A crueldade e o reacionarismo no mundo andam em círculos. Quando parecem represados, irrompem com força causando revolta em pessoas civilizadas.

Na segunda metade, o saudosismo é ultrapassado pela saúde mental de Hilary, que se agrava, o que a obriga a passar mais um tempo num manicômio. Stephen aprende o serviço de projecionista, a mágica das duas “cigarette burns” que avisam da necessidade de trocar o rolo. Nostalgia e o drama da vida dão as mãos e finalmente conhecemos onde mora Stephen.

O Sam Mendes autoral

O mais duro de Império da Luz é notar que o filme precisa que as duas facetas coexistam para não desmoronar. O lado saudosista tem algumas cenas bem piegas, como a do ensinamento do mecanismo de projeção ou a da festa de boas-vindas para Hilary, após um afastamento. A invasão de uma faceta na outra provoca momentos terríveis como o do senhor que afronta Stephen porque não podia entrar com comida na sala de cinema, ou Hilary discursando na pré-estreia de Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981), de Hugh Hudson.

Conforme avança, vai ficando cada vez mais difícil para o filme se manter de pé. Fosse um desses mastodontes de duas horas e meia para cima e teríamos, provavelmente, um desastre. Com seus 115 minutos, o filme termina quando já começa a cansar de fato na indecisão entre a crítica social e o drama de um relacionamento difícil.

Até que está razoável para Sam Mendes, diretor com um único filme bom no currículo, justamente o menos autoral entre os que realizou, 007 Operação Skyfall (Skyfall, 2012) – 007 Contra Spectre (Spectre, 2015) é zero em autorismo, mas é terrível do mesmo jeito.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Império da Luz | Empire of Light | 2022 | 115 min | Reino Unido, EUA | Direção e roteiro: Sam Mendes | Elenco: Olivia Colman, Micheal Ward, Colin Firth, Toby Jones, Tom Brooke, Tanya Moodie, Hannah Onslow, Crystal Clarke.

Distribuição: Disney.

Trailer:
Império da Luz
Onde assistir no streaming:
Império da Luz (filme)
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