Lady Bird: É Hora de Voar representa o típico filme independente norte-americano, apesar de estar no limite do orçamento desta categoria, US$ 10 milhões. Dirigido e escrito pela atriz Greta Gerwig, a história é pessoal – autobiográfica, na verdade. Conta com filmagens em locações, e possui um nome forte no elenco, Saoirse Ronan, protagonista aqui e em Brooklyn (2015). Para funcionar, a personagem principal deve ser cativante. O que não é o caso de Lady Bird McPherson, e isso enfraquece o filme.
Talvez por Greta Gerwig procurar retratar fielmente como ela era com 17 anos, a personagem Lady Bird não ganha retoques para torná-la admirável. Provavelmente essa seja a proposta do filme, mas o efeito colateral é dificultar o interesse por ele. O roteiro se passa em Sacramento, CA, em 2002. Aborda um curto período de tempo, quando a garota estuda no último ano do fundamental e tentar ingressar em uma faculdade. As discussões com a mãe são constantes, afinal, Lady Bird possui inclinação artística e a mãe é durona e disciplinadora. Felizmente, para ela, o pai sempre lhe apoia. Entra no grupo de teatro e encontra seu talento, e também o primeiro amor, Danny (Lucas Hedges), enquanto reforça sua amizade com Julie (Beanie Feldstein).
Mudança de comportamento
Porém, uma decepção com Danny a leva a mudar seu comportamento. O namoro ingênuo dá lugar a busca pela primeira experiência sexual com Kyle (Timothée Chalamet), um jovem músico descolado. Sua amizade sincera com Julie dá lugar à relação de interesses com a rica e bonita Jenna (Odeya Rush). Para cativar a nova amiga, Lady Bird mente sobre sua família modesta. Desiste do teatro e se torna rude com todos na escola.
A personagem passa do insosso para o irritante. Além disso, o ponto de virada que a fará uma pessoa melhor é corriqueiro demais: a desilusão com a primeira transa, junto com a ida para uma boa universidade, em Nova York. Esses fatos, comuns a todas as pessoas, a fazem amadurecer. Por isso, Lady Bird desmancha a decoração adolescente do seu quarto na casa dos pais, pinta a parede e cobre com tinta os nomes dos dois ex-namorados. Uma óbvia metáfora de que essa fase de sua vida fica para trás porque ela vai morar em uma cidade grande e frequentar a universidade. As pazes com a mãe também surgem numa cena previsível, quando ela deixa o apelido Lady Bird de lado para usar o nome dado em seu nascimento.
Dirigido por Greta Gerwig
Este é o segundo filme de Greta Gerwig na direção. O primeiro é de 2008, Nights and Weekends, inédito no Brasil. Ela é mais conhecida como atriz de Frances Ha (2002) e de Mulheres do Século 20 (2016). Mas conseguiu agradar a Academia, e recebeu indicação ao Oscar de melhor direção e roteiro original. Saoirse Ronan, apesar do papel ingrato, também conseguiu indicação, para o prêmio de melhor atriz, juntamente com Laurie Metcalf, que interpreta sua mãe, que concorre como atriz coadjuvante. Lady Bird: É Hora de Voar teve a sorte de contar com Timothée Chalamet no elenco, que se encontra em evidência concorrendo como melhor ator pelo filme Me Chame Pelo Seu Nome (2017).
Pelo jeito, muitos membros da Academia se identificaram com as experiências da personagem Lady Bird. Só isso justifica que o longa-metragem de Greta Gerwig concorra a cinco Oscars, inclusive o de melhor filme.
Ficha técnica:
Lady Bird: É Hora de Voar (Lady Bird, 2017) EUA, 94 min. Dir/Rot: Greta Gerwig. Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Timothée Chalamet, Beanie Feldstein, Lois Smith, Stephen Henderson, Odeya Rush, Jordan Rodrigues, Marielle Scott, John Karna, Bayne Gibby, Laura Marano.
Assista: entrevista de Greta Gerwig sobre Lady Bird: É Hora de Voar