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20 + 5 + 5 | A lista de filmes do Godard por Sérgio Alpendre

Jean-Luc Godard (cineasta)
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Sempre que uma figura cinematográfica de grandes proporções se vai, cinéfilos em todos os estágios, do inicial ao avançado, seja lá o que isso queira dizer, começam a mergulhar em sua obra, conhecer os filmes que até então eram lacunas, rever outros que há tempos pediam revisão.

Pensando nisso, aceitei a sugestão do editor Eduardo Kaneco e elaborei uma lista de vinte filmes essenciais para conhecer Jean-Luc Godard.

Vinte é pouco para quem fez tantos filmes. Desse modo, tomei a liberdade de incluir mais cinco filmes difíceis, mas excelentes, para quem já tiver visto ou revisto os vinte iniciais, e mais cinco curtas, pois Godard os realizou às pencas também.

Listas em ordem cronológica.

HORS CONCOURS

História(s) de Cinema (Histoire(s) du Cinéma, 1988-1998)

Brilhante ensaio em oito capítulos. Filmado em vídeo e elaborado durante dez anos. Nada didático, mas absurdamente poético. Não é exagero dizer que todo o cinema cabe aqui.

20 FILMES ESSENCIAIS DE GODARD

Acossado (A Bout de Souffle, 1960)

O mais famoso e mais paradigmático da Nouvelle Vague, mas não o melhor (nem de Godard, nem da Nouvelle Vague). O uso ousado do faux raccord e do jump cut ainda chama a atenção. É um filme inferior a outros que não entraram nesta lista (Uma Mulher Casada e Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela, por exemplo). Mas por anunciar um diretor e sua modernidade agressiva, é essencial.

Viver a Vida (Vivre sa Vie, 1962)

Outro dos filmes mais famosos e celebrados do diretor. Este, sim, sua primeira obra-prima. A progressiva transformação da personagem de Anna Karina em uma prostituta, em seu filme mais mizoguchiano.

O Pequeno Soldado (Le Petit Soldat, 1963)

Lançado apenas em 1963 (censurado em 1960 pelo conteúdo explosivo em relação à Guerra da Argélia). É uma das melhores transcrições da linguagem literária para o cinema.

O Desprezo (Le Mepris, 1963)

Um dos melhores filmes da história do cinema. Qualquer outra descrição seria redutora. Trata-se de uma representação do fim de um relacionamento, em que o dinheiro é peça fundamental no fracasso do casal. Um pensamento sobre a necessidade, sempre discutível, de se vender.

Band à Part (1964)

Releitura deliciosa do filme de gangster. Nele, há a fórmula “clássico = moderno”, além da clássica cena de dança no bar.

O Demônio das Onze Horas (Pierrot le Fou, 1965)

Outro dos melhores filmes da história do cinema. Ao mesmo tempo em que funciona como uma súmula de sua carreira até aqui (rebelião contra a sociedade, movimento ao sul, traição feminina), antecipa a fase maoísta, mas de forma ainda menos panfletária, e ainda zomba dos soldados americanos envolvidos com a Guerra do Vietnã. Uma “tentativa de cinema” extremamente talentosa, com homenagens aos dois ídolos Nicholas Ray e Samuel Fuller (que define o cinema na festa inicial) e encerramento com citação a “Uma Temporada no Inferno” (1873), de Arthur Rimbaud.

A Chinesa (La Chinoise, 1967)

“Filme em construção”. O anúncio mais evidente de sua fase maoísta. Construção, então, dessa etapa mais abertamente política, dita de extrema esquerda, que no ano seguinte receberia assinatura do Grupo Dziga Vertov. Ainda assim, um filme que comporta sua própria autocrítica. Incontornável para entender os caminhos percorridos pelo diretor ao longo de sua carreira.

Weekend à Francesa (Weekend, 1967)

Uma delícia de filme “encontrado num ferro velho”, espécie de continuação estética e temática de O Demônio das Onze Horas,mas também de A Chinesa. “Fim do cinema”. Tem o famoso travellling que acompanha o congestionamento dos burgueses, e a provocação com a inscrição “faux raccord”.

Vento do Leste (Vent d’Est, 1970) codirigido por Jean-Pierre Gorin

Muito falado e mostrado nas homenagens vistas na imprensa pela participação de Glauber Rocha. Um dos filmes mais autocríticos do período maoísta, e o melhor, junto de Vladimir et Rosa.

Tudo Vai Bem (Tout Va Bien, 1972) codirigido por Jean-Pierre Gorin

Homenageia o cenário estilizado de O Terror das Mulheres, de Jerry Lewis. É um breve retorno de Godard ao cinema mais tradicional, por trazer duas estrelas, Yves Montand e Jane Fonda. Ainda assim, Godard fez questão de assinar com Jean-Pierre Gorin e fazer deste mais um trabalho da fase Dziga Vertov.

Paixão (Passion, 1982)

Filmaço que marca a volta à forma de Godard. A discussão sobre a luz na pintura é um primor. Michel Piccoli com a rosa entre os dentes é o tipo de picardia que só Godard e Manoel de Oliveira faziam.

Carmen de Godard (Prenom Carmen, 1983)

Godard, como ele próprio, quer ficar no hospital porque acha que a qualquer momento vai adoecer. Na verdade, está doido de pedra, e ainda faz filmes. Mais uma brilhante e inclassificável provocação. Termina com citação de Buñuel (“cela s’apelle l’aurore”, título de um filme do diretor espanhol) e depois uma dedicatória (“in memoriam small movies”).

Eu Vos Saúdo Maria (Je Vous Salue Marie, 1985)

O filme que causou grande polêmica no mundo inteiro, incluindo o Brasil. Mas é muito mais belo e inclassificável do que verdadeiramente polêmico.

Rei Lear (King Lear, 1987)

Provocação shakespeareana com participação de Woody Allen, Burgess Meredith, Molly Ringwald, Norman Mailer, Leos Carax. Rodado em inglês, com produção da Cannon, que teve de cobrar o contrato assinado num guardanapo. A cobrança foi incluída no início do filme, bem como a participação de Mailer, que desistiu da filmagem.

Nouvelle Vague (1990)

Encontro de Godard com Alain Delon. Para muitos, uma súmula do célebre movimento dos anos 60 que dá título ao filme.

Alemanha Nove Zero (Allemagne 90 Neuf Zéro, 1991)

Homenagem ao Alemanha Ano Zero (1948) de Rossellini. Queda do muro de Berlin (1989). Pode-se dizer que aqui Godard se igualou a seu mestre.

JLG por JLG – Autorretrato de Dezembro (1994)

Delicioso autorretrato, cheio de humor e posições políticas. Ao mesmo tempo em que é muito pessoal, é um dos mais palatáveis do diretor para não iniciados.

Elogio ao Amor (Éloge de l’Amour, 2001)

Godard revisionista e genial. E ainda ensina, em um trecho colorido, a filmar com câmera digital. Há uma bela citação de Simone Weil e a ideia de que só compreendemos uma relação quando ela termina. O artista entra no século 21 em grande forma, e não precisa provar mais nada a ninguém.

Filme Socialismo (Film Socialism, 2010)

Cada vez mais esporádico, Godard ainda é capaz de brilhar. As legendas Navajo, breves resumos de tudo que era falado, circularam por vários países, com traduções curiosíssimas. A maior parte do que surge em falas ou textos, nessa versão, não é traduzida.

Imagem e Palavra (Le Livre d’Image, 2018)

O belo desaguar de todas as águas que fluíram desde 1988 e o início de Histoire(s) du Cinéma.

5 FILMES PARA QUEM AMA GODARD INTENSAMENTE

Le Gai Savoir (1968)

Encomenda da TV francesa, mas Godard não se rende. Chama a TV francesa de fascista e ofende um ministro. O filme, por isso, foi impedido de passar na TV ou nos cinemas, até que Godard recuperou seus direitos e o filme começou a ser exibido, com alguns diálogos cortados.

Ici et Ailleurs (1974) codirigido por Anne-Marie Miéville

Godard mostra seu filme inacabado sobre a resistência palestina a um casal, quatro anos depois da captação das imagens (pelo Grupo Dziga Vertov). Miéville dá sentido às imagens.

France/Tour/Detour/Deux/Enfants (1977) codirigido por Anne-Marie Miéville

Minissérie televisiva que mostra o futuro da França.

Scènario du Film Passion (1982)

Roteiro visual da obra-prima Paixão.

Soft and Hard (1985) codirigido por Anne-Marie Miéville

Godard e Miéville discutem seus filmes durante os afazeres domésticos.

5 CURTAS DE GODARD

Une Bonne a Tout Faire (1981)

Ensaio para a luz de Paixão. Sinfonia da grua.

Armide (1987) – episódio do longa coletivo Aria

Malhar, malhar, malhar e esquecer todo o resto. Malhar na frente e atrás da câmera.

Puissance de la Parole (1988)

O início de uma aventura artística de dez, doze, trinta anos.

A Origem do Século XXI (De l’Origine du XXIe Siècle, 2000)

À altura, todos já sabiam do que Godard era capaz. Mesmo assim o que ele faz aqui, a partir de uma encomenda, é surpreendente e inventivo.

Liberté et Patrie (2002) codirigido por Anne-Marie Miéville

Cinema, pintura, palavra e invenção, mais uma vez. Curta sublime.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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