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Atirem no Pianista (filme)
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Atirem no Pianista

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Atirem no Pianista”: Conexão entre Truffaut e Tarantino

François Truffaut injeta novos elementos no film noir em “Atirem no Pianista”. A fotografia em preto e branco valoriza as sombras, a narrativa usa voice over, a trama policial gira em torno de roubo e assassinatos. Enfim, todas essas características são típicas do gênero, porém, o diretor francês inova, principalmente no uso dos diálogos alienados da situação.

Charlie (Charles Aznavour) é um pianista talentoso, que largou sua trajetória de músico de sucesso após um acontecimento traumático envolvendo sua ex-esposa. Agora, ganha a vida modestamente tocando em um bar, sustentando ainda o irmão ainda adolescente, Fido (Richard Kanayan). Quando os outros irmãos adultos, Chico (Albert Rémy) e Richard (Jean-Jacques Aslanian), se envolvem em um golpe e fogem com o dinheiro, enganando seus comparsas, acabam colocando Charlie na mira dos bandidos que querem recuperar sua parte.

Enquanto isso, Charlie se apaixona por Léna (Marie Dubois). Apesar de tímido, consegue conquistá-la e ambos precisam partir em busca dos dois irmãos golpistas. No entanto, os ladrões traídos sequestram o pequeno Fido, principalmente, porque Charlie se envolve em um assassinato.

Nouvelle vague

“Atirem no Pianista” foi lançado no mesmo ano que o revolucionário “Acossado” (À Bout de souffle), de Jean-Luc Godard, marco da nouvelle vague, movimento criado por esse diretor, junto com Truffaut e outros críticos da Cahiers du Cinema. Enquanto “Acossado” abusava dos cortes inusitados, fora dos padrões clássicos do cinema, Truffaut resolve ousar esticando as tomadas, para refletir a passagem do tempo real da cena. Nas primeiras partes do filme, quando Chico sai correndo do bar, com os bandidos atrás dele, uma música inteira é tocada no palco, ao fim da qual Charlie pensa em voice over que naquele momento seu irmão já devia estar longe dos perseguidores.

Há alguns momentos de humor completamente atípicos de um filme policial. Por exemplo, quando um personagem diz que jura pela vida da mãe dele, uma rápida cena mostra uma senhora morrendo.

Inovação

Contudo, a inovação mais marcante surge nos diálogos que parecem não se encaixar com a situação tensa da cena. Truffaut usa esse recurso em várias sequências. A primeira delas aparece logo na perseguição que abre o filme, quando Chico bate a cabeça num poste e começa a bater papo com um pedestre como se nada estivesse ocorrendo. Em outro momento, enquanto sequestram Charlie, os bandidos mantêm uma conversa sobre baixarias. Na cena do estrangulamento, os dois homens que estão brigando por suas vidas conversam sobre outro assunto. Por fim, no sequestro do menino, os três personagens, inclusive a vítima, batem papo sobre escola, fumo, paletó.

Essa inovação ecoa até hoje, influenciando o estilo do reverenciado Quentin Tarantino, que a usou em “Pulp Fiction” (lembram-se da conversa sobre a massagem nos pés, ou do McDonald’s?), em “Bastardos Inglórios” (na casa onde os judeus estão escondidos), e em várias outras situações.

Tanto no caso de Tarantino, como no de Truffaut, é preciso abandonar suas convenções para poder apreciar devidamente esses lances fora da caixa.


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