O Contador 2 é tão ruim quanto o primeiro filme, de 2016. Novamente dirigido por Gavin O’Connor e protagonizado por Ben Affleck e Jon Bernthal, essa sequência comprova que apenas o personagem principal reúne qualidades suficientes para valer essa experiência fílmica.
O irmão e a trama
Desta vez, o filme não pode se dar ao luxo de apresentar novamente o protagonista, Christian Wolff (Affkeck), processo que rendeu o melhor trecho do primeiro longa. Agora, a introdução dele transcorre rapidamente, dando ênfase para a novidade tecnológica da vez. Trata-se da Harbor, uma espécie de Alexa que apoia Christian até na hora de escolher a sua roupa para um encontro. Mas, por trás desse serviço remoto está uma equipe de crianças prodígio capazes de se conectar a qualquer coisa que esteja nas redes. Pelo menos, com isso, o protagonista aparenta ser menos superpoderoso, exagero que incomodava no filme anterior.
Assim, sobra mais espaço também para o irmão dele, Braxton (Jon Bernthal), que ganha uma longa introdução. No entanto, ele não é tão interessante quanto o irmão. Afinal, não se trata de um gênio, mas de uma máquina de matar.
É possível argumentar que Christian Wolff daria um belo protagonista para uma série procedural. Nela, cada episódio traria uma estória nova girando em torno do personagem principal. De fato, a trama de O Contador 2 soa bem fraquinha, como se fosse um mero pretexto para o personagem fixo viver uma nova aventura.
Por isso, o enredo não parece nada original. Aposta na batida trama de uma gangue de sequestradores de crianças. E a descoberta de que uma delas é um gênio similar a Christian parece vir do nada, incluída apenas para engatar uma busca implacável para salvá-lo. Além disso, a mãe do menino (vivida por Daniella Pineda), depois de sofrer um acidente automobilístico, acorda com super habilidades despertadas pela pancada que sofreu na cabeça, passando a agir como uma impiedosa matadora de aluguel.
A direção
O diretor Gavin O’Connor erra mais que acerta. Entre seus filmes mais recentes, estão o bom melodrama O Caminho de Volta (The Way Back, 2020), também com Ben Affleck, e o razoável faroeste Em Busca da Justiça (Jane Got a Gun, 2016), com Natalie Portman.
Mas, em O Contador 2, Gavin O’Connor comete muitos erros. Por exemplo, erra no uso de cenas paralelas em dois momentos. Num deles, quando um sniper se prepara para assassinar algumas pessoas no prédio em frente, o filme não mostra nada que indique como essas cenas estão relacionadas geograficamente. Neste caso, O’Connor opta pela surpresa e não pelo suspense. Em outro momento, a cena paralela mostra uma cova sendo escavada, enquanto outra cena revela que o vilão está colocando as crianças sequestradas em um ônibus para matá-las e enterrá-las. Há uma conexão entre essas duas cenas, porém essa montagem não cria nenhum suspense.
A má direção de O’Connor ainda abre espaço para uma apelativa dança num salão country, que não move a narrativa e serve apenas para agradar ao público.
Antes de encerrar esse texto, é preciso ainda citar o uso errado da música triste na luta entre as duas principais personagens femininas, escolha que entrega o desfecho dessa disputa.
Para compensar esses erros, o filme está repleto de cenas de ação. Estas, ao menos, são bem dirigidas e garantem uma avaliação média para o longa, que ainda se beneficia do seu notável protagonista.
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Ficha técnica:
O Contador 2 | The Accountant 2 | 2025 | 132 min. | EUA | Direção: Gavin O’Connor | Roteiro: Bill Dubuque | Elenco: Ben Affleck, Jon Bernthal, Cynthia Addai-Robinson, J.K. Simmons, Daniella Pineda, Allison Robertson.
Distribuição: Warner Bros.