Peter Hedges conduziu sua carreira em obras sobre o comportamento dos jovens. Escreveu Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (1993) e Um Grande Garoto (2002), e escreveu e dirigiu Do Jeito Que Ela É (2003) e A Estranha Vida de Timothy Green (2012). Esse currículo cria uma grande expectativa sobre seu novo filme, O Retorno de Ben, assumindo a direção e o roteiro e tendo seu próprio filho, Lucas Hedges, como protagonista.
Com apenas 23 anos, Lucas Hedges já desponta como um grande ator, presente em filmes de destaque como Manchester à Beira Mar (de 2016, e que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante), Lady Bird: A Hora de Voar (2017) e Três Anúncios Para um Crime (2017). Em O Retorno de Ben, Lucas interpreta o difícil papel do personagem do título.
O enredo
Ben retorna para a casa da mãe na véspera do Natal, tirando por conta própria uma folga da clínica de reabilitação, onde está internado para tratar seu vício em drogas. Sua mãe Holly (Julia Roberts) está feliz em ter sua companhia, mas também extremamente preocupada pela sua situação instável. Restrições maiores possuem seu padrasto e sua irmã, mais pessimistas, ou realistas, sobre Ben.
O filme retrata apenas algumas horas, menos que vinte e quatro, na complicada luta de Holly para que seu filho passe ileso por esse período fora da clínica, vigiando-o de perto. Apesar da boa vontade de Ben, essa tarefa se complica porque forças opostas tentam leva-lo de volta ao vício, para ser novamente instrumento de exploração de traficantes barra pesada com quem ele anteriormente se envolvia.
Fugindo do vício das drogas
O Retorno de Ben reflete, sem artifícios, o quão árduo é fugir do vício das drogas. Além de demandar uma descomunal força de vontade para se manter na abstinência, Ben enfrenta a desconfiança de todos, até dos mais próximos, e a má intenção de aproveitadores. Um desses, por exemplo, sequestra o cachorro da família para obriga-lo a fazer uma entrega entre traficantes.
O clima de incerteza constante é transmitido ao espectador através dos planos curtos, muitos movimentos da câmera, enquadramentos inclinados e planos detalhes desorientadores. Não há descanso para o público, que forçosamente se sente incomodado, uma sensação que o aproxima de Holly, compartilhando com ela a falta de controle da situação. O filme evita qualquer apologia às drogas, até se esquiva de mostrar alguém se drogando, e foca no caminho sem saída onde se encontra o protagonista viciado, que se arrepende do mal que causou, porém não consegue fugir desse caminho.
Veia realista
Mesmo com os recursos citados acima que conduzem o público, O Retorno de Ben busca uma veia realista, retratando duramente o que acontece quando o vício domina o ser humano. Não há nenhum alívio ao público e por isso o filme incomoda, como de fato incomoda essa situação. Pelo contrário, ao invés de atenuar essa sensação, o filme até aumenta a tensão, flertando com o gênero suspense em alguns momentos.
Julia Roberts e Lucas Hedges retratam o drama de seus personagens sem recorrer ao descomedimento. Exceto quando a histeria representa a forma como qualquer pessoa reagiria naquele momento de desespero.
Mesmo sem cenas que busquem a emoção barata ou situações que choquem, O Retorno de Ben é um forte testemunho da duríssima missão de suplantar o vício. Equipara-se ao que Billy Wilder retratou em Farrapo Humano (1945) em relação ao alcoolismo.
Ficha técnica:
O Retorno de Ben (Ben Is Back, 2018) EUA. 103 min. Dir/Rot: Peter Hedges. Elenco: Julia Roberts, Lucas Hedges, Courtney B. Vance, Kathryn Newton, Rachel Bay Jones, David Zaldivar, Alexandra Park, Michael Esper, Tim Guinee, Myra Lucretia Taylor, Kristin Griffith, Jack Davidson, Mia Fowler.