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Pasolini (filme)
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Pasolini | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Pasolini (2014), de Abel Ferrara, começa com Pasolini, o cineasta, observando a montagem de Saló ou Os 120 Dias de Sodoma (1975), seu último filme. É uma escolha interessante. Saló pode ser encarado como uma porrada de raiva na cinefilia consumista, um ato de desespero pela uniformização do cinema internacional, uma provocação de alguém que sentia que nada mais escandalizava as pessoas. Por isso é curioso ver o cineasta numa posição intelectual, sua posição habitual, pensando nos planos filmados de um filme que é todo explosivo, em como concatená-los enquanto ouvimos suas respostas a uma entrevista.

Pensando bem, Saló é um filme totalmente intelectual, cuidadosamente pensado para ofender e escandalizar sem trair a dignidade do poeta e cineasta e sua maneira de ver o mundo. Um filme que, aliás, Pasolini não pode acompanhar em sua estreia, já que morreu brutalmente assassinado pouco antes da primeira exibição pública e o filme estrearia para valer em 1976.

Ao suceder a cena do cineasta na moviola com uma cena em que homens fazem sexo ao ar livre, cenário e circunstância em que ocorreu o assassinato de Pasolini, Ferrara parece fazer uma relação entre Saló e o assassinato, e não são poucos, pelo contrário, são maioria, aqueles que acham que ele teria sido assassinado por causa do filme, ou pelos incômodos que quis provocar com o filme.

Vítima

O Pasolini de Ferrara estará todo sob a égide de um cineasta vítima de sua pulsão libertária, e para isso o cineasta ítalo-americano de Vício Frenético (1992), agora residente em Roma, idealiza o filme todo ambientado em um único dia, o último da vida de Pier Paolo Pasolini. É também um filme que retoma o ciclo com Willem Dafoe, iniciado com Go Go Tales (2007 – não o primeiro filme de Ferrara com Dafoe, mas o primeiro de uma série em que Dafoe está muito bem como um parceiro criativo) e brevemente interrompido com o escandaloso Bem-Vindo a Nova York (2014), protagonizado por Gerard Depardieu. Temos então que os dois filmes recentes mais escandalosos de Ferrara são de 2014.

Willem Dafoe compõe um Pasolini fiel nos trejeitos físicos e mesmo na aparência. Mas na voz não há essa preocupação, nem precisava haver. Dafoe interpreta a versão ferrariana de Pasolini, e surpreendentemente lembra o cineasta e pensador até mesmo nos momentos em que filosofa ou é entrevistado.

Poesia

Podemos objetar o inglês dominante, mesmo quando só há italianos em cena. Mas a poesia de Ferrara estranhamente consegue diminuir esses problemas em um contexto que é todo de sonho ou pesadelo, em que ficção e pensamento se fundem com o dia a dia do intelectual. Uma poesia que faz com que Ninetto Davoli, um dos principais atores da trupe pasoliniana, agora envelhecido, interprete o pai de Ninetto Davoli, que por sua vez aqui é interpretado por Riccardo Scamarcio. É curioso rever este último em 2014, antes de seus papeis em filmes como Loro, de Paolo Sorrentino, ou Tre Piani, de Nanni Moretti. E curioso notar que seu Ninetto é mais sério, quase o contrário do sorridente moleque dos filmes de Pasolini.

A cena do assassinato é dura. Um gigante do cinema sendo espancado covardemente. Ferrara não é Marco Tulio Giordana. Não está interessado em desvendar ou lançar hipóteses sobre a morte do poeta. Ele a mostra, de maneira poética, como Pasolini gostaria que fosse mostrada. Num filme homenagem, poderia mostrar menos. Mas não se pode censurar a opção pela violência fascista que vitimou quem tanto a denunciou.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Pasolini | Pasolini | 2014 | 84 min | França, Bélgica, Itália | Direção: Abel Ferrara | Roteiro: Maurizio Braucci | Elenco: Willem Dafoe, Ninetto Davoli, Riccardo Scamarcio, Valerio Mastandrea, Roberto Zibetti, Andrea Bosca, Giada Colagrande, Adriana Asti, Maria de Medeiros.

Onde assistir:
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