Pelos Meus Olhos apresenta um retrato cru da violência doméstica.
Com atuações impressionantes, o filme espanhol Pelos Meus Olhos mergulha no problema da agressão moral e física entre um casal. A trama aborda não só a perspectiva da vítima, mas também do marido que busca a terapia para conter seu descontrole emocional.
Antes mesmo de mostrar qualquer agressão, vemos o medo nas expressões da protagonista Pilar. Na primeira cena, ela pega algumas coisas e foge de casa com seu filho pequeno, buscando refúgio na casa da irmã. Ainda nem conhecemos o marido Antonio, mas a mulher está visivelmente aterrorizada.
O drama acontece na cidade histórica de Toledo, e Pilar começa a trabalhar em um museu da cidade para tentar retomar sua vida sem o marido. Em paralelo, Antonio começa a frequentar sessões de terapia em grupo. Com isso, entendemos que ele ama a esposa, porém, sofre de desequilíbrio emocional. Na verdade, os dois se gostam muito, como evidencia a cena em que tentam a reconciliação. Os dois estão na cama, nus, e falam apaixonadamente sobre cada parte do corpo de Pilar, num trecho que lembra uma cena similar em O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard.
Da diretora Icíar Bollaín
A diretora do filme, Icíar Bollaín, havia realizado um curta com essa história, Amores Que Matan (2000), com o mesmo ator Luis Tosar no papel do marido. Aqui, ela mesmo faz a adaptação para o formato longa-metragem, obtendo um ótimo resultado. Além da atuação primorosa de Laia Marull e Luis Tosar, interpretando o casal, o filme mantém uma naturalidade essencial para esse tipo de drama. Assim, evita se aproximar de reportagens e reconstituições que visam a denúncia. Como bom cinema, Pelos Meus Olhos consegue nos colocar na pele dos protagonistas.
Porém, há um deslize em uma cena. Quando o marido fica agressivo de fato, pela primeira vez no filme, ouvimos uma música na cena que a deixa artificial. Na verdade, a música é dispensável, pois a forte interpretação dos atores já é suficiente para provocar a tensão dramática. Aliás, como comprova o trecho com a derradeira agressão do marido, num momento de cortar o coração.
Além disso, a diretora Icíar Bollaín acerta ao inserir no filme os aconselhamentos de Antonio com seu terapeuta. Dessa forma, testemunhamos os seus esforços para aprender a se controlar e salvar o casamento. Adicionalmente, ajuda-nos a compreender o problema, ao invés de julgar cegamente.
Enfim, Pelos Meus Olhos consegue reproduzir na tela a angústia de duas pessoas que se amam, mas não conseguem viver juntas. De fato, o olhar que elas trocam na conclusão revela que ambas estão profundamente tristes. Porém, a separação é a única solução que resta.
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Ficha técnica:
Pelos Meus Olhos (Te Doy Mis Ojos) 2003. Espanha. 109 min. Direção: Icíar Bollaín. Roteiro: Icíar Bollaín, Alicia Luna. Elenco: Laia Marull, Luis Tosar, Candela Peña, Rosa Maria Sardà, Kiti Mánver, Sergi Calleja, David Mooney.
Ficou interessado? Então, aproveite: o filme está na programação do Festival “Volta ao Mundo: Espanha” da plataforma Belas Artes à la Carte, entre os dias 3 e 16 de junho de 2021.