O filme Puro-Sangue é um suspense que faz questão de não mostrar violência na tela.
Em sua estreia, o diretor Cory Finley enfrenta o desafio de construir o suspense sem recorrer a cenas violentas. Trata-se de um recurso muito eficiente que parte da premissa que o público imaginará o horror com mais força do que o filme conseguiria retratar. Às vezes é uma opção estilística, mas na maioria das vezes o motivo da escolha é restrição orçamentária ou medo da censura.
Capítulos identificados em cartelas marcam a estrutura de Puro-Sangue.
Para começar, no prólogo, vemos Amanda (Olivia Cooke, de Jogador Nº 1) encarando um cavalo. Depois, uma mão alcançando um objeto cortante, suficiente para instigar o público.
Depois, no primeiro capítulo, conhecemos as protagonistas. Amanda é uma garota problemática, que não tem sentimentos, como ela mesmo afirma, e precisa ser educada por uma tutora, porque não pode frequentar a escola. E sua tutora é Lily (Anya Taylor-Joy, de Vidro), uma garota de família rica, aparentemente normal. As duas têm a mesma idade e se conhecem desde a infância, mas com esse trabalho conjunto se tornam amigas íntimas.
Sacrifício do cavalo
No capítulo dois, Lily descobre que seu padrasto pretende transferí-la para um internato, o que aumenta seu ódio por ele. Em seguida, o filme desvenda a cena do prólogo. Na verdade, Amanda conta friamente que precisou sacrificar o seu cavalo. Para isso, não contou com um revólver, apenas com um medicamento que não deu o efeito desejado e com um instrumento parecido com uma faca. Não vemos os detalhes cruéis na tela, mas o que está sugerido já é suficiente para criar um mal-estar. Além disso, também inspira o plano de Lily para assassinar seu padrasto com o auxílio de sua amiga de sangue muito frio.
Logo, colocam o plano em ação no capítulo seguinte. Nesse momento, temos uma bela sequência com o assassino que as moças tentam contratar. Elas conhecem o local do crime ao som da composição religiosa “Ave Maria”, criando um contraponto inteligente e, ao mesmo tempo, sarcástico.
Quando chega o capítulo quatro, o último, o filme Puro-Sangue apresenta sua melhor cena. Nela, a câmera permanece fixa na sala de estar, onde está Amanda deitada, dopada, enquanto Lily sobe para o quarto de seu padrasto. Mantendo o tempo real, surge Lily e sabemos o que aconteceu, ou pelo menos imaginamos, sem a necessidade de mostrar o crime.
Com essa opção de não mostrar a violência, o diretor Cory Finley consegue criar um clima de suspense constante por todo o filme. Assim, não altera sua potência, para mais ou para menos, exceto na cena do capítulo quatro, quando a angústia cresce bastante com a câmera fixa que não acompanha a personagem. Essa característica, difícil de se construir, funciona como estilo, mas pode frustrar o espectador que espera uma emoção crescente ao longo do filme.
Dedicado a Anton Yelchin
Por fim, tristemente, Puro-Sangue foi um dos últimos trabalhos do ator Anton Yelchin. Ele interpretou Chekov na nova trilogia Star Trek (2009/2013/2016) e aqui faz o rapaz que as moças tentam contratar para cometer o crime. Yelchin morreu precocemente com 27 anos, em 2016. Por isso, o filme Puro-Sangue é dedicado a ele.
Ficha técnica:
Puro-Sangue (Thoroughbreds, 2017) EUA. 92 min. Dir/Rot: Cory Finley. Elenco: Olivia Cooke, Anya Taylor-Joy, Anton Yelchin, Paul Sparks, Francie Swift, Kaili Vernoff, Svetlana Orlova, Alyssa Fishenden, Jackson Damon, James Haddad, Nolan Ball, Celeste Oliva.