Star Wars: Os Últimos Jedi, a segunda parte da última trilogia da saga Star Wars, saiu das mãos de J.J. Abrams, diretor do filme anterior, e foi parar nas de Rian Johnson, credenciado para o cargo após o êxito de Looper: Assassinos do Futuro (2012). O novo diretor e roteirista desviou-se do tom nostálgico característico de Abrams e, assim, tornou a história menos previsível, com várias possibilidades em aberto.
A saga continua
Star Wars: Os Últimos Jedi retoma o paradeiro de Rey (Daisy Ridley), na ilha onde Luke Skywalker (Mark Hamill) vive isolado. A garota espera ser treinada pelo mestre Jedi, para usar melhor a Força que ela já sabe que possui. Porém, depois da decepção com seu pupilo Kylo Ren (Adam Driver), que escolheu o lado sombrio, ele reluta em ensinar novamente. Em uma breve, mas marcante aparição, Yoda conscientiza Luke de que ele continua a permitir que suas emoções atrapalhem sua conduta. Esse segmento é longo e um pouco cansativo, mas é fundamental para dar consistência ao amadurecimento de Luke.
Em paralelo, o líder do Império, Snoke (o ator Andy Serkis sob a computação gráfica), maltrata Kylo Ren, por considera-lo imaturo no uso da Força. Enquanto isso, as naves imperiais apontam suas armas para a base rebelde, para aniquilá-los totalmente. Poe Dameron (Oscar Isaac) tenta uma investida arriscada, derruba uma nave inimiga, mas perde muitas vidas aliadas. Leia Organa (Carrie Fisher) é ferida e substituída pela vice-almirante Hodo (Laura Dern), que ordena a prisão de Poe. Então, Finn (John Boyega) e Rose (Kelly Marie Tran) se juntam para desativar a proteção da nave imperial.
Os planos rebeldes parecem fracassar e só lhes resta fugir. Assim, Star Wars: Os Últimos Jedi parece que seguirá o final sombrio de O Império Contra-Ataca (1980), a segunda parte da trilogia intermediária.
Cenas memoráveis
A abertura de Star Wars: Os Últimos Jedi é deslumbrante, e demonstra como o 3D utilizado devidamente proporciona uma experiência singular para o espectador. As batalhas espaciais logo no início demandam a profundidade que esse recurso pode proporcionar, e a produção do filme não deixou escapar a oportunidade. Há ainda outras cenas de ação memoráveis no filme.
Duas das sequências inesquecíveis salvam o roteiro escrito pelo também diretor Rian Johnson. A primeira, quando a personagem de Laura Dern surpreende os inimigos com uma manobra corajosa. A segunda, na cena em que Luke é alvejado pelas tropas inimigas, apresentando uma solução inteligente que mostra o quanto ele amadureceu, e alcança o nível de maestria do Yoda. No geral, as cenas de lutas com o sabre de luz foram muito bem coreografadas e constituem um dos pontos altos do filme, particularmente quando Rey e Kylo lutam na sala de Snoke.
O roteiro, porém, não trabalha bem os personagens. Luke, sobretudo, é despojado de toda a aura de heroi construído nos outros filmes. Finn tem algumas cenas de ação, mas pouco sobre sua personalidade. Outros, como Rose e Holdo, surgem do nada e desaparecem rapidamente. Os únicos que recebem alguma atenção, ainda que não o suficiente, são Rey, Kylo e Poe.
Tensão e humor
Star Wars: Os Últimos Jedi, além disso, alterna momentos tensos com outros de humor, saindo-se melhor no primeiro caso. De fato, poucas cenas de humor provocam risos. Nesse intuito, Poe assume as características de Han Solo: faz piadas, desrespeita as ordens, mas é um excelente combatente. Se a ideia era criar alívios cômicos durante as sequências de ação, pode-se dizer que não funcionou. Algumas chegam a quebrar o clima da ação. Os animaizinhos, os porgs, por exemplo, aparecem exageradamente fofos demais.
Por outro lado, Rian Johnson merece elogio pela ousadia em usar o vermelho vivo na sala do Snoke, remetendo a obras inusitadas do diretor japonês Seijun Suzuki. Como George Lucas inspirou-se em A Fortaleza Escondida para criar o primeiro filme Star Wars, não seria de surpreender que Johnson tenha se inspirado em um filme de Suzuki.
Imprevisível
O maior trunfo de Rian Johnson, no entanto, está na imprevisibilidade da história. Até o final não sabemos se haverá um vencedor no embate, quem morrerá ou sobreviverá, e se os rebeldes manterão viva sua luta. Ou seja, Star Wars: Os Últimos Jedi não repete a sucessão de referências nostálgicas de O Despertar da Força e tira o espectador fanático de sua zona de conforto. Porém, Johnson erra a mão nesse sentido, em alguns pontos. Ele chega a desrespeitar a mitologia criada em Star Wars quando Luke Skywalker joga fora o sabre de luz, uma cena que dói no coração dos fãs. E o enredo insiste em desmistificar a Força, que é o cerne de toda a saga.
Star Wars: Os Últimos Jedi decepciona, é inferior a seu antecessor. Não é tudo o que os fãs esperavam, mas ainda diverte. É até estranho que J.J. Abrams, desta vez como produtor executivo, tenha dado tanta liberdade a Rian Johnson, que fez um filme totalmente diferente do seu estilo. Agora, Abrams terá que quebrar a cabeça para colocar tudo do seu jeito quando começar a dirigir a parte final dessa trilogia.
Ficha técnica:
Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi, 2017) EUA, 150 min. Dir/Rot: Rian Johnson. Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Adam Driver, Mark Hamill, Laura Dern, Oscar Isaac, Carrie Fisher, Billie Lourd, Gwendoline Christie, Domhnall Gleeson, Andy Serkis, Lupita Nyong’o, Anthony Daniels, Kelly Marie Tran, Benicio Del Toro, Frank Oz, Joonas Suotamo, Jimmy Vee, Justin Theroux, Herminone Corfield.
Walt Disney Studios
Trailer:
Assista: Rian Johnson Q&A sobre Star Wars: Os Últimos Jedi