Após a recepção entusiasmada da primeira temporada, no ano subsequente “Stranger Things” retorna com uma pegada diferente. Necessária, visto que o charme nostálgico das referências aos anos 1980 já não encanta tanto. Afinal, o espectador agora se sente acostumado ao ambiente ao qual foi exposto durante todos os episódios do ano passado.
O que também perde o impacto, naturalmente, é o processo de conhecimento dos personagens, que foram muito ricamente detalhados na primeira temporada. As idiossincrasias de cada um deles conquistava o espectador a cada episódio, criando o interesse necessário para seguir a série simplesmente por isso. Nessa sequência, com exceção de alguns personagens novos, notadamente a ruivinha Max (Sadie Sink), o espectador começa desde o início suficientemente familiarizado com a turma de protagonistas.
Primeiros episódios
Os primeiros três episódios da 2ª temporada de “Stranger Things”, por isso, são arrastados, pouco parece acontecer e não há mais tanto mistério. A solução foi carregar nas doses de horror que surgem após o quarto episódio.
Antes, o pilar da estória era o mistério sobre as estranhas ocorrências na pequena cidade americana, estimulado por pílulas de informação disponibilizadas em pequenas doses. Agora, havia a necessidade de partir do pressuposto que os espectadores foram expostos à aparição do monstro nos derradeiros capítulos da temporada inaugural.
Duas criaturas surgem nessa sequência. Uma delas, um misto de réptil e cachorro com uma boca que se abre como os casulos de “Alien, o 8º Passageiro” que cresce rapidamente. A outra, um gigantesco molusco feito de sombras que se ergue sobre a cidade. A primeira surge em cenas do gênero horror, a segunda investe no terror psicológico.
Aliás, são várias as cenas oníricas, quando alguns personagens mergulham no universo paralelo caracterizado como o mundo real transformado em pesadelo. As visitas (indesejadas) de Will (Noah Schnapp) a esse cenário foram vistas na primeira temporada e agora estão mais frequentes. Adicionalmente, as idas de Onze (Millie Bobby Brown) são novidade e são impressionantes, inseridas num negro líquido em efeito belíssimo.
Onze
Um dos episódios, o sétimo, é dedicado exclusivamente à personagem Onze/Jane, para desvendar suas origens. Nele, conhecemos a sua “irmã”, uma outra menina que sofreu tratamento no sinistro centro de pesquisas. Esse segmento serve também para solidificar a questão ética da personagem, que opta por não seguir o caminho da vingança.
A temporada se encerra com um baile de escola, como em “Carrie, a Estranha”, mas sem o desfecho apocalíptico. O final comemora a resolução do mistério e o fim dos problemas, e parece fechar um ciclo. A canção do The Police, “Every Breath You Take”, porém, entrega em sua letra (“I’ll be watching you”) que o mundo invertido continua ali, e um engenhoso movimento de câmera revela como o “Demogorgon” continua ali, à espreita.
Por fim, “Stranger Things” oferece em sua segunda temporada um fechamento satisfatório para sua estória, com a aparente solução do problema que surgiu no seu início. Porém, a terceira temporada parece estar a caminho, talvez partindo de um novo acesso ao mundo invertido. Se conseguir manter o nível das duas temporadas iniciais, será bem vinda.
Ficha técnica:
Stranger Things – 2ª Temporada (2017) 55 min x 9 episódios. Criado por Matt Duffer, Ross Duffer. Com Winona Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard, Milly Bobby Brown, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Cara Buono, Matthew Modine, Joe Keery, John Reynolds, Joe Chrest, Noah Schnapp, Sadie Sink, Dacre Montgomery, Sean Astin, Paul Reiser, Stefanie Butler, Abigail F. Cowen, Christi Waldon, Madelyn Cline.