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Terra Estrangeira

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Terra Estrangeira (1996) é o primeiro dos três filmes que Walter Salles e Fernanda Torres fizeram juntos. Depois rodaram O Primeiro Dia (1998) e Ainda Estou Aqui (2024).

Com fotografia em preto e branco, e trama policial, Terra Estrangeira muitas vezes ganha a classificação de film noir. Alguns enquadramentos expressionistas, e uma personagem femme fatale engrossam o coro dos defensores dessa ideia. Além disso, a cena, na parte final, de dois perdedores numa fuga improvável repete o pessimismo que marcou esse estilo na década de 1940 não só nos Estados Unidos, onde surgiu, mas do mundo inteiro, ameaçado pela ideologia nazista.

O filme de Walter Salles e Daniela Thomas reverbera um período sombrio da História brasileira, o do desastroso governo Collor (1990-1992). O famoso confisco das contas bancárias levou ao desespero os brasileiros que, como a Manuela (Laura Cardoso) no filme, não suportaram ver seus sonhos destruídos. A desesperança incentivou muitos a saírem do país, ou a não desejarem mais voltar.

Na trama, Alex (Fernanda Torres) e Miguel (Alexandre Borges) já tinham se mudado para Portugal antes do Plano Collor. Ela tenta se sustentar como garçonete, enquanto ele se arrisca como contrabandista. Enquanto isso, em São Paulo, Paco (Fernando Alves Pinto) e sua mãe Manuela moram num apartamento de frente para o Minhocão. Ele sonha em ser ator e ela em viajar para San Sebastian, na Espanha, onde nasceram seus pais. Duas mortes modificam essas situações. A morte de Manuela merece um comentário especial. Ela enfarta ao assistir no noticiário o decreto da Ministra da Fazenda e a câmera encerra esse plano movendo-se para a televisão, já fora de sintonia, como que denunciando o responsável.

Clima noir

Terra Estrangeira mergulha no filme policial a partir daí. Paco resolve realizar pela mãe a sonhada viagem para San Sebastian. Mas, como não tem dinheiro, aceita servir de mula para Igor (Luís Melo) e levar pedras preciosas dentro de um violino para Miguel que está em Portugal. Com o assassinato de Miguel, é Alex quem dá um jeito de colocar as mãos na carga.

Alex age como uma femme fatale. Seduz Paco, mas o abandona em seguida. Misteriosa, ela o engana, porém, depois o ajuda. Na verdade, os dois estão encrencados, pois Igor os persegue para reaver a sua mercadoria. No entanto, saber até que ponto Alex é sincera só o epílogo revela. A última cena evita qualquer crítica contra pontas mal amarradas na trama e ainda lança a mensagem de que o crime não compensa. E, vai além, como em O Grande Golpe (The Killing, 1956), de Stanley Kubrick, mostrando que toda essa tragédia não valeu para nada.  

Terra Estrangeira, assim, por mais que possa ser classificado com um filme de gênero, seja noir ou simplesmente policial, é também um convite à reflexão, sobre uma política econômica que ignorou as pessoas, sobre as relações humanas, sobre viver no estrangeiro. Portanto, entretém, porém com a melancolia da desesperança, dos sonhos perdidos.

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Ficha técnica:

Terra Estrangeira | 1996 | Brasil, Portugal | 110 min. | Direção: Walter Salles, Daniela Thomas | Roteiro: Marcos Bernstein, Millor Fernandes, Walter Salles, Daniela Thomas | Elenco: Fernanda Torres, Fernando Alves Pinto, Alexandre Borges, Luís Melo, Laura Cardoso, Tchéky Karyo, Alberto Alexandre, Canto e Castro, António Cara D’Anjo, Filipe Ferrer, João Grosso, Miguel Guilherme, Miguel Hurst, João Lagarto, Zeka Laplaine.

Duração: 110 minutos.

Onde assistir:
Fernanda Torres e Alexandre Borges em "Terra Estrangeira"
Fernanda Torres e Alexandre Borges em "Terra Estrangeira"
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