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Poster de "Todos Nós Desconhecidos"
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Todos Nós Desconhecidos

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Todos Nós Desconhecidos (All of Us Strangers) mergulha o espectador nas feridas não cicatrizadas de uma infância que não teve o seu fechamento. O protagonista Adam (Andrew Scott, em excelente atuação) perdeu os pais em um acidente automobilístico quando tinha apenas 12 anos. Nunca teve, assim, a oportunidade de revelar a eles que é gay. Essa lacuna o tornou uma pessoa incompleta e, hoje, adulto, se fechou para a possibilidade de um relacionamento amoroso.

O ambiente do enredo é insólito: Adam vive em um prédio novo onde vivem, por enquanto, apenas ele e um outro morador chamado Harry (Paul Mescal). Aparentemente bem resolvido, Harry força para entrar na vida de Adam, que acaba cedendo às suas investidas. Enquanto eles vão se envolvendo cada vez mais intimamente, Adam visita com recorrência seus pais, interpretados por Jamie Bell e Claire Foy. Nesses encontros, os dois têm a idade em que morreram, ou seja, muito próxima da de Adam.

Conversas com fantasmas

Num primeiro olhar, esses encontros representam as maquinações da sofrida mente de Adam em busca da cura. Por isso, ele revela sua homossexualidade numa conversa que envolve a comparação de como isso era visto na época da sua infância (o presente para os pais) e agora. Adam acredita que, se fosse hoje, ele poderia ter contado com mais facilidade aos pais. Porém, mais para o final, seu companheiro Harry mostra que as barreiras continuam lhe causam muito sofrimento.

Por outro lado, devemos considerar que Todos Nós Desconhecidos se baseia no livro “Strangers”, do escritor e roteirista Taichi Yamada (1934-2023). Obra que, aliás, já chegou ao cinema em The Discarnates (Ijin-tachi to no natsu, 1988), de Obayashi Nobuhiko. Isso abre outra perspectiva, a alcança a relação dos japoneses com fantasmas. Nesse sentido, os pais de Adam, em suas formas espirituais, realmente se encontram com Adam. E, as conversas dos três, por fim, liberam Adam para viver plenamente sua existência, principalmente nos relacionamentos. Mas, para isso, ele precisa se despedir dos fantasmas. Um recado adicional do filme, que vem à tona por causa do desfecho trágico, é que essa reconciliação com o passado não pode demorar muito, deve ser resolvida com urgência.

A direção

Desde o ambiente estranhamente vazio do edifício ainda não plenamente ocupado, Todos Nós Desconhecidos mantém um tom arrepiante que se alinha à presença de fantasmas. A fotografia escura e o silêncio dentro da cena (combinado com a trilha sonora misteriosa) acrescentam um tom de perigo nas relações íntimas entre Adam e Harry, o que se relaciona com o medo do personagem principal de se envolver num relacionamento. A melancolia que marca o filme todo não some nem na conclusão, que muitos esperam terminar em uma direção mais esperançosa, já que Adam se despediu dos seus pais em paz. Mas, o diretor Andrew Haigh não concede um final feliz. Como fez, da mesma forma, em seu filme 45 Anos (45 Years, 2015). Em sua filmografia, Haigh também abordou a lacuna familiar em A Rota Selvagem (Lean on Pete, 2017), e o romance gay em Fim de Semana (Weekend, 2011). Seu cinema tem se mostrado absorvente, voltado para o íntimo das pessoas. Desta vez num melodrama muito pesado e triste.

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Ficha técnica:

Todos Nós Desconhecidos | All of Us Strangers | 2023 | 105 min | Reino Unido, EUA | Direção: Andrew Haigh | Roteiro: Andrew Haigh | Elenco: Andrew Scott, Paul Mescal, Jamie Bell, Claire Foy, Carter John Grout, Ami Tredrea.

Distribuição: 20th Century Studios.

Onde assistir:
Homem sentado numa sala escura com o rosto de outro homem no seu colo.
Cena de "Todos Nós Desconhecidos"
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