Uma História de Vingança (Vengeance: A Love Story) é mais um dos filminhos que o ator Nicolas Cage faz a rodo. No ano de lançamento deste longa, ele esteve em mais cinco títulos. Aparentemente, essa fase acabou com O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent), um dos dois filmes seus lançados em 2022, no qual ele parodia a si mesmo.
Nicolas Cage interpreta um policial justiceiro em Uma História de Vingança. Com cabelos pretos e taciturno, Cage parece se inspirar no personagem de Charles Bronson em Desejo de Matar (Death Wish, 1974), de Michael Winner. Mas com a diferença essencial que as motivações do Paul Kersey de Bronson eram muito mais compreensíveis. Kersey parte para a vingança depois que invasores matam sua esposa e estupram sua filha dentro do seu apartamento. Aqui, o personagem John de Nicolas Cage é um policial que vira justiceiro porque não aceita que uma gangue que estuprou uma mulher (Teena, interpretada por Anna Hutchison) está prestes a receber uma condenação leve, ou talvez, nenhuma.
Os dois filmes tratam de fazer justiça pelas próprias mãos. O caminho legal dos tribunais, citado em Uma História de Vingança pelo advogado de defesa Jay Kirkpatrick (Don Johnson), não é suficiente. A trama quer mostrar que na disputa judicial vence o advogado mais bem preparado (em habilidade e influência). Assim, não necessariamente chegando ao resultado mais justo. De qualquer forma, embora assine o roteiro John Mankiewicz, o neto de Herman J. Mankiewicz, o filme sequer mantém uma narrativa coerente. Imagine, então, construir uma sólida argumentação de defesa de uma posição política.
O roteiro
Um dos principais problemas do enredo é não definir quem é o protagonista. Na abertura, vemos o policial John em uma abordagem que resulta na morte de seu companheiro. Mas, não vemos nenhuma reação sua de pesar. Em seguida, o roteiro apresenta uma conexão muito frágil entre John e a vítima Teena, quando eles conversam rapidamente em um bar. Mais importante parece ser a revelação de que ela sai com vários homens depois que ficou viúva. Isso será usado contra ela nos tribunais. Então, John some de cena e acompanhamos Teena, que tem uma filha pré-adolescente, Bethie (Talitha Eliana Bateman), e uma mãe que é uma megera, vivida por Deborah Kara Unger. A alternância de protagonismo também coloca Bethie como personagem principal, após o crime acontecer e a mãe ficar inconsciente no hospital.
Em nenhum momento, a trama constrói as bases para a conexão de John com as vítimas. Ainda assim, encerra o filme com uma troca exacerbada de carinho entre os três, principalmente do policial com a menina, que soa totalmente deslocada. Aparentemente, os realizadores acreditam que o rápido close-up de John após o desenrolar do processo no tribunal seja suficiente para consolidar a epifania que engatilha suas ações de vingança. E, nestas, além disso, o justiceiro aniquila suas vítimas sem nem explicar o motivo pelo qual elas estão sendo mortas. O que, aliás, torna nulo seu desejo de vingança.
A direção
O diretor Johnny Martin é praticamente um desconhecido. Na época, dirigira um filme para a televisão em 2004 e um terror de baixo orçamento em 2014. Depois de Uma História de Vingança, faria um policial (com Al Pacino no elenco), um terror C, e um suspense (contando com Donald Sutherland). Mas nenhum deles merece atenção.
Aqui, dirige burocraticamente, com resultado mediano. Exceto por dois erros crassos na edição. Num deles, John está no tribunal como testemunha. Quando lhe perguntam sobre o que ele viu na cena do crime, o filme apresenta um flashback. Porém, não o vemos falando, portanto, não sabemos se ele efetivamente expressou verbalmente o que presenciou. Em outro ponto, estranha vermos John passar na frente da casa de Bethie, ver que o gato da família foi assassinado e pendurado por uma corda, e não parar. Depois, vemos Bethie telefonando para ele. Com isso, fica evidente que a montagem está errada, pois o policial vê o gato, na verdade, depois desse telefonema.
Enfim, o resultado é abaixo da média. Na ânsia de trabalhar compulsivamente, Nicolas Cage estrela aqui um filme desconexo, que nunca engaja e ainda passa uma mensagem perigosa.
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Ficha técnica:
Uma História de Vingança | Vengeance: A Love Story | 2017 | 99 min | EUA | Direção: Johnny Martin | Roteiro: John Mankiewicz | Elenco: Nicolas Cage, Anna Hutchison, Talitha Eliana Bateman, Deborah Kara Unger, Don Johnson, Joshua Mikel, Rocco Nugent, Joe Ochterbeck, Carter Burch.