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30 grandes filmes do catálogo da FILMICCA

Homem escolhendo um filme numa locadora de vídeo.

Inicia-se aqui uma nova série de matérias que irá orientar o leitor do Leitura Fílmica no mar de plataformas de streaming disponíveis no Brasil. A cada quinzena (ou mês), elencarei os melhores (ou os filmes que me parecem melhores atualmente) de uma determinada plataforma.

Começaremos com a FILMICCA, especializada em filmes europeus, orientais, independentes e outros quitutes que geralmente são ignorados pelas plataformas mais conhecidas. O catálogo dessa plataforma, como o da Reserva Imovision ou o do Belas Artes à La Carte, está entre os mais animadores.

Ainda falta muito para uma variedade maior de filmes disponíveis em streaming, e muitos diretores ou diretoras não têm filmes representados em plataforma alguma. Esperamos que essas ausências sejam sanadas no futuro. Mas as plataformas destacadas parecem estar menos longe de um catálogo ideal possível.

Para tornar mais divertida a coisa, pensei numa ordem de preferência. Mas é necessário dizer que todos os filmes elencados aqui são essenciais para qualquer formação cinéfila, e o último colocado de cada lista pode ser o primeiro de alguém.

Alguns filmes não coloquei porque precisaria rever, outros ainda estou por descobrir (principalmente os mais recentes). A FILMICCA tem, por exemplo, uma série de filmes húngaros e tchecos das décadas de 1960, 70 e 80, bem-conceituados, que vi há muito tempo, o suficiente para me sentir inseguro de incluí-los na lista. Coloquei alguns que revi há poucos anos da Mészaros, mas sinto que o internauta pode arriscar alguns outros, não só do diretor mais conhecido, o húngaro Istvan Zsabo, mas também os dos tchecos Karel Kachyna ou Juraj Herz. São diretores com filmes fortes, que podem agradar o cinéfilo mais curioso e merecem uma (re)descoberta. Além deles, diretoras já representadas na lista têm outros filmes fortes que não couberam nos 30, principalmente Mészaros, Akerman e Ottinger, e o filme mais famoso de Chytilová, As Pequenas Margaridas.

Uma dica é que não perderá muito quem arriscar também algum filme menos conhecido dessas décadas. Uma obra como A Bela Garota (1969), por exemplo, tem imenso interesse e uma direção sensível de Arúnas Zebriúnas. Se falhou em estar nesta lista é porque a qualidade dos 30 escolhidos é alta.

A quantidade de bons filmes da FILMICCA supera em muito os 30 escolhidos. Mas se quiserem um lugar para começar a desfrutar a plataforma, estas são minhas recomendações.

Dicas de 30 grandes filmes disponíveis na FILMICCA

01. A Palavra (Ordet, 1955), de Carl Th. Dreyer

A plataforma escolheu bem. Os quatro melhores filmes de Dreyer são justamente os que estão no catálogo. Ficou faltando apenas o quinto, A Paixão de Joana D’Arc (1929). Vale dizer que a escolha era relativamente fácil, e que A Palavra é um dos melhores filmes de todos os tempos. (leia a crítica)

02. Crônica de Anna Magdalena Bach (Chronik  der Anna Magdalena Bach, 1968), de Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet

Um dos filmes mais impressionantes na questão da composição. Straub e Huillet praticamente reinventam o reenquadramento constante.

03. O Espírito da Colmeia (El Espíritu de la Colmena, 1973), de Victor Erice

A estreia em longas de um grande diretor bissexto, para ser visto em uma sessão dupla ideal com o mais recente Cerrar los Ojos. (leia a crítica)

04. Os Encontros de Anna (Les Rendez-vous d’Anna, 1978), de Chantal Akerman

O melhor filme de Akerman. Somos tocados pelo vai e vem de Anna.

05. Gertrud (1964), de Carl Th. Dreyer

Dreyer continuava fazendo sua mágica até o último filme.

06. Para Sempre Uma Mulher (Chibusa yo eien Nare, 1955), de Kinuyo Tanaka

Melhor dos seis filmes da atriz que provocou ciúme no grande Mizoguchi quando resolveu ser diretora. Ciúme por ter sido “abandonado” e por ver que ela se tornou uma grande diretora.

07. O Vampiro (Vampyr, 1932), de Carl Th. Dreyer

Primeira obra-prima de Dreyer e uma aula de composição soturna e poesia fantástica.

08. M – O Vampiro de Dusseldorf (M, 1931), de Fritz Lang

Nada de vampiro, mas um grande filme sobre crime e linchamento por um dos maiores diretores de todos os tempos. (leia a crítica)

09. O Sul (El Sur, 1983), de Victor Erice

Segundo longa de Erice, segunda obra-prima. Que aproveitamento invejável! (leia a crítica)

10. Gente da Sicília (Sicilia, 1999), de Jean-Marie Straub e Danielle Huillet

Uma pérola para encerrarmos o século 20 com o cinema em alta. Straub e Huillet continuavam realizando um cinema sui generis.

11. Notícias de Casa (News From Home, 1976), de Chantal Akerman

Filme poema documental. Aula de como descobrir uma cidade e revelar conteúdo de cartas pessoais.

12. Fruto do Paraíso (Ovoce Stromu Rajských Jime, 1970), de Vera Chytilová

O grande filme de Chytilová, de uma fase em que os filmes checos precisavam ser meio cifrados para driblar o regime autoritário.

13. Othon (1970), de Jean-Marie Straub e Danielle Huillet

Straub e Huillet cristalizam um estilo inigualável e inimitável, que será seguido anos a fio.

14. Dias de Ira (Dias Irae, 1943), de Carl Th. Dreyer

A invenção do black metal, quase 40 anos antes do Venom.

15. Do Leste (D’Est, 1993), de Chantal Akerman

Quando menos se esperava, Akerman se reinventa e realiza outra obra gigante.

16. Gritos e Sussurros (Viskningar och Rop, 1972), de Ingmar Bergman

A doença, a dor, o sangue. Um dos filmes mais duros dirigido por alguém que entendia de dureza e de dor.

17. Marketa Lazarová (1967), de Frantisek Vlácil

Cinema tcheco típico da Primavera de Praga. O inverno estava à espreita.

18. Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), de Chantal Akerman

O primeiro lugar da lista da Sight & Sound é a meu ver o quarto melhor filme da diretora. Mas isso diz mais da qualidade de seu cinema do que da lista em si. (leia a crítica)

19. O Funeral das Rosas (Bara no Soretsu, 1969), de Toshio Matsumoto

Admiro com certa distância o trabalho desses diretores que despontaram depois de Oshima, Imamura e Suzuki, embora os tenha visto com interesse num período de minha vida (2008-2012). Este é sem dúvida um dos melhores filmes dessa turma. (leia a crítica)

20. Laços (Holdudvar, 1969), de Márta Mészáros

Segundo e melhor longa de Mészaros, embora sua fase 1968-1980 seja toda especial.

21. Algo Diferente (O Necem Jiném, 1963), de Vera Chytilová

Rivette amava este longa de estreia em que Chytilová conseguia unir dois filmes em um só. As Pequenas Margaridas, o próximo longa da diretora, não coube entre os 30, mas é outro filme que vale ver. (leia a crítica)

22. Certo Agora, Errado Antes (Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da, 2015), de Hong Sang-soo

Um dos mais instigantes entre os filmes recentes do diretor.

23. La Sapienza (2014), de Eugène Green

Provavelmente o último grande filme de Green. Teria ele se perdido com os meandros do digital? (leia a crítica)

24. Cría Cuervos (1976), de Carlos Saura

Com a morte de Franco, as crianças herdam uma nova Espanha. Belíssimo filme de Saura. (leia a crítica)

25. Yaaba (1989), de Idrissa Ouédraogo

Um dos principais filmes da explosão do cinema das Áfricas no final dos anos 1980.

26. A Festa e os Convidados (O Slavnosti  a Hostech, 1966), de Jan Nemec

O mais próximo que o cinema tcheco chegou de Buñuel?

27. Retrato de uma Bêbada (Bildnis einer Trinkerin, 1979), de Ulrike Ottinger

O cinema de Ottinger precisa ser mais bem conhecido. Este é um belo convite para começar a desbravar essa ótima diretora. Os outros filmes da chamada Trilogia de Berlin também valem a pena: Freak Orlando (1981) e Dorian Gray no Espelho dos Tablóides (1984).

28. Os Amores de uma Loira (Lásky Jedné Plavovlásky, 1965), de Milos Forman

Forman foi melhor nos EUA, mas este seu segundo longa é formidável.

29. A Garota (Eltávozott Nap, 1968), de Márta Mészáros

Após uma pancada de curtas nos anos 1960, a aguardada estreia em longa da grande Mészaros. Uma jovem reencontra sua mãe. Quanta distância entre elas!

30. Hienas (Hyènes, 1992), de Djibril Diop Mambéty

Claramente inferior a Touki Bouki (1973), mas ainda bem forte e cheio de ótimas ideias visuais.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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