“A Lenda de Tarzan”: Tarzan em forma de super-herói assexuado enfrentando efeitos de computação gráfica
Quando anunciaram o lançamento de “A Lenda de Tarzan”, era grande a expectativa de ver novamente esse personagem no cinema. Sabia-se que seria uma superprodução da Warner, com o diretor David Yates, experiente em grandes orçamentos. Afinal, ele tem em seu currículo quatro filmes da série Harry Potter, além de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, pronto para estrear em 17 de novembro de 2016.
O melhor de “A Lenda de Tarzan” é a opção de não contar novamente a origem do personagem criado por Edgar Rice Burroughs, que a maioria já conhece. No filme, ela é revista rapidamente, em flashbacks descontínuos. A história parte da situação pós resgate de Tarzan (Alexander Skarsgård), quando ele já vive civilizadamente em Londres, casado com Jane (Margot Robbie). Então, ele é convidado a voltar para o Congo pelo rei da Bélgica, que quer que ele veja como sua colônia está se desenvolvendo sob sua direção. O convite não é suficiente para convencer Tarzan, mas o estadunidense George Washington Williams (Samuel L. Jackson) o persuade a ir para investigar se a população de lá está sendo escravizada. Assim, os dois embarcam na jornada, levando também Jane, que deseja rever o lugar onde morou e os amigos locais.
Acontece que tudo é uma armação de Leon Rom (Christoph Waltz), capanga do rei belga, para entregar Tarzan a uma tribo que deseja vingança porque o homem-macaco matou o filho do chefe. Logo, o vilão assassina um amigo de Tarzan e leva Jane como refém, para que Tarzan os siga.
O que dá errado no filme
Essa interessante premissa, porém, não consegue vencer os erros de “A Lenda de Tarzan”. Na sequência inicial, quando Leon Rom e seu exército entram no território da tribo que deseja se vingar de Tarzan, o uso exagerado de computação gráfica e a tonalidade sépia das cores parecem copiar descaradamente “300” (2006). Aliás, os efeitos especiais sempre representaram o ponto fraco dos filmes de Tarzan. Na fase de Johnny Weissmuller, projeções de fundo e cenas aceleradas com bonecos tentavam tornar reais as interações com os animais selvagens. Nesse novo filme, como essa sequência inicial permite prever, computadores buscam esse feito, sem sucesso, criando gorilas que resultam menos verdadeiros que os dinossauros de Jurassic Park.
Pior ainda é a busca em tornar Tarzan um super-herói, combatendo um também super-vilão. Leon Rom não é um burocrata almofadinha, mas um cruel homem capaz de derrotar um guerreiro africano com facilidade. O super-Tarzan, por seu lado, arremessa para fora de um trem um soldado inimigo com um chute tão potente que arrebenta as paredes. E ainda quase voa pendurado em cipós, saltando de uma altura abismal para aterrissar em cima de um trem em movimento.
“A Lenda de Tarzan” deixa de lado aquela sensualidade pulsante de Johnny Weissmuller e Maureen O’Sullivan, vestindo roupas minúsculas e sempre trocando carícias. Não é por falta de beleza dos atores que interpretam o casal, pois Alexander Skarsgård e Margot Robbie facilmente poderiam ganhar a vida como modelos profissionais. Falta clima e, no caso de Jane, vestimentas mais provocantes. Skarsgård ainda pode provocar arrepios das mulheres, pois expõe seu corpo da cintura para cima em boa parte do filme. Porém, não é suficiente para deixar essa versão menos insípida. Na verdade, isso o aproxima ainda mais de um filme sobre super-heróis como “Os Vingadores” (2012).
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Ficha técnica:
A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan, 2016) 110 min. Dir: David Yates. Rot: Adam Cozad e Craig Brewer. Com Alexander Skarsgård, Margot Robbie, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Sidney Ralitsoele, Osy Ikhile, Mens-Sana Tamakloe, Antony Acheampong, Edward Apeagyei, Ashley Byam, Djimon Hounsou.